Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Quatro meses após tragédia, força-tarefa ouve vítimas de lesões corporais em Brumadinho

Pessoas foram convocadas com base em registros do sistema da Polícia Civil

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Brumadinho (MG)

“Foi rápido demais. Escutei só o barulho. Eu fui até a casa da Paloma, mas cheguei lá e já tinha arrancado a casa. Tinha só lama no local”, conta Lucimar Ferreira da Cunha, 47, lembrando do dia 25 de janeiro de 2019.

Morador do Córrego do Feijão, na zona rural de Brumadinho, com o rompimento da barragem da Vale, ele perdeu o genro Robson, o neto Heitor e a filha mais nova, Pâmela, de 13 anos. A outra filha, Paloma, 23, foi resgatada da lama por voluntários, com ajuda de uma corda. 

“Para nós, acho que isso não vai ter fim. Até o último dia de vida nosso vai ser essa tristeza, nunca vai acabar. Porque foi uma irresponsabilidade da mineração que poderia ter sido evitada”, diz Lucimar.

Nesta sexta-feira (31), pai e filha estavam entre as cerca de 100 pessoas que foram ouvidas em um mutirão da Polícia Civil e do Ministério Público de Minas Gerais para documentar os casos de lesões corporais causadas pela tragédia. 

Em uma sala da Faculdade Asa, prédio que serviu como ponto de apoio após a tragédia, policiais civis e promotores ouviam cada uma das vítimas separadamente, sobre o que lembravam do dia do rompimento e antes dele. 

Em seguida, aquelas que tinham lesões a apresentar, passavam por exames com uma equipe de três médicos legistas. 

O tempo de quatro meses desde a tragédia, segundo o promotor William Garcia Pinto Coelho, foi importante para identificar as pessoas e adotar procedimentos que garantam que não sejam revitimizadas. O período também é importante para consolidação de algumas lesões. 

“O afastamento de funções habituais por mais de 90 dias, lesões permanentes, perda de funções de membros podem caracterizar lesões graves ou gravíssimas que têm repercussão criminal com pena maior”, explica o promotor. 

Edilson Ferreira, 48, trabalhava há cinco meses na mina Córrego do Feijão, quando houve o rompimento. Trabalhador terceirizado, ele fazia serviços gerais em gramados e canaletas das barragens do complexo. 

No dia 25 de janeiro, não teve tempo de almoçar e estava longe da barragem B1, quando viu a lama chegar a 10 metros de distância. Dois amigos ainda estão entre os 25 desaparecidos. Um deles, de 19 anos, Edilson diz que era como um filho para ele. 

“Você vê tudo bonitinho, em questão de poucas horas não tem mais nada. Essa dor vou carregar pro resto da minha vida. É uma coisa que não tem como falar ‘vou esquecer’”, diz ele. 

Sete dias depois do rompimento, ele foi chamado para voltar a trabalhar, mas conta que depois de tentar por uma semana e meia, não conseguiu. No final de fevereiro, acabou tendo um infarto. 

“Hoje eu não posso carregar peso, não posso correr, tenho falta de ar direto”, conta, segurando os laudos de psicólogo, cardiologista e os registros do hospital. 

A maior parte das pessoas ouvidas pelo mutirão foram convocadas pela Polícia Civil. Elas foram identificadas por um mapeamento no sistema de registros de órgãos públicos, entre registros de ocorrência e atendimentos realizados pelos órgãos. 

O uso do sistema foi para garantir fonte oficial e evitar manipulação de dados, segundo o delegado Eduardo Vieira Figueiredo. A convocação em mutirão também é uma forma célere de obter informações. 

“A investigação está atrelada com a informação. Todas as informações aqui estamos cruzando com aquilo que já temos para poder nortear as investigações que já estão avançadas”, explica ele. 

Hoje, Lucimar, a esposa e a filha Paloma estão vivendo na cidade de Brumadinho, em uma casa alugada pela Vale. A lama fez com que o local onde trabalhava e a sua casa fossem interditados. 

Ele questiona porque a Vale não fez no Córrego do Feijão o mesmo que está fazendo agora na situação da barragem em risco em Barão de Cocais. O rompimento em Brumadinho deixou 245 mortos, além dos 25 desaparecidos. 

“Eu quero ir para a roça, mas não pra lá. Lá, pra mim, acabou. É muita lembrança ruim. Eu não esperava perder minha filha da maneira que foi. Eu queria que ela me enterrasse”, diz ele. 

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