Manifestantes vão a supermercado e doam chocolates em protesto contra tortura

Ato do MTST ocorreu em repúdio ao espancamento de adolescente suspeito de furtar barras de chocolate

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São Paulo

​Com cartazes, chocolates e gritos de “racistas não passarão”, o coletivo negro do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) fez um protesto debaixo de muita chuva na tarde desta sexta-feira (6) em uma loja da rede de supermercados Ricoy, em Vila Joaniza, na zona sul da capital paulista.

O ato surpresa do movimento liderado por Guilherme Boulos ocorreu em repúdio à tortura sofrida por um adolescente negro, de 17 anos, dentro de uma das lojas do grupo.

A vítima disse ter sido espancada numa manhã de julho, mas o crime só chegou ao conhecimento da polícia no início desta semana.

Pego com os chocolates furtados, o garoto foi amarrado, amordaçado, despido e chicoteado por dois seguranças no depósito de uma loja Ricoy.

A vítima, que morava na rua, também foi ameaçada de morte pelos suspeitos caso fizesse denúncia à polícia. Hoje, o adolescente está sob os cuidados de um de seus seis irmãos.

Os seguranças envolvidos no crime estão foragidos desde esta quarta-feira (4), quando a Justiça decretou a prisão temporária deles. Eles também foram afastados de suas funções.

O protesto durou 40 minutos e reuniu ao menos cem pessoas, segundo os organizadores. Os manifestantes estenderam uma faixa de seis metros na frente do supermercado onde se lia: “Não aceitaremos o racismo. Vidas negras importam”.

Com uma caixa de som e microfone, também ocuparam parte do saguão da loja em frente aos caixas. O ato não foi realizado na unidade onde o adolescente foi torturado, mas em outra que fica na mesma avenida, a Yervant Kissajikian.

Não houve tumulto entre a gerência do supermercado e os manifestantes. Na sua fala ao microfone, o ativista Edson Basílio, 39, disse que o Ricoy “entrou para a lista suja dos empreendimentos racistas do Brasil”.

“A comunidade preta e pobre está aqui, Ricoy, para dizer que não deixaremos vocês em paz até que esse caso seja reparado na Justiça”, afirmou.

Os clientes também foram recebidos pelos manifestantes com chocolates, aos quais estava afixado um recado ao Ricoy: “saia da lista suja do racismo treinando seus seguranças.”

Para a ativista Ediane Maria do Nascimento, 35, o ato é uma resposta à “naturalização da violência sofrida pela população negra”. “A violência não tem território. Foi aqui, na periferia, que esse jovem negro foi torturado. Casos como esse não podem ficar impunes”, disse.

Em um manifesto, o grupo escreveu: “Estamos de olho, racistas! Somos nós que construímos a cidade, cuidamos da sua casa, manobramos seus carros, servimos seu café. Nós estamos presentes em cada detalhe da sua vida. Nossas dores não serão mais invisíveis, muito menos nossas vitórias”.

O ato pacífico foi acompanhado por duas equipes da Polícia Militar. Neste sábado (7), está previsto novo protesto convocado por entidades ligadas aos direitos humanos contra a rede Ricoy.

Por meio de nota, o grupo supermercadista Ricoy disse que jamais se orientou por conduta que “estimule a violência, a coação, o constrangimento e a força desmedida e desnecessária”.

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