Gestão Covas planeja reformas dos calçadões de centro histórico e Mercadão em SP

Ideia de projeto é recuperar potencial turístico das regiões centrais da cidade

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São Paulo

Na rua Boa Vista, no centro histórico de SP, dividem a calçada apertada num dia útil qualquer ambulantes, engravatados, turistas e entradas e saídas de carros.

O taxista Carlos Borelli, 54, olha a movimentação com saudosismo. “Essa região é bonita demais, mas precisava ser mais bem cuidada. Há 40 anos trabalhava aqui como office boy, era chique. O pessoal conhecia como ‘rua dos bancos’. É cartão-postal da cidade, mas está abandonada.”

Essa e outras partes históricas da cidade devem ser reformadas pela Prefeitura de São Paulo, com dinheiro do município e do governo federal, para recuperar a região e fortalecer seu potencial turístico. 

As reformas são abrangentes (vão de ampliação de calçadas a renovação da iluminação, passando por plantio de árvores, entre outras) e acontecerão em três etapas: primeiro, no centro histórico (região da Praça da Sé); depois, em um trecho chamado Centro Novo (calçadões próximos da praça da República); por fim, no entorno do Mercado Municipal.

A rua Boa Vista liga o largo de São Bento ao Pátio do Colégio, dois dos locais mais antigos da capital paulista, com mais de quatro séculos. Junto das ruas Líbero Badaró e Benjamin Constant, formam uma região conhecida como Triângulo Histórico, onde a cidade surgiu.

O Triângulo é o ponto de partida dessas reformas. A ideia é reconstruir 68 mil m² de calçadões, substituindo as pedras portuguesas. O custo estimado é de R$ 54 milhões, pagos pela iniciativa privada e pelo Fundurb, fundo da prefeitura exclusivo para projetos urbanos. A previsão é a de concluir as obras no Triângulo até o final de 2020.

Adriele Pereira, 20, trabalha em uma ótica no centro histórico há três meses. “Nem daqui eu gostava de vir. É complicado, à noite é pior. Não pode nem olhar as horas no celular, que vem um atrás e puxa.”

A prefeitura tem feito esforços para colocar essa região no roteiro turístico da cidade. Colocou faixas com os dizeres “Triângulo SP” por essas ruas e, no último dia 17, promoveu um cortejo que percorreu esse trajeto, acompanhado de músicos da escola de samba da Vai-Vai, do Teatro Oficina e do grupo afro Ilu Inã. Criou também o programa Cultura no Centro, que reúne atrações culturais de quinta-feira a domingo na região.

O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre, afirma que as intervenções procuram fazer do centro “um local mais aberto”. “O Triângulo será um experimento, um esforço de começar esse movimento. Se der certo ali, se todo mundo perceber que gerou um resultado, sob ponto de vista de atividade econômica, contamina o resto.”

Ele ressalta, porém, que antes de começar as obras vai apresentar os projetos aos comerciantes da região.

A segunda etapa será reformar os calçadões da República (como av. Ipiranga, r. Sete de Abril, r. Conselheiro Crispiniano e av. São João). As obras devem começar no segundo semestre de 2020 e custarão R$ 33,6 milhões (R$ 28 milhões do Ministério do Turismo e o restante do Fundurb). Essa é outra região vista com bons olhos pelo seu potencial turístico.

Por fim, após os dois projetos terem sido concluídos, a prefeitura quer reformar também o entorno do Mercado Municipal.

O secretário municipal de Turismo, Orlando Faria, diz que as intervenções acontecerão não apenas em termos de infraestrutura mas também de logística.

“Na região do Triângulo colocamos a Guarda Civil Metropolitana 24 horas, trocamos a iluminação e mudamos o horário da coleta de lixo para mais cedo, a partir das 15h. Isso resultou na queda dos índices de criminalidade na região desde o ano passado e na redução da impressão de sujeira que havia na área. Agora o caminhão de lixo passa em um horário que faz com que o comércio passe boa parte do dia sem lixo, e não somente à noite”, diz Faria.

Segundo relatório de 2003 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), citado pela prefeitura, ocorrem 5.400 quedas em calçadões da cidade por ano, o que gera um gasto estimado em R$ 30 milhões anualmente com procedimentos médicos relacionados.

A prefeitura identifica as pedras portuguesas como causas importantes desses acidentes. Os desníveis gerados pelo desprendimento de pedras e a dificuldade de manutenção dessas calçadas (elas demandam mão de obra especializada de calceteiros) ajudam a explicar a recorrência de acidentes nessas áreas.

As novas calçadas serão feitas de concreto moldado “in loco”, que é lançado diretamente no local de aplicação e pode ser preparado previamente em uma usina ou na área em obras, com auxílio de uma betoneira. É um piso com melhor nivelamento; mais acessível, principalmente para cadeirantes; e com mais resistência à passagem de veículos.

O centro ganhou prioridade na gestão Bruno Covas (PSDB), que tentará se reeleger prefeito no ano que vem. A prefeitura faz uma grande reforma também no Vale do Anhangabaú, ao custo de R$ 80 milhões, com enterramento da rede de energia e de telecomunicações e troca do piso.

Serão instalados ainda 850 pontos com jatos d’água no chão para refrescar os pedestres. O projeto prevê 1.500 lugares para sentar, além de bebedouros, sanitários, quiosques de comércio e floriculturas. A prefeitura vai plantar 125 novas árvores e instalar mais de 350 pontos de iluminação.

A prefeitura também planeja reformas no largo do Arouche e a criação do parque Augusta e do parque Minhocão.

"São as três grandes áreas de circulação e de comércio popular [Triângulo Histórico, Centro Novo e Mercadão]. Perguntam: ‘vai gastar dinheiro no centro?’ Tem 2 milhões de pessoas circulando diariamente por aqui. São números estratosféricos o que a gente pode ganhar, dando sentido urbanístico, tributário, fiscal para trazer atividade e, principalmente, habitação", afirma Chucre.

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