Atrasado, Projeto Tietê prevê 85% de esgoto tratado até 2025

Em 2013, meta era entregar obras no ano passado; Sabesp diz que crise hídrica adiou planos

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São Paulo

Um dia após o anúncio do aumento da mancha de poluição no rio Tietê, a Sabesp apresentou novas metas do atrasado Projeto Tietê, que pretende despoluir o principal rio de São Paulo.

Pelas novas metas, a Grande São Paulo deve ter 92% do seu esgoto coletado e 85% de tratamento até 2025. Hoje, São Paulo tem 87% de coleta e 68% de tratamento de esgoto. 

Trecho do rio Tietê, na altura do Cebolão, em São Paulo. Após 3 anos de melhora, trecho poluído aumentou 34%, com 163 km de Mogi das Cruzes a Cabreúva
Trecho do rio Tietê, na altura do Cebolão, em São Paulo. Após 3 anos de melhora, trecho poluído aumentou 34%, com 163 km de Mogi das Cruzes a Cabreúva - Rubens Cavallari/Folhapress

Iniciado em 1992, o Projeto Tietê já consumiu quase US$ 3 bilhões. A promessa chegou a ser despoluir o rio até 2005. O prazo foi considerado inviável e foi atrasado diversas vezes. 

Em 2013, antes da crise hídrica que assolou os reservatórios de São Paulo, a expectativa era de entregar a terceira fase do projeto até 2016— de um total de quatro. Hoje, a meta é entregá-la até 2021. Segundo a Sabesp, esse atraso se deveu à necessidade de investimentos em obras para captação e distribuição de água durante a crise. 

Nessa etapa, com 72% dos trabalhos prontos, foram feitas obras como a ampliação da estação de tratamento de esgoto de Barueri, a maior do país.

A quarta etapa do projeto, que já está em execução, deve ser entregue até 2025 (em 2013, a meta era entregar até 2018). Entre as obras está um supertúnel sob a marginal Tietê, que deverá receber esgoto de grande parte do centro de São Paulo. 

Outra meta desta etapa é coletar praticamente todo o esgoto entre Suzano e a barragem da Penha, em São Paulo. A região fica no trecho inicial do Tietê, após sua nascente em Salesópolis. Segundo a ONG SOS Mata Atlântica, a poluição do rio nesses locais compromete a qualidade da água em toda a região metropolitana. 

 
Para isso, além de lidar com o próprio atraso, a Sabesp corre para assumir os contratos com municípios com índices muito baixos de saneamento. 

É o caso, por exemplo, de Guarulhos, a segunda maior cidade paulista, que há anos tem o sistema de esgoto municipalizado e não consegue avançar no saneamento e tem grande parte de seu esgoto lançado no Tietê. Até hoje ainda é incerto o volume de esgoto tratado frente ao que é gerado na cidade (estima-se que seja cerca de 10%). 

"Não há problema em uma cidade ter o serviço de esgoto municipalizado. O problema é quando essa cidade não consegue dar conta do problema", observa Stela Goldenstein, coordenadora do 2030 Water Resources Group, vinculado ao Banco Mundial. 

Uma preocupação atual de técnicos da Sabesp é condição da infraestrutura de saneamento em Guarulhos. É possível que tenha que ser feita uma auditoria técnica para verificar o estágio das tubulações e outras instalações, antes de qualquer avanço local. Além de Guarulhos, a Sabesp mira também contratos com Mogi das Cruzes. 

Também está na quarta etapa do Projeto Tietê a universalização da bacia do rio Pinheiros, chamada pelo governador João Doria (PSDB) de Novo Pinheiros.

O objetivo no Pinheiros é investir o total de R$ 1,5 bilhão em 14 contratos, cada um deles em uma região diferente da bacia do rio, onde moram cerca de 3,3 milhões de pessoas. 

As empresas que atuarão nessas regiões terão metas de melhora da qualidade dos córregos e rios de onde atuam, num modelo de remuneração por performance.

Uma dificuldade desses contratos é levar canos de esgoto para áreas de ocupação irregular, onde não há espaço físico para atuar.

Nesta quinta-feira (19), técnicos da Sabesp vistoriavam uma obra no limite de São Paulo com Taboão da Serra. Operários construíam um túnel de 1,20 metro de diâmetro e que deve receber o esgoto daquela região e que hoje cai no córrego Pirajuçara, afluente mais poluído do Pinheiros. 

Ali, o ideal era construir dois túneis para receber esgoto, cada um ao longo das margens do córrego. Acontece que naquele trecho o Pirajuçara fica espremido por casas construídas em áreas irregulares. Como praticamente não há espaço para os túneis, a solução escolhida foi abrir um único túnel que faz um verdadeiro zigue-zague sob o córrego, ora recolhendo o esgoto de um lado e ora de outro do Pirajuçara. 

Há lugares em que nem isso é possível fazer e o acesso às obras é ainda mais difícil. A Sabesp estima que 3 milhões de pessoas em São Paulo morem em áreas irregulares como essas. 

"Temos vastas áreas informais em toda a Grande São Paulo. E é um fenômeno crescente com o empobrecimento da população. As soluções de saneamento que esses locais exigem não são simples, tradicionais", comenta Goldstein. 

Para ela, uma das soluções é a urbanização das favelas, abrindo espaço para estruturas de saneamento. "Isso exige uma articulação muito grande entre o Estado e as Prefeituras, mas que precisa ser feito", analisa.

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