Os amigos não lembram se foi em 97 ou 98, mas em um desses invernos frios em Porto Alegre, o jornalista Cléber Costa criou um evento com bandas universitárias, pedindo doações de agasalhos e alimentos.
O cartaz trazia a foto de uma pessoa em situação de rua, coberta por folhas de jornal e uma frase dizendo que “tem certas coisas que um jornal não deveria cobrir”.
Após participar por anos do movimento de estudantes secundaristas de Porto Alegre (Umespa), Cléber escolheu o jornalismo como profissão no vestibular. Um tempo depois, começou o curso de ciências sociais.
“Ele escolheu essas duas carreiras porque ele sempre foi um inconformado, mas de um inconformismo que era um motor para ele agir para mudar o mundo”, lembra a ex-namorada Ilana Trombka.
Cléber nasceu e cresceu no centro histórico de Porto Alegre. Havia cerca de oito anos que dividia uma casa com Milton, seu irmão mais novo.
Na noite de quinta-feira, 4 de julho, Milton o esperava para jantar, no Morro da Glória. No dia seguinte, recebeu a notícia da morte do irmão.
Cléber foi encontrado caído no chão, na rua Duque de Caxias, perto de um dos cartões-postais de Porto Alegre, o viaduto da Borges de Medeiros, por volta das 23h. Nos jornais, circulou a notícia de que ele era morador de rua e havia morrido pelo frio.
A causa, diz o irmão, foi um ataque cardíaco. Cléber estava com três blusas e um casaco. Liderados pelo jornalista Sílvio Ribeiro, amigos se uniram para pagar os custos do enterro.
Cléber estava a cinco dias de completar 51 anos, mesma idade que o pai e a mãe tinham quando morreram.
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