Samu atendeu 22% menos um mês após mudança de bases em SP

Médicos reclamam de maior distância percorrida; prefeitura diz que demanda caiu

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São Paulo

As equipes do Samu atenderem menos chamadas após a reestruturação do setor feita pela gestão do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em fevereiro. 

A queda no número de atendimentos foi registrada em abril, cerca de um mês depois do fechamento de bases e a consequente realocação das equipes em outros endereços. 

Segundo dados obtidos pela Folha e confirmados pela Secretaria de Saúde, houve redução de 22% nas chamadas atendidas pelas equipes do Samu ao longo de abril na comparação com o mesmo mês de 2018, quando foram feitos 15,5 mil atendimentos. 

Neste ano, foram 12,1 mil no mês em questão —o menor número de atendimentos registrado ao longo dos 12 meses anteriores a abril de 2019. 

A Secretaria de Saúde afirmou que houve diminuição de 8% nas chamadas recebidas pelo Samu em abril. Mas não apontou motivos para a redução de atendimentos ter chegado a 22%.

A pasta afirmou que o processo de descentralização ainda está em construção e, por isso, a queda de chamadas atendidas não pode ser atribuída às recentes mudanças no setor. Os resultados, diz a secretaria, só poderão ser analisados nos próximos meses. 

A reestruturação visou economizar recursos e agilizar o atendimento como resultado da ampliação do número de bases, segundo a administração. Médicos do Samu ouvidos pela reportagem sob a condição de não terem os nomes revelados, porém, descrevem um cenário distinto. 

O principal motivo apontado pelos profissionais para explicar a queda nos atendimentos é a maior distância percorrida pelas equipes até os endereços dos chamados. 

Antes, as equipes ficavam distribuídas em 58 bases que funcionavam dentro de contêineres localizados em pontos estratégicos da cidade, perto de áreas com maior incidência de acidentes de trânsito, por exemplo. 

Essas estruturas foram desmontadas, e as equipes foram distribuídas por 75 pontos de apoio, localizados dentro de  postos de saúde, AMAs, hospitais e centros de atendimento psicossocial. 

Com a mudança, a base da Barra Funda, por exemplo, passou a funcionar a 13 km dali, dentro da Cidade Universitária, no Butantã —o que demanda minutos a mais das equipes para deixarem o campus da USP rumo aos endereços das ocorrências. 

Como consequência, a região central passou a ser atendida por apenas uma equipe completa, com médico, enfermeiro e condutor.

Além disso, os funcionários contam que têm perdido mais tempo nas ocorrências devido à dissolução das equipes que faziam o trabalho administrativo dos atendimentos. 

Antes da reestruturação, segundo médicos, havia uma equipe em cada região responsável por procedimentos como repor as macas que ficam retidas nos hospitais quando um paciente é deixado por uma ambulância do Samu. Assim, as demais equipes médicas podiam seguir para outros atendimentos sem ter que esperar a liberação da maca. 

Com a dissolução dessas equipes administrativas, cada ambulância só pode partir para um novo atendimento quando o paciente anterior for liberado ou internado nos hospitais e disponibiliza a maca de volta.

Às vezes, a liberação leva horas, tempo em que a equipe fica ociosa. 

A área reservada às ambulâncias na Santa Casa, por exemplo, chega a ficar congestionada com veículos que aguardam a liberação das suas respectivas macas. A demora, nesses casos, se deve à superlotação dos hospitais públicos que aumenta significativamente o tempo de atendimento mesmo na emergência. 

Os gargalos criados pela reestruturação se somam a problemas antigos enfrentados pelas equipes do Samu, como falta de segurança em locais com alto índice de crimes. 

No último fim de semana, uma equipe foi assaltada ao atender um chamado por socorro no bairro da Brasilândia, na zona norte.

De acordo com funcionários, os criminosos ligaram para a central de emergência e relataram um caso de extrema gravidade que foi logo priorizado pelo setor de regulação. 

Ao chegar no endereço, médico, enfermeiro e motorista foram rendidos e tiveram carteiras e aparelhos celulares roubados. 

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