Sprinklers previnem incêndios como o do Museu Nacional, diz especialista

Diretor de proteção do Instituto Smithsonian, dos EUA, esteve no Rio para evento criado após tragédia

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Rio de Janeiro

Apesar de polêmico, por conta do estrago que a água pode fazer em peças raras, o sistema de sprinklers (chuveirinhos colocadas a cada três ou quatro metros) é a melhor forma de prevenir um incêndio de proporções monstruosas, como o que assolou o Museu Nacional em setembro de 2018, três meses após fazer 200 anos.

Essa é opinião de Michael Kilby, diretor associado de proteção contra incêndios do Instituto Smithsonian, de Washington, EUA. Estão sob sua supervisão 19 museus e centros de pesquisa do instituto, alguns em outros países, como Panamá e Chile.

Kilby foi um dos 18 palestrantes do seminário Patrimônio em Chamas: Quem É o Próximo, que aconteceu entre 26 e 28 de junho no Museu Histórico Nacional do Rio —não confundir com o Museu Nacional, cujo fogo que destruiu seus três andares e foi a razão de ser desse evento.

O seminário discutiu medidas de prevenção e gestão de risco de incêndio em museus em todo o mundo e trouxe, além de especialistas dos Estados Unidos e do Brasil, representantes de instituições da Inglaterra, Escócia, Suécia, França, Itália, Canadá e Chile.

“Em todo o mundo, manutenção e prevenção não costumam ser prioridades dos museus. É como se fizessem uma aposta de que nada vai acontecer de ruim. Foi trágico o que aconteceu no Rio, e nós vemos isso acontecendo todo ano. Alguns museus perdem tudo. Se há algo de positivo nisso é que faz as pessoas repensarem as prioridades.”

Kilby conta que o Smithsonian não tinha uma boa proteção quando uma galeria do Museu de História Americana pegou fogo em 1970. “Foi quando começamos o programa de prevenção. Mas mesmo agora, nós ainda lutamos para ter um sistema que abarque tudo. Dos 5 milhões de metros quadrados de todo o complexo do instituto, cerca de 90% tem sprinklers hoje.”

“É o mais efetivo sistema de combate a incêndios. Os sprinklers são ativados pela temperatura e conectados à água encanada. Também disparam o alarme, avisando as autoridades. De outro modo, quando você tem fogo, precisa esperar que ele seja detectado e os bombeiros, avisados. Depois, precisa aguardar que eles cheguem ao local e por aí vai.”

No caso carioca, quando os bombeiros chegaram, ainda se depararam com hidrantes sem pressão e tiveram que providenciar caminhões-pipa. No Smithsonian, conta o diretor, quando a temperatura próxima ao teto chega a 74ºC (165ºF), começa a chover automaticamente. “Não é como nos filmes, em que todos os sprinklers começam a funcionar ao mesmo tempo. Apenas os aparelhos ativados pela temperatura funcionam.”

Isso é especialmente importante, uma vez que a água pode fazer grandes estragos tanto em museus de artefatos históricos como num museu de arte, com suas pinturas. Essa é uma das razões pelas quais os sprinklers não são adotados mundialmente. Outras são o custo e as dificuldades de instalar o sistema em prédios históricos (muitos dos museus europeus funcionam em castelos).

“Nos Estados Unidos, os sprinklers são bem aceitos. Na Europa, trabalha-se muito com portas e paredes corta-fogo, orientação de equipes e legislação.”

Já em termos de ativação falsa, é raro, mas acontece, diz ele, lembrando que, em seus 31 anos de Smithsonian, cerca de 10 vezes um aparelho começou a funcionar sem querer. “Certo dia, tínhamos uma equipe filmando uma galeria e montaram uma luz fortíssima ao lado de um sprinkler. Pouco depois, ele disparou.”

No final das contas, segundo Kilby, a maior defesa para se usar sprinklers em museus é: “Uma vez queimado, está perdido. Mas poderia estar apenas molhado”.

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