Após Marsha, mais dois ursos resgatados são trazidos a SP

Vítimas de abandono, maus-tratos e calor do Nordeste, Dimas e Kátia vão viver em santuário paulista

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Rio de Janeiro

Após o resgate de Marsha/Rowena, a ursa mais triste do mundo, em setembro do ano passado, agora é vez de dois de seus conterrâneos. Os ursos siberianos Kátia e Dimas estão sendo trazidos de Canindé (120 km de Fortaleza), no Ceará, para o santuário ecológico Rancho dos Gnomos, que fica em Joanópolis, no interior paulista (120 km de São Paulo).

Resgate dos ursos Kátia e Dimas do zoológico de Canindé (CE)
Resgate dos ursos Kátia e Dimas do zoológico de Canindé (CE) - Biga Pessoa/Divulgação

Kátia já viajou na madrugada de quinta, e Dimas deve viajar na noite de quinta ou madrugada de sexta. Eles vêm separados porque as regras da Latam Cargo, empresa que ofereceu gratuitamente o transporte dos animais, não permitem que dois bichos de grande porte viajem juntos na área de carga da aeronave.

Na manhã desta sexta (30), dois guinchos da Porto Seguro, que também ofereceu seus serviços de graça, levarão as jaulas para o santuário. Lá, um recinto gramado de 1.900 m2, construído pelo Instituto Luísa Mell, receberá os viajantes no sábado, após um dia de descanso na jaula.

O local é todo gramado e tem uma piscina com 80 mil litros de água e uma linda cascata, grutas, um deck, troncos e árvores frutíferas. A exemplo do que havia acontecido com Marsha, o casal foi rebatizado, “para que nunca mais ouçam os nomes que são ligados à época de sofrimento”, explica Silvia Pompeu, que, com seu marido Marcos, gere o Rancho dos Gnomos.

Assim, Kátia agora se chama Mizar, estrela brilhante da constelação de Ursa Maior, e Dimas, Verrú, que significa força da superação. Infelizmente, Rowena morreu há pouco mais de um mês no rancho, após sofrer uma convulsão causada por um tumor grave no ovário, que ocasionou problemas em seu cerebelo. Ela passou dez meses ali, após ser resgatada de Teresina, no Piauí, onde sofria com o calor e com as condições do zoológico local.

Já o zoológico de Canindé apresentava boas condições, segundo Carla Spechoto Mariano, da equipe de cinco veterinárias, além de uma bióloga, que o Rancho dos Gnomos levou para o Ceará. “Os animais não estão maltratados e não estão em condições ruins de alimentação. O que incomodava mais era o calor”, afirmou.

“Foi um momento muito bonito quando levamos a Kátia. Os funcionários choravam de alegria, por saber que os ursos terão uma vida melhor, e de tristeza, por terem se apegado a eles por tantos anos”, disse a veterinária.

O zoológico de Canindé, gerido por frades do Santuário de São Francisco das Chagas, esteve em meio a uma polêmica este ano, que contou com xingamentos e ameaças de internautas ativistas. Uma decisão judicial, entretanto, apontou pela remoção dos ursos.

Uma visita de Marcos e Silvia Pompeu aos frades há 15 dias, quando explicaram a proposta do Rancho dos Gnomos, esfriou os ânimos exaltados. “Estamos localizados em meio à Serra da Mantiqueira, com temperaturas amenas, mais propícias para os ursos. Eles sempre foram bem tratados em Canindé, porém as altas temperaturas, que chegam a 40°C, não os beneficiava. Há quase 30 anos, resgatamos mais de 20.000 animais, e essa operação foi uma das mais desafiadoras”, disse o casal.

Dimas foi abandonado pelos donos de um circo em uma estrada e levado para Canindé cego de um olho, sem dentes e sem garras em 2008. Katia chegou em 2011, vinda também de um circo, onde vivia com mais três ursos. Um deles era Marsha/Rowena que, acredita-se, era sua irmã.

Em 1996, quando estava em treinamento no circo Vostok, Kátia se assustou com um leão, escapou do picadeiro por uma fenda na lona e tentou voltar à sua jaula. Como a encontrou fechada, acabou na avenida Radial Leste, onde circulou por 15 minutos até ser resgatada pelo treinador Vladimir Figurov.

Nesse meio-tempo, o motorista de uma Elba se assustou com a ursa andando em sua frente e acabou batendo em uma Belina. Após andarem de patinete, skate, bicicleta e até moto para divertir humanos, Kátia e Dimas, ou melhor Mizar e Verrú, agora tem uma casa mais tranquila e menos quente para passar os tempos mais felizes de suas vidas.

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