Leitores registram trajetos urbanos em fotos selecionadas com a hashtag #ComoEuVou

Veja imagens sobre mobilidade e segurança no trânsito feitas por leitores

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São Paulo

A Folha propôs que leitores publicassem, no Instagram, com a hashtag #ComoEuVou, fotos sobre mobilidade e segurança no trânsito em seus trajetos. A ação, que teve apoio da CCR, resultou na seleção das fotos abaixo.

Quando viu a mão enrugada e para o alto de um idoso na linha amarela do metrô de São Paulo |5|, o jornalista David Fugazza, 38, tirou a foto e refletiu sobre a vida. "A gente busca sempre o sucesso, mas o que obtém é isso: uma mão enrugada partindo para a luta." 

Era uma sexta-feira de manhã e David ia da estação Jurubatuba, da linha esmeralda da CPTM, até a estação Marechal Deodoro, linha vermelha do Metrô. São 16 estações, duas trocas de trem, 45 minutos de viagem.

"Acho que as pessoas ficam muito na delas, ninguém interage com ninguém", diz. Esse pensamento ecoa a sua segunda foto selecionada: um vagão na linha azul do Metrô em que todas as pessoas olham para janelas e celulares.

O artista Ulysses Boscolo, 41, por outro lado, enxergou um gesto de carinho no seu caminho. "A menina não parava, berrava às vezes, até batia na mulher, mas ela fez um balanço com as pernas para distrair a criança", conta.

Ulysses costuma fotografar cenas da cidade que se transformam em exercícios de desenho e gravura. "Tento captar o instante, o movimento da cidade, o que tem inspirado bastante o meu trabalho."

A veterinária Hilda Pena, 55, tem três caminhos possíveis para voltar para casa, que ela define como "rotas de fuga". Sua foto selecionada foi tirada em uma dessas vias, na avenida Eliseu de Almeida, em direção a Taboão da Serra, onde mora. Ela é pesquisadora na USP.

"Visualmente, aquela imagem me pareceu uma situação caótica", afirmou. Ela já usou bicicleta para os trajetos, mas desistiu por achar perigoso.

As ciclovias ajudam, mas também podem ser um problema, segundo ela. "Ciclovias são bem legais, mas ainda acho inseguro e limitado. Em alguns lugares elas simplesmente acabam. O que a gente faz nesses casos? A cidade não foi planejada para elas."

A acessibilidade e a segurança nas cidades também foram lembradas por Carlos Queiroz, 39, professor de mobilidade urbana na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).

Ele tirou sua foto selecionada em Braga, Portugal. "Eu estava esperando a hora para pegar o ônibus. Percebi essa senhora que passava quase todos os dias no fim da tarde e me comoveu muito a força e lentidão com que caminhava".

Recentemente, a foto da idosa, tirada em 2017, foi lembrada por ele em sala de aula. "Uma pessoa com alguma dificuldade de locomoção não tem tempo de atravessar avenidas largas. Um aluno lembrou-se de um idoso que foi atropelado numa situação como essa", diz.

Segundo ele, a cidade é pensada para os carros. Isso seria fruto de políticas de infraestrutura focadas no sistema rodoviário.

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