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São Paulo ganha nova hora do rush com aumento de viagens ao meio-dia

Pesquisa Origem e Destino mostra a força de deslocamentos de pedestres na região metropolitana

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Pedestres atravessam a rua Xavier de Toledo, no centro de São Paulo; deslocamentos ao meio-dia disparam na cidade Eduardo Knapp/Folhapress

Pedestres atravessam a rua Xavier de Toledo, no centro de São Paulo; deslocamentos ao meio-dia disparam na cidade  Folhapress

São Paulo

O supervisor de telemarketing Wender Luciano, 38, sempre trabalhou de manhã, mas em seu emprego atual, entra às 13h. Por isso, ele parte de metrô do centro de São Paulo até o trabalho ao meio-dia. 

Enquanto isso, a 35 km dali, Nena Santos, 50, sai de casa a pé para levar a neta, de 7 anos, à escola, em Suzano. No mesmo instante, o atuário Henrique Ichiba, 30, deixa o escritório onde trabalha, na marginal Pinheiros, para almoçar. 

Com deslocamentos como esses, ruas, calçadas e transporte público da Grande São Paulo são cada vez mais inundados diariamente por volta do meio-dia com milhões de viagens. 

Novos dados da pesquisa OD (Origem e Destino do Metrô), divulgada nesta quarta (3) mostram esse cenário com mais clareza. Feita a cada dez anos pelo Metrô paulista, a mais nova pesquisa OD entrevistou 156 mil pessoas na Grande SP entre 2017 e 2018 para entender como elas se locomovem pela metrópole, seja de carro, a pé, de trem etc. 

A pesquisa, que é a maior do ramo no país, também analisa outras características das viagens, como motivação, duração, e renda e gênero de quem a faz.

 

A partir dos dados da OD 2017, foi possível perceber dois fenômenos. O primeiro é que a parte mais numerosa das pessoas inicia viagens das 12h às 13h, diferente do quadro há dez anos. É um contingente de 5,2 milhões, maior até do aqueles que iniciam suas viagens às 6h e às 18h (os tradicionais horários de pico em São Paulo).

Mas só essa informação não é capaz de explicar a lotação das vias e das conduções por São Paulo. Por isso, a Folha analisou os tempos de deslocamento das viagens. 

Assim, foi possível perceber que o pico da manhã, às 7h, continua acumulando o maior volume de pessoas nas ruas. São 6,9 milhões viajando ao mesmo tempo (mais do que toda a população do Paraguai). Grande parte dessas viagens começou horas antes, cumprindo longas distâncias e ocupando por mais tempo as vias e o transporte público.

Tradicionalmente, o período das 18h ocupava o segundo posto como horário de maior movimento. Mas agora —e esse é o segundo fenômeno— a medalha de prata do rush ficou com o horário do meio-dia. O acumulado de pessoas circulando ao meio-dia é de 6,2 milhões, contra 6,1 milhões do horário de pico das 18h.

Em relação a 2007 (ano da pesquisa anterior), o início de novas viagens ao meio-dia cresceu de 23% para 32%. Pela primeira vez, o Metrô passou a perguntar a seus entrevistados sobre deslocamentos para fazer refeições, o que causa a imprecisão.

Mas não é só de refeições que o pico do meio-dia é feito. O principal deslocamento nesse horário é de pessoas que estão retornando para suas casas (seja vindos de escolas ou do trabalho). Em segundo lugar estão aqueles que vão estudar e depois os que estão indo trabalhar. Essa sequência é diferente do padrão verificado no dia inteiro, quando as viagens a trabalho são mais numerosas do que as de educação.

Outra característica do pico do meio-dia é o aumento da proporção de viagens de pedestres. Durante todo o dia, eles fazem 31,8% dos deslocamentos. Já nas viagens iniciadas ao meio-dia, os pedestres são 52%. 
“Ao meio-dia, todo mundo vira pedestre. Quem foi de carro para o trabalho caminha até o banco na hora do almoço; o estudante que foi de metrô para a faculdade faz uma caminhada até o restaurante”, explica a consultora em mobilidade Meli Malatesta.

Na região da avenida Luis Carlos Berrini, zona oeste, que concentra escritórios, as viagens iniciadas ao meio-dia beiram os 92%. “A calçada fica pequena”, observa a Cristiane Dias, 19, que vende doces em uma barraca numa esquina da Berrini. “Às vezes tem até congestionamento de gente.”

Andar pelo bairro no horário do almoço não é das tarefas mais fáceis. As ruas e faixas de pedestres são tomadas por funcionários de escritórios que andam em grupos de até dez pessoas.

Restaurantes colocam mesas sobre as calçadas. E, além desses obstáculos, o pedestre vai também ter de desviar de postes e buracos. Há trechos em que não há um metro disponível de calçada para passar. 
O resultado é uma inundação de passageiros sobre o asfalto, onde as pessoas disputam espaço com os veículos. 

Meli Malatesta defende que a predominância de pedestres nas ruas da Grande São Paulo, sobretudo na hora do almoço, exige que prefeituras foquem essa parcela do trânsito. 

“Se o poder público realmente achar que a cidade é para as pessoas, deverá priorizar o pedestre, principalmente nessa hora”, analisa. 

Para ela, ao meio-dia os semáforos de pedestres deveriam ter o tempo de travessia estendido, e o espaço para esse fluxo específico deveria ser ampliado.

Outra revelação da nova edição da OD 2017 foi que o tempo médio de deslocamento do paulistano caiu 14% nos últimos dez anos (variando de 39 para 34 minutos). A queda entre os transportes coletivos foi um pouco menor (10%), passando de 67 para 60 minutos.

Apesar da queda do tempo de viagem, a parcela mais rica da sociedade segue sendo a que leva menos tempo para se deslocar, seja no transporte individual ou no coletivo. Numa escala de cinco faixas de renda, os mais ricos gastam 22% menos tempo em trânsito do que quem está na segunda faixa mais pobre.

Cresce parcela dos que não têm endereço de trabalho

Allan Ferreira, 29, é promotor de vendas e vê seu escritório mudar de paisagem todos os dias. “Não tenho local fixo. Um dia estou na zona norte, outro na zona sul. Cada dia pego um metrô diferente”, brinca.

A pesquisa Origem e Destino do Metrô flagrou o forte crescimento de pessoas que, assim como Ferreira, não vão todos os dias trabalhar em um mesmo endereço.

Em 2007, 4,1% dos empregos na Grande SP tinham essa característica. Dez anos depois, essa proporção triplicou e já é de 12,5%. Metade desses trabalhadores é da segunda camada mais pobre da sociedade, com renda familiar entre R$ 1.908 a R$ 3.816.

Os bairros da República, Granja Julieta, Pinheiros e Tamboré (Barueri) são os destinos mais comuns desses trabalhadores. As cidades de Santo André estão nessa lista também. 

O local com a maior parte de trabalhadores nessa condição é o Jardim Zaíra, populoso bairro da cidade de Mauá. Os municípios de Itapecerica da Serra e Mauá são os seguintes na lista.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que afirmava o texto, Tamboré é um bairro de Barueri (SP). O texto foi corrigido.
 

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