O registro de temperaturas próximas ou abaixo de 0º C é o evento mais aguardado para uma cidade paulista que tira dinheiro do frio.
Em Campos do Jordão (181 km de SP), o assunto que sempre toma conta das conversas entre os moradores a cada inverno é um só: será que é dessa vez que a neve vai cair por aqui?
“O frio é o assunto nas ruas e quanto mais gelado for, mais turistas e dinheiro circulam em nossa economia”, diz o prefeito Frederico Guidoni (PSDB).
O clima, típico da serra da Mantiqueira, até promete, mas nunca entregou ali nenhum floquinho de neve.
Mas espalhou uma arquitetura europeia por ruas e avenidas que rendeu ao lugar o apelido de a “Suíça brasileira”, e atraiu gente endinheirada como o governador João Doria (PSDB), que mantém casa de veraneio por lá.
Não à toa, o município foi eleito o melhor destino de inverno no Brasil na pesquisa Datafolha deste ano.
A cidade vai passar neste final de semana pela primeira grande onda de frio. As temperaturas mais amenas serão as responsáveis por atrair uma leva de até 150 mil turistas –três vezes mais o número de moradores da cidade.
O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê mínimas de 2º C neste sábado (6) e 1º C no domingo (7). “A previsão é de que seja registrada até geada, mas de forma isolada”, diz a meteorologista Helena Turon, do Inmet.
Tanto frio tem uma explicação. Campos é a cidade mais alta do Brasil, segundo o IBGE. O município está a exatos 1.639,2 metros acima do nível do mar e, por isso, é mais sensível às correntes de vento que derrubam as temperaturas ao longo do ano.
Em nove dos 14 primeiros dias deste inverno, a cidade ocupou o primeiro lugar do ranking do Inmet como a mais gelada do estado de São Paulo.
No período, a menor mínima registrada foi de 5,8º C em 22 de junho. Essa mesma temperatura também foi considerada a terceira menor do país naquele dia.
Além da friaca, o município vai contar com a ajuda do calendário neste final de semana para lotar. Os paulistas terão pela frente um feriado prolongado –na terça-feira (9), comemora-se no estado a Revolução Constitucionalista de 1932.
Os turistas, a maioria casais com ou sem filhos, são atraídos pela boa gastronomia, pelo conforto nos hotéis e pelos passeios na cidade ou na zona rural.
Além da disputa acirrada por um lugar quentinho em mesas de bares e restaurantes com calefação, o turista é convidado a se exercitar numa atividade que voltou ao cotidiano dos jordanenses e tem tudo a ver com o inverno: patinar no gelo.
Uma pista, de 200 metros quadrados, foi erguida no coração de Campos, o parque Capivari. Inicialmente, ela seria ao ar livre, mas a incidência dos raios solares na região jogou o plano por terra.
O espaço comporta até 20 patinadores, funciona das 9h às 21h e custa entre R$ 50 (30 minutos) e R$ 80 (1h de uso). “A pista resgata o glamour que o parque tinha no passado, com famílias se exercitando e brincando ao mesmo tempo de forma sadia”, afirma José Roberto Scheller Júnior, diretor-geral do espaço.
O parque, antes sob o guarda-chuva da gestão Doria, foi concedido para a iniciativa privada neste ano. A empresa ECO Parques Brasil, do Grupo Cataratas, que administra as Cataratas do Iguaçu, no Paraná, vai gerir a área pelos próximos 30 anos.
No Capivari também voltou a funcionar neste inverno um pedalinho no lago (R$ 20). O local também é conhecido por abrigar um dos passeios turísticos mais procurados da cidade: o teleférico, um dos primeiros em funcionamento no Brasil.
O teleférico leva os passageiros do parque até o morro do Elefante, um lugar com ampla vista da cidade que rende boas selfies. O passeio custa R$ 25 por pessoa.
Na região do parque também encontra-se outro passeio muito disputado: a viagem de bonde. Ela leva os passageiros do bairro Capivari até o Portal de Campos. O percurso de 6,4 km é feito em 1h, e o custo de ida e volta é de R$ 16h. Há saídas diárias entre 11h e 17h, inclusive nos feriados.
Outro evento muito procurado nessa época do ano é o festival de inverno, um dos principais de música clássica do país. Na sua 50ª edição, a programação eclética tem nomes como os de renomados pianistas (Nelson Freire e Arnaldo Cohen) e de cantores populares como Fafá de Belém. A cantora paraense sobe ao palco às 16h30 deste sábado na praça do Capivari.
Na gastronomia, a pedida é procurar um dos 24 restaurantes com o selo Cozinha da Montanha. O grupo se empenha em usar na concepção de seus pratos, produtos típicos da região. Para além do fondue, as casas buscam inovar em refeições que levam de bacalhau a risoto vegano. Os pratos custam a partir de R$ 39.
“O pinhão que usamos é o colhido do chão. O azeite, a cachaça e as frutas vermelhas, como a framboesa, são todas produzidas na Mantiqueira. É o nosso maior diferencial”, diz Valéria Estefam, diretora da associação gastronômica.
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