Número de pessoas mortas por PMs em serviço cresce 11,5% em SP

No primeiro semestre, o número de policiais militares mortos caiu 42%

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São Paulo

O número de pessoas mortas por policiais militares em serviço no estado de São Paulo cresceu 11,5% no primeiro semestre deste ano, comparado com o mesmo período no ano passado. Já o número de agentes mortos, trabalhando ou de folga, caiu 42%. 

Foram 358 mortes em decorrência de ações da PM, sob gestão de João Doria (PSDB), entre janeiro e junho de 2019 — no ano passado foram 321. Outras 56 morreram após supostamente resistirem à abordagem de policiais de folga este ano. Na soma, os agentes mataram uma pessoa a cada 10 horas no estado.

O número de mortos por PMs em serviço no semestre é o maior desde 2003, quando houve 399 casos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.

O aumento foi inflado pela ação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), no dia 4 de abril, em Guararema (Grande SP). Os agentes mataram 11 suspeitos após um roubo a banco. Nenhum policial se feriu e nenhum dinheiro foi levado pela quadrilha.

A ação foi elogiada pelo governador Doria à época. O tucano condecorou os PMs envolvidos no Palácio dos Bandeirantes e disse que os responsáveis pelas mortes "cumpriram sua missão".

"Ao reagir e colocar em risco a vida dos policiais, quem vai para o cemitério é bandido", afirmou Doria.

Durante a campanha eleitoral, Doria chegou a dizer que “a Polícia Militar no Brasil tinha que matar mais”. Depois amenizou o discurso afirmando que “se ele [o bandido] reagir armado aos policiais, a orientação é que ele seja abatido”.

Governador João Doria (PSDB) homenageia policiais em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes nesta terça-feira (9)
Governador João Doria (PSDB) homenageia policiais no Palácio dos Bandeirantes - Divulgação/Governo de São Paulo

Quem entrou para a estatística foi Rafael Aparecido de Souza, 23, morto após ser baleado no peito pelo soldado da PM Charles Henrique Godoi Pereira, na zona leste da capital paulista. Sem antecedentes criminais, o jovem estava em frente à sua casa após um churrasco com os primos.

De acordo com testemunhas, o rapaz estava vendo de longe a PM abordar seu irmão. Quando o procedimento terminou, o jovem teria chamado o irmão para voltar para a casa. O agente teria dito que quem mandava lá era ele e atirou contra Rafael.

Na versão do policial, o jovem teria tentado tirar a pistola de um dos agentes, que puxou sua mão e disparou. A família contrapõe. "Como é que um disparo acidental atinge o peito de alguém a 50 metros de distância?", questionou logo após o crime a prima da vítima, que teve a identidade preservada.

O caso do serralheiro Rian Rogério dos Santos, 18, também entra na conta. Segundo uma testemunha não identificada, ele seguia com sua moto quando um soldado da PM o golpeou, na região da cabeça, com um cassetete. Como a vítima estava em movimento, perdeu o controle da motocicleta e caiu, batendo a cabeça sobre uma mureta, em Carapicuíba, na Grande SP. 

Após a queda, pessoas que estavam no local pediram para que os policiais socorressem o jovem. No entanto, os PMs teriam afirmado que “não deviam satisfações a ninguém”. Em seguida, segundo o registro policial, ambos entraram na viatura e saíram “cantando pneus”. O rapaz morreu por traumatismo crânio-encefálico e os agentes foram afastados por omissão de socorro.

Rian não tinha antecedentes criminais e frequentava a igreja Congregação Cristã, na qual tocava violino.

Entre os agentes, 14 foram mortos nos primeiros seis meses deste ano, enquanto em 2018 foram 24 PMs, ainda de acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública.

O número de pessoas mortas pela Polícia Civil caiu 33% em 2019 em comparação com o mesmo período de 2018. Foram 18 pessoas mortas no ano passado e 12 entre janeiro e junho.

O número de policiais civis mortos também caiu 50% no período. No primeiro semestre de 2018, quatro foram mortos, enquanto dois morreram no primeiro semestre de 2019.

Este ano, São Paulo registrou queda no número de casos de latrocínios, roubos, estupros e homicídios, em comparação com o mesmo período de 2018.

O estado termina os seis meses com o menor número de casos e vítimas de homicídios dolosos e latrocínios registrados para o período na série histórica, sempre segundo a pasta.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública, sob gestão de Doria, afirmou que defende a investigação rigorosa de todas as ocorrências e trabalha para reduzir as mortes em decorrência de intervenção policial.

"Todo caso é acompanhado, monitorado e analisado para constatar se a ação policial foi realmente legítima", disse, em nota.

A pasta também afirma que os agentes prenderam 118.422 pessoas no período e que o policiamento tem sido intensificado no estado, por meio das megaoperações São Paulo Mais Seguro, Rodovia Mais Segura e Interior Mais Seguro.

De acordo com a secretaria, "a opção pelo confronto é sempre do criminoso. A maior parte acontece nos casos em que policiais atuam para impedir roubos, onde os criminosos estão armados, subjugando e colocando a vida de pessoas em risco", afirmou.

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