Justiça revoga prisão domiciliar de Abdelmassih após revelação de livro de detento

Obra de um dos presos dizia que o ex-médico havia fraudado seus exames clínicos

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São Paulo

A Justiça de São Paulo revogou nesta terça-feira (13) a prisão domiciliar de Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos de prisão por 48 estupros de 37 mulheres quando era médico. Com a sentença, Abdelmassih deve ser levado ao Hospital Penitenciário de São Paulo.

Antes de ter conseguido sua prisão domiciliar em 2017,  Abdelmassih esteve preso em Tremembé, no interior de São Paulo. 

O pedido do Ministério Público foi motivado pelo livro escrito por Acir Filló, outro detento de Tremembé que durante o cumprimento de sua pena contou os bastidores do presídio no título "Diário de Tremembé - o presídio dos famosos".

O livro dizia em um de seus capítulos que o médico Roger Abdelmassih havia participado de uma trama para fraudar seus resultados clínicos com o objetivo de conseguir sua prisão domiciliar.

Pelo relato, o médico gastroenterologista Carlos Sussumu Hasegawa, que também está preso em Tremembé, confessou ter administrado a Roger remédios que aumentariam sua pressão arterial. O objetivo era fraudar exames médicos para indicar que Roger estava mais debilitado do que realmente estava.

Por isso, a promotoria quer que ele fique 30 dias no hospital de custódia, em ambiente controlado, onde será acompanhado por médicos, que irão administrar regularmente as medicações para o seu alegado problema de saúde. Depois desse um mês, será feito um novo laudo pericial.

"Quando ficamos sabendo que o próprio Roger pode ter cessado os medicamentos, surgiu dúvidas em relação ao cumprimento da pena. A ideia é fazer um laudo sem que ele possa interferir, bular", afirmou o promotor do caso Marcelo Orlando Mendes nesta quarta-feira (14).

Caso fique comprovado que ele realmente fraudou o próprio estado de saúde, Roger pode voltar a Tremembé. Também responderá por fraude processual —com pena de detenção de três meses a dois anos.

Carlos Sussumu também pode responder por fraude. Já o perito que havia atestado a condição clínica de Roger pode ter incorrido em falsa perícia.

"Inicialmente acreditamos que o perito agiu de boa-fé, mas foi induzido ao erro. Se for comprovado que ele teve participação, responderá por falsa perícia", afirmou o promotor Orlando Mendes. A pena é de reclusão de dois a quatro anos.

Nesta mesma terça-feira (13), a Justiça paulista transferiu Acir Filló.  

Em Tremembé também estão presos Alexandre Nardoni (condenado por matar a filha), Guilherme Longo (suspeito de matar o enteado Joaquim, em 2013), Lindemberg Alves (condenado pelo assassinato da namorada Eloá, em 2008), Cristian Cravinhos (condenado pela morte dos pais de Suzane Richthofen, em 2002) e Mizael Bispo de Souza (condenado pela morte de Mércia Nakashima, em 2010).

A transferência de Filló é vista como uma punição pelo livro feito.

Folha buscou a defesa de Abdelmassih que não quis se pronunciar.  

 
Os detentos Alexandre Nardoni, Cristian Cravinhos, Gil Rugai, Lindenberg Alves, Mizael Bispo de Souza e Guilherme Longo, em Tremembé
Os detentos Alexandre Nardoni, Cristian Cravinhos, Gil Rugai, Lindenberg Alves, Mizael Bispo de Souza e Guilherme Longo, em Tremembé - Arquivo pessoal

ENTENDA O CASO ABDELMASSIH 

Abdelmassih ficou conhecido como "médico das estrelas" e chegou a ser considerado um dos principais especialistas em reprodução assistida do país, antes de ser acusado por dezenas de pacientes por abuso sexual.

O primeiro caso foi denunciado ao Ministério Público em abril de 2008, por uma ex-funcionária do ex-médico, como foi revelado pela Folha. Depois, outras pacientes, com idades entre 30 e 40 anos, disseram ter sido molestadas quando estavam na clínica.

As mulheres afirmam que foram surpreendidas por investidas do ex-médico quando estavam sozinhas -sem o marido e sem enfermeira presente -os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação. Três dizem ter sido molestadas após sedação.

Em 2010, o ex-médico foi condenado em primeira instância a 278 anos de prisão pela série de estupros de pacientes. A pena acabou reduzida para 181 anos em 2014 por causa da prescrição de alguns crimes.

Abdelmassih ficou foragido por três anos antes de ser preso e chegou a liderar a lista de procurados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. Ele foi localizado em agosto de 2014, em Assunção, no Paraguai, de onde foi deportado.

O Cremesp (Conselho Regional de Medicina de SP) iniciou um processo contra o médico em 2009, logo após as denúncias, e a cassação definitiva do registro profissional saiu em maio de 2011.

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