Homem que mandou matar irmã Dorothy é investigado por vender proteção policial

Vitalmiro Bastos de Souza, o Bida, está preso e atuaria em conluio com tenente-coronel da PM

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Yan Boechat
São Paulo

O Ministério Público do Pará está investigando o comandante regional da Polícia Militar em Altamira, tenente-coronel Sílvio Rogério Franco de Araújo, por manter um suposto esquema de cobrança de proteção a empresários paraenses em parceria com o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Souza.

Conhecido como Bida, ele é um dos mandantes do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, em 2005. Condenado a 30 anos de prisão, hoje cumpre pena em regime semiaberto.

De acordo com informações que integram um Procedimento Investigatório Criminal instalado pela Promotoria da Justiça Militar do MPE, o comandante regional da PM paraense exigia que empresários e lojistas fizessem pagamentos semanais para que soldados da Polícia Militar reforçassem o policiamento na região de suas empresas.

A intermediação entre os empresários e o comandante do Comando de Policiamento Regional 8, responsável por toda a região do Xingu e com sede em Altamira, ficaria a cargo de Bida.

Em troca de mensagens com um dos seus subordinados à qual o MPE do Pará teve acesso, o tenente-coronel Sílvio Araújo cobra os pagamentos semanais e diz que se não houver o acerto prometido pelos empresários irá retirar das ruas os policiais que fazem o patrulhamento ostensivo.

De acordo com o interlocutor das conversas, parte dos empresários pede para que o valor cobrado seja reduzido. “Os índices de furtos e roubos diminuíram e eles estão se esquecendo disso”, afirma o comandante da PM em Altamira.

Ainda nas mesmas mensagens, o tenente-coronel diz que tratou do assunto pessoalmente com os empresários na presença de Bida e que o não pagamento das propinas irá acarretar a redução do policiamento nas áreas comerciais e bancárias da cidade.

“Enquanto não acertarem não iremos reforçar o policiamento do local. Cobre da tropa a ronda nos locais acertados e veja ai o rastro das vtrs (viaturas, no jargão policial)”.

O comandante regional da Polícia Militar em Altamira cobrava até de seus subordinados que tinham negócios na região. Em uma troca de mensagens com seus subordinados ele informa que mesmo o comandante da PM na cidade de Porto Moz, na região de Altamira, também precisa fazer o pagamento de propina para manter seus negócios em segurança.

“O comandante de Moz (Porto Moz, de acordo com o MPE do Pará) também tem as casas de jogos, não se esqueça de cobrar”, diz ele.

Procurada pela Folha, a Secretaria de Segurança Pública do Pará informou, por meio de nota, que está contribuindo para as investigações do Ministério Público Militar sobre as acusações contra o tenente-coronel Silvio Rogério Franco de Araújo. Ainda de acordo com a secretaria, medidas preliminares e cautelares já tomadas, além da apreensão de “alguns” materiais que estão sendo analisados e periciados.

A Procuradoria de Justiça Militar do Ministério Público do Pará informou que não pode se manifestar sobre o caso por conta de as investigações estarem sob sigilo. A Folha não conseguiu contato comVitalmiro Bastos de Souza.

Altamira registrou a maior chacina de presos na história brasileira desde o Massacre do Carandiru na rebelião da semana passada, quando 62 presidiários foram mortos.

O massacre do último dia 29 no Centro de Recuperação Regional de Altamira foi mais um capítulo da guerra que o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) travam em todo o país, às vezes por meio de facções aliadas, pelo controle das rotas de cocaína vinda dos países andinos e pelos pontos de venda da droga nas principais capitais brasileiras.

Apesar de afirmar ter sido pega de surpresa pelo confronto, a cúpula da Segurança Pública do Pará sabia há pelo menos um mês que o Comando Vermelho, que domina a Grande Belém, planejava investir em regiões controladas pelo PCC e sua facção associada no Pará, a Comando Classe A (CAA).

O suposto esquema de cobrança de proteção organizado pelo comandante regional da PM em Altamira não é exatamente uma novidade no Pará se realmente confirmado. O estado vê ano a ano o avanço de grupos milicianos compostos por policiais militares e outros agentes de segurança pública operando em diferentes áreas criminais.

Além da tradicional cobrança de proteção, as milícias paraenses atuam no comércio de bens e serviços, além de atuarem diretamente no tráfico de drogas local. Em nenhum outro estado do País, com exceção do Rio de Janeiro, as milícias são tão bem estruturadas quanto no Pará.

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