Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Rio de Janeiro tem ao menos três jovens mortos em 4 dias

No mínimo outras oito pessoas morreram e seis ficaram feridas em operações policiais

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Rio de Janeiro

Os últimos dias foram sangrentos para o estado do Rio de Janeiro. Ao menos três jovens foram mortos por disparos de armas de fogo entre sexta-feira (9) e segunda (12). Houve ainda no mínimo outras oito pessoas mortas e seis feridas, incluindo dois policiais, em operações até esta terça (13).

Os casos dos adolescentes Dyogo Costa, 16, Gabriel Pereira Alves, 18, e Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, 20, geraram comoção e protestos nas comunidades onde eles moravam, com queima de ônibus, bloqueio de ruas e até fechamento de comércios.

Dyogo foi atingido nesta segunda, na comunidade da Grota, em Niterói (região metropolitana do Rio), logo após sair de casa a caminho do treino de futebol, segundo a família. A Polícia Militar realizava uma operação na favela.

Ele foi socorrido e levado ao hospital pelo próprio avô, que é motorista de ônibus e dirigia pelo local quando viu o neto no chão. "Uma criança que eu peguei no colo quando nasceu e peguei no colo quando morreu", disse Cristóvão Brito chorando à TV Globo. Segundo ele, uma bala de fuzil o acertou na cintura, pelas costas.

"Quando eu cheguei perto do corpo, o policial falou 'para, para'. Eu falei 'para o que, rapaz', porque reconheci que era meu neto. Ele tava com a barriga para baixo. Eu falei 'porra, você matou meu neto, cara. Meu neto ia para o Rio treinar'. E ele falou 'seu neto é traficante'", contou.

O avô afirma que o garoto tinha dentro da mochila uma chuteira, R$ 85, e uma sandália de dedo, que sumiram. Apelidado de Dondon, Dyogo treinava na categoria sub-17 do América, apesar de ainda não ser jogador federado, e tinha o sonho de se profissionalizar. "Menino sonhador" era a descrição em seu perfil no Instagram.

A PM diz que equipes fizeram uma operação naquela manhã na região e só souberam da morte do adolescente depois. Mais um homem não identificado, que segundo a polícia portava um fuzil, foi baleado e socorrido.

A corporação afirma que abriu um inquérito policial militar para apurar o caso, que também está sendo investigado pela Polícia Civil. "Familiares foram ouvidos e policiais militares também estão sendo chamados para prestar depoimento", informaram.

O caso de Gabriel

Já a morte de Gabriel ocorreu por volta das 6h30 da última sexta, dia do aniversário de seu pai. O jovem esperava para ir à aula no ponto de ônibus próximo ao Morro do Borel, na Tijuca (zona norte do Rio), quando foi baleado no peito.

“A gente desceu como de costume. Escutamos alguns tiros quando já estávamos lá embaixo. Buscamos um lugar mais seguro e quando os tiros pararam fomos para o ponto. Aí a gente escutou só mais um. Ele botou a mão no peito e falou 'que isso, me acertou', e logo depois já foi caindo no chão", contou um colega ao jornal O Dia.

Gabriel também tinha o sonho de ser jogador de futebol. Era do time sub-20 e adulto de futsal do Olaria, terminaria o ensino médio neste ano e queria cursar educação física. Foi morto enquanto ia para um curso técnico de administração.

A Polícia Militar diz que uma das bases da UPP Borel, num local conhecido como Chácara do Céu, foi atacada e que os policiais não revidaram. Também nega que houvesse uma operação em curso naquele momento, como afirmam os moradores. A Polícia Civil diz que está investigando e que testemunhas estão sendo ouvidas.

O caso de Henrico

O terceiro caso recente é o de Henrico, também baleado na segunda, na comunidade Terra Nova, em Magé (a 60 km da capital fluminense). Moradores chegaram a atear fogo em pneus e jogar pedras na sede da prefeitura, e comércios no centro da cidade fecharam nesta terça (13).

Na versão da PM, agentes foram atacados quando faziam o policiamento da região e, no confronto, o jovem foi atingido e socorrido, mas não resistiu. Ele estaria com um revólver, um rádio e uma mochila com 249 pinos de cocaína, 103 trouxinhas de maconha e um caderno de anotações do tráfico.

A família do jovem, porém, nega que ele tivesse ligação com a venda de drogas e diz que ele estava no local para buscar uma motocicleta no mecânico. Segundo os parentes, ele trabalhava como estoquista de um supermercado de Magé, após terminar a escola.

A Polícia Civil disse que também está apurando esse caso e que os policiais foram ouvidos da divisão de homicídios da região da Baixada Fluminense.

Outras mortes

Além dos três jovens, ao menos outras oito pessoas morreram e seis ficaram feridas em operações policiais no RJ nos últimos cinco dias, incluindo o suposto suspeito morto em Niterói na mesma ocasião em que o adolescente Dyogo foi baleado.

Seis dessas mortes aconteceram em Angra dos Reis, durante uma operação da Polícia Militar no bairro Parque Belém, na madrugada desta segunda. A corporação diz que agentes foram recebidos a tiros por cerca de 20 homens armados quando entraram em uma casa onde traficantes se reuniam. Um sétimo homem ficou ferido.

No dia anterior, um morador foi atingido dentro de um supermercado e um policial foi baleado na mão quando outra equipe foi a uma festa onde traficantes também se encontrariam. Um homem apontado como chefe do tráfico de drogas na região foi preso com um fuzil, carregadores e munições.

A última dessas oito mortes ocorreu nesta terça, na comunidade do Jacarezinho (zona norte do Rio). A favela amanheceu com um forte tiroteio após uma operação da Polícia Civil para verificar informações de inteligência em uma região onde traficantes costumam se esconder para atacar policiais, segundo a corporação. 

A polícia diz novamente que os criminosos atacaram e, no confronto, um homem não resistiu. Moradores compartilharam nas redes sociais vídeos de um helicóptero sobrevoando a comunidade, acusando os agentes de fazer disparos do alto

Acabaram feridos um policial de raspão, o idoso Jair Vieira, que foi baleado no braço num mercadinho e passa bem, e Jean Peixoto Felix, 23, atingido no pescoço e em estado grave, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

O número de óbitos por policiais vem subindo há cinco anos no RJ e bateu novo recorde neste primeiro semestre: 881, contra 769 nos seis primeiros meses do ano passado, uma alta de 15%. No mesmo período de 2019, sete policiais militares morreram em serviço.

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