Casos de dengue crescem 599% em oito meses e Ministério da Saúde lança nova campanha

SP vê número de casos saltar 37 vezes no período; zika e chikungunya também crescem no país

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São Paulo

O número de casos de dengue, zika e chikungunya, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, aumentou no Brasil neste ano. Ao todo, as três viroses causaram 650 mortes de 30 de dezembro de 2018 e 24 de agosto de 2019.

O maior aumento percentual foi registrado nos casos de dengue, um salto de 599,5% em relação ao mesmo período de 2018. Até 24 de agosto, eram 1.439.471 casos diagnosticados no Brasil —ou 690,4 casos por 100 mil habitantes—​ e 591 mortes. Em todo o ano de 2018 foram registrados 205.791 casos, segundo o Ministério da Saúde. 

Em São Paulo, estado com aumento mais agudo, o número de casos é 37 vezes maior do que no ano anterior, saltando de 11.475 para 437.047 casos. No Paraná, segundo nesse ranking, o salto foi de 36 vezes.

Até o momento, há 1.111 casos confirmados de dengue grave (quando há comprometimento de órgãos, choque e sangramento). Já os casos com sinais para alarme (quando, após a diminuição da febre, alguns sintomas como dores abdominais e vômitos persistem) somam 15.179. 

Além das mortes já confirmadas, outras 486 estão sendo investigadas. Os estados com mais mortos por dengue neste ano são Minas Gerais (117), Goiás (94), São Paulo (90) e Rio Grande do Norte (53)

O avanço da dengue no Brasil ocorre após dois anos de baixa da doença (2017 e 2018). Em maio deste ano, levantamento feito pelo Ministério da Saúde a pedido da Folha apontou que pelo menos 965 cidades do país tinham taxa de incidência acima de 300 casos por 100 mil habitantes. 

Uma das possíveis razões para o aumento expressivo de casos é a circulação de um subtipo do vírus da dengue que teve baixa predominância na última década, o subtipo 2. Segundo análise do ministério, 84% dos casos de dengue até abril de 2019 se deviam a ele

Ao todo, o vírus tem quatro subtipos (1, 2, 3 e 4) --o que significa que uma mesma pessoa pode ter dengue até quatro vezes. Nos últimos anos, predominou o subtipo 1, com presença do 4 em algumas regiões.

A última vez que o subtipo 2 circulou com mais intensidade foi em 2008. Mas, segundo o professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto Maurício Lacerda Nogueira, o vírus de tipo 2 que circula é de uma linhagem diferente daquela de 2008 —o que explica o surto maior agora, já que ninguém havia sido exposto a esse agente.

“Temos a introdução de um novo dengue 2 no Brasil. Toda vez que se tem essa substituição de linhagem há uma epidemia --a última grande epidemia do tipo no Brasil foi na virada do século”, afirma, referindo-se ao surto de 2001 e 2002.

O subtipo 2 do vírus, segundo o professor, tende a ser mais agressivo. 

O professor explica que o vírus que circula nas Américas hoje é conhecido como asiático-americano e que esse genótipo (composição genética) já é mais agressivo do que o de 20 anos atrás, chamado de Americano. 

A professora de educação infantil Hellen Marjorie Pereira, 32, está entre os brasileiros afetados pela doença neste ano. Em junho, em um dia frio, Pereira achou que estava ficando gripada, mas com o surgimento de dor nas costas e a experiência prévia ela suspeitou de que poderia estar com dengue outra vez e foi ao hospital.

Estava confirmado. Outros dois funcionários da escola em que ela trabalha, O CEI (Centro de Educação Infantil) Universo Infantil, que fica no Jardim Guarani, também tiveram dengue entre junho e julho. 

Pereira já havia contraído a doença em 2016, mas afirmo que os sintomas haviam sido mais brandos. “Agora foi muito pior, a dor era muito forte e minhas mãos e pés incharam. Da primeira vez não tive isso, só um pouco de coceira e vermelhidão na pele, mas dessa vez tive um inchaço e dor muito forte nas juntas”, conta. 

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que o pico da doença neste ano foi em abril, seguindo tendência histórica, e que os casos devem agora diminuir gradativamente. 

O total de casos neste ano se assemelha ao de 2016, quando o país registrou 1.483.623 de doentes no ano todo. Em 2017, foram 239.389 casos. 

O país enfrenta ainda aumento de outras doenças transmitidas pelo mesmo mosquito. Os casos de chikungunya avançaram 53%, chegando a 110.627 em 2019. Destes, 1.534 estão em Alagoas, estado que viu o número de afetados decuplicar.

os casos de zika cresceram 47% nos oito primeiros meses de 2019, comparados ao mesmo período de 2018, para 9.813. Duas pessoas morreram em decorrência da doença. 

Nesta quarta (11), o Ministério da Saúde lançou uma campanha informativa para combater o mosquito transmissor, antecipado em dois meses por causa do aumento de casos.

A transmissora dos vírus é a fêmea do mosquito Aedes aegypti , que necessita de sangue para que os ovos amadureçam. Seus ovos normalmente são depositados em paredes de objetos ou locais próximos à água parada —daí a necessidade de evitar o acúmulo. 

Para eliminar focos de reprodução do mosquito e, portanto, da doença, é recomendável lavar com escova e sabão pelo menos uma vez por semana os pratinhos de plantas em que não há areia e que tiveram acúmulo de água. Apenas jogar a água fora não é suficiente.

Além disso, não se deve deixar jarras, garrafas, potes e baldes com água destampados. Garrafas sem uso devem ser embaladas e guardadas de cabeça para baixo em locais cobertos. Caixas d’água precisam ser fechadas com tampa, e é imperativo não descartar lixo em locais onde não há coleta, como terrenos baldios. 

O plenário do Supremo Tribunal Federal validou nesta quarta (11) um trecho de uma lei de 2016 que autoriza, em casos de risco iminente à saúde pública, a dispersão de substâncias para controle do mosquito Aedes aegypti por meio aeronaves. A decisão, que prevê a adoção da medida apenas em caso de comprovação científica de sua eficácia e autorização prévia das autoridades sanitária e ambiental –como já está previsto na lei– havia sido alvo de uma ADI (ação direta de inconstitucionalidade) da PGR (Procuradoria-Geral da União), que indicava não haver comprovação da eficácia do método, podendo colocar em risco a saúde dos cidadãos. 

Votaram a favor do trecho os ministros Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Marco Aurélio. Em contrapartida, parcialmente alinhados com a PGR, votaram Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Um terceiro grupo, composto por Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Rosa Weber e o presidente da corte, Dias Toffoli, votou médio, ou seja, para eles, o trecho é constitucional contanto que a pulverização seja expressa e previamente autorizada pelos órgãos sanitários e ambientais competentes. 
 

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