Wayne Ting contava os dias para uma decisão que poderia transformar a paisagem em Nova York. Na opinião do diretor de estratégia global da Lime, maior empresa de aluguel de patinetes elétricos dos Estados Unidos, a antes impensável ideia de povoar Manhattan com os veículos da companhia era mera “questão de tempo”.
Ele estava certo. Durante a madrugada do último domingo (16), legisladores estaduais e representantes de Nova York chegaram a um acordo que dá o primeiro passo na legalização para patinetes e bicicletas elétricos na cidade.
Representantes do departamento de trânsito de Nova York não quiserem se pronunciar e, procurado na manhã desta segunda (17) pela imprensa local, o governador Andrew Cuomo, democrata, ainda se mostrava pouco informado dos termos do acordo.
De todo modo, alguns detalhes da nova lei foram divulgados, como a proibição do uso dos patinetes nas calçadas e por menores de 18 anos.
A medida é um salto em relação à decisão de 2004, quando, diante do risco de acidentes, a cidade decidiu banir os equipamentos e estabelecer uma multa de US$ 500 (R$ 2.000) para quem os utilizasse.
“Correr a essa velocidade [23 km/h] seria perigoso para motoristas e para pedestres”, declarou à época o então prefeito Michael Bloomberg.
Desde então o serviço cresceu em popularidade no mundo (a Lime está presente em 20 países, incluindo Uruguai e Chile) e no restante dos EUA.
Do outro lado do rio Hudson, na pequena Hoboken, desde o início do mês já possível acelerar os patinetes sem perder o Empire State de vista.
Para além dos meandros jurídico-legislativos, porém, havia um abismo político entre as duas cidades vizinhas.
Se os nova-iorquinos outrora baniram os patinetes e estabeleceram sanções econômicas para quem ousasse desobedecer a lei, o prefeito democrata de Hoboken, Ravi Bhalla, adotou outro tom ao anunciar a novidade:
“Estamos honrados em sermos o primeiro município no estado de Nova Jersey a oferecer essa opção de transporte. Os patinetes não só facilitam a locomoção, como são uma alternativa não poluente”.
Tudo começou a mudar em abril último, quando a senadora estadual nova-iorquina Jessica Ramos, também democrata, apresentou um projeto de lei para que as cidades do estado possam decidir de maneira autônoma a respeito de transportes individuais elétricos.
Entretanto, a questão da segurança não foi abandonada e ainda aquece o debate.
Segundo levantamento da Associated Press, desde o início de 2018 houve 11 acidentes fatais com patinetes elétricos nos EUA, sendo 9 deles com equipamento alugado.
“Estamos iniciando uma campanha que se chama ‘viagem segura’. Já distribuímos mais de 250 mil capacetes aos nossos usuários. E outra que leva o nome de ‘primeira viagem’, com dicas para os usuários de como dirigir melhor e com mais cuidado”, disse o executivo da Lime.
“O problema é que estamos disputando espaço com os carros. Precisamos ter ciclovias protegidas nas cidades.”
Em São Paulo, a obrigatoriedade de capacete para pilotos de patinete provocou celeuma —por ora, vigora a decisão do Tribunal de Justiça que suspende o uso compulsório.
“O problema é que estamos disputando espaço com os carros. Precisamos ter ciclovias protegidas nas cidades.”
As conversas a respeito de como possibilitar aos moradores desta cidade a chance de terem mais uma opção de se locomover afora o trânsito descomunal e o metrô, de forma segura, serão inevitáveis.
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