Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Megaoperação prende milicianos suspeitos de abandonar corpos de rivais nas ruas do Rio

Suspeitos têm ligação com Orlando Curicica, miliciano citado no caso Marielle

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Rio de Janeiro e São Paulo | UOL

Cinco policiais militares, quatro ex-PMs e dois advogados estão entre os alvos de uma operação da Polícia Civil que prendeu nesta quinta (4) integrantes de uma milícia que atua em Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O objetivo era cumprir 74 mandados de prisão preventiva, além de fazer buscas e apreensões.

A ação terminou com 45 desses mandados cumpridos, sendo que 25 dos acusados já estavam presos. A operação, batizada de Salvator, contou com 340 agentes e foi realizada em conjunto com o Ministério Público estadual e a Corregedoria da Polícia Militar.

A milícia começou a atuar em Itaboraí entre o final de 2017 e começo de 2018, de acordo com a Promotoria. Nesse período, o grupo criminoso começou a cobrar "taxas de segurança" e a vender serviços ilegais de televisão por assinatura.

Segundo o delegado Gabriel Goiaba, a polícia investiga se o grupo efetuou cobranças até do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que teve as obras retomadas no ano passado. Serviços como o transporte de funcionários ao complexo seriam alvo da cobrança de taxas dos milicianos.

"A gente acredita que Curicica tenha vislumbrado implementar milícia aqui [em Itaboraí] por causa do Comperj. Isso pode ter despertado o interesse dele, pois, com maior número de moradores, haveria uma arrecadação maior [com as extorsões]", comentou. A arrecadação do grupo é estimada em R$ 500 mil por mês.

Mulheres que integravam a quadrilha eram responsáveis por tarefas como cobranças de moradores e lojistas. Algumas delas também ocupavam cargos de liderança no grupo.

AÇÃO APÓS O TRÁFICO

Segundo a Polícia Civil, o grupo passou a atuar na região após a expulsão de traficantes de drogas. O aumento no número de mortes na localidade chamou a atenção dos investigadores, que perceberam a expansão do grupo paramilitar por meio do assassinato de moradores e traficantes. Os investigadores apontam que a organização criminosa é responsável por "inúmeros casos de homicídios, torturas, extorsões, desaparecimento de pessoas e cemitérios clandestinos".

O promotor Rômulo Simões explicou que os corpos dos rivais eram abandonados nas ruas como forma de demonstrar poder. Posteriormente, para não chamar mais atenção da polícia, eles passaram a esconder os corpos em um cemitério clandestino.

"Eles mudaram a dinâmica de atuação. Passaram a não mais atacar e demonstrar poderio. Queriam dificultar as identificações [dos corpos], e a partir disso o número de homicídios passou a cair e a aumentar o de pessoas desaparecidas. Aí observamos que havia um cemitério clandestino. Eles matavam rivais para dominar o território. Quem não se enquadrava nas normas era torturado; moradores chegaram a ser expulsos de casa", complementou Simões. O delegado, por sua vez, diz acreditar que mais de 50 corpos ainda estejam no local.

Entre os presos estão os autores da chacina que deixou dez mortos no dia 20 de janeiro na cidade. De acordo com o promotor, foi depois de uma prisão em flagrante e da apreensão de um celular que foi possível identificar integrantes a quadrilha. Ele destacou a brutalidade com que o grupo agia.

"Teve um integrante morto em abril deste ano que foi fuzilado por traficantes. Eles identificaram um mototaxista que passou informações para o tráfico sobre esse miliciano e o capturaram. Além de espancada a vítima foi torturada. Há detalhes de membros arrancados, com imagens feitas pelo celular, inclusive."

Os 93 mandados de busca e apreensão expedidos são para ter acesso a aparelhos eletrônicos e anotações dos integrantes da milícia. A Justiça também autorizou a quebra de sigilo de dados dos alvos, além do bloqueio de contas bancárias.

"Enquanto todos os seus integrantes não forem retirados de circulação, suas atividades permanecerão a pleno vapor", diz o Ministério Público ao justificar o pedido pela operação desta quinta. "Com a prisão dos milicianos e, inclusive, das lideranças, acredita-se que a organização será desmantelada", comenta a Promotoria.

GRUPO TEM RELAÇÃO COM ORLANDO CURICICA

De acordo com as investigações da Promotoria, o grupo miliciano foi constituído e implementado, inicialmente, como espécie de "franquia do grupo criminoso de Curicica", com atuação na capital fluminense e liderada por Orlando Curicica.

O líder fornecia armamento e "soldados" para a milícia local que era comandada por "Renatinho Problema", que retribuía os serviços com repasse de percentual dos valores arrecadados em Itaboraí com as práticas criminosas.

Curicica foi preso em outubro de 2017 por promover confrontos contra grupos rivais que disputavam pontos de caça-níqueis em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, além de estar envolvido em várias mortes na região por disputa de território. Na ocasião, ele tinha quatro mandados de prisão pendentes.

O miliciano chegou a ser apontado por uma testemunha como um dos mandantes da morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Mas essa testemunha, o PM Rodrigo Jorge Ferreira, hoje preso, depois admitiu à Polícia Federal que mentiu para se vingar de Curicica, que havia tomado dele uma central clandestina de TV a cabo.

A entrada da PF no caso Marielle aconteceu justamente depois que Orlando acusou a Polícia Civil do Rio de coagi-lo a assumir a morte da vereadora e de ser paga para proteger matadores de aluguel. Ele havia dito que policiais da Delegacia de Homicídios recebiam mesadas para não elucidar assassinatos cometidos por esse grupo, o que a unidade nega.

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