Descrição de chapéu Obituário Rogério Daflon (1964 - 2019)

Mortes: Para jornalista, 'quem planeja a viagem não viaja'

Rogerio Daflon foi atropelado por motociclista que fugiu sem prestar socorro

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Jornalista Rogério Daflon, na redação do Jornal do Brasil
Jornalista Rogério Daflon, na redação do Jornal do Brasil - Reprodução/Facebook
Rio de Janeiro

Certa vez, distraído que era, Rogério Daflon saiu do pátio do jornal O Globo, onde trabalhava, com um carro que não era seu e saiu para jantar. Só se deu conta quando deixou o restaurante.

Os traços delicados e a fala mansa do jornalista adocicavam uma rigidez de valores, um humor cáustico e uma forte crítica social.

Segundo a irmã Alice, ele "tinha muita honestidade intelectual e tinha valores e princípios muito claros dos quais não abria mão”. "No jornalismo, sempre se pautou por essas diretrizes e não se dobrou nunca. Era um excelente pai, um filho amoroso, um irmão amigo. Sei que ele era muito querido”, diz ela.

Seu vasto currículo inclui os jornais O Globo, O Dia e Jornal do Brasil e as revistas Placar, IstoÉ e Veja Rio, bem como a TVE e a Agência Pública. 

Praticante de tênis e ciclista nas horas vagas, Daflon iniciou sua carreira na área de esportes, migrando, a pedido, para a cobertura de política e cotidiano.

Botafoguense, escreveu dois livros que unem esporte e sociedade: "Geografia social do esporte", com Felipe Awi, e "Heroísmo sem limites", com João Máximo. Ele também é autor do livro
"Bons Ventos, sobre a trajetória da família Schmidt Grael."

Especializado em planejamento urbano e regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele venceu a 1ª edição do Prêmio ISWA, em Florença, com uma série sobre a gestão de resíduos no Rio de Janeiro.

Maria Lúcia Daflon, irmã um ano mais velha, diz que ele “era uma enciclopédia de MPB”. Foi um dos idealizadores do bloco carnavalesco Imprensa que eu Gamo, sendo dele a ideia do primeiro enredo: MSS, Movimento dos Sem Sexo.

No último dia 7, às 21h40, Daflon foi atropelado por um motociclista na rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras, zona sul do Rio. O atropelador fugiu sem prestar socorro. Levado ao hospital Miguel Couto com afundamento no crânio, Daflon foi submetido a uma cirurgia na perna para reconstituição da tíbia, fraturada em três partes.

Na noite de domingo (14), uma semana depois do acidente, porém, ele teve morte cerebral por traumatismo crânio-encefálico. 

O coração de Daflon parou nesta manhã, às 8h40. Ele tinha 55 anos. Seus órgãos serão doados a pedido da mãe, Lia Ignez, 90.

Além de Dona Lia, o jornalista deixa dois filhos —Beatriz, 20, e Filipe, 15—, seis irmãos, 15 sobrinhos e dezenas de amigos. O velório está previsto para esta quarta-feira (17).

Daflon morreu sem concretizar o sonho, dividido com o amigo e jornalista Paulo Júlio Clement (morto no acidente da Chapecoense) de criar um programa de rádio dedicado a música e esporte.

Em uma de nossas últimas conversas, sobre a insignificância de nossas vidas, Daflon me escreveu: “PJ dizia uma frase que ainda não mereceu atenção. Quem planeja a viagem não viaja”.

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