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Para auxiliar escolas a incluir, ONG de SP oferece 'intervenção' que vai de treinamento a reforma

Trabalho é gratuito para escolas públicas, dura dois anos e já foi exibido em evento das Nações Unidas

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São Paulo

Geralmente, quando  uma escola convencional é convocada a abrir as portas para alunos com deficiência, sobretudo quando eles possuem severas restrições físicas ou intelectuais, uma série de interrogações e impossibilidades surgem da direção à cantina dos colégios.

É para encarar situações como “não sei ensinar matemática para o João, que é cego” ou “essa garota com síndrome de Down não vai aprender nunca as leis de Newton”, que a Turma do Jiló, organização social paulistana, tem feito uma espécie de “intervenção” positiva em escolas mostrando que incluir a todos e acolher a diversidade é sempre possível.

O sucesso da iniciativa, que existe há quatro anos, tem sido tão grande que se formou uma fila de espera com 106 escolas querendo receber o acolhimento da turma. 

O trabalho é totalmente gratuito para escolas públicas, bancado por parceiros privados, e dura dois anos. 
São três frentes de atuação: o professor, o aluno e família, que são envolvidos em dinâmicas de grupo, capacitação pedagógica, fortalecimento de vínculos e reflexões para mudança de atitude.

A final do programa —para que haja comprometimento do começo ao fim de gestores, órgãos públicos e comunidade escolar— a escola ganha uma repaginada completa em suas demandas de acessibilidade, com ampla melhoria da estrutura física e, quando necessário, tecnológica.

A iniciativa, que foi gestada por quatro anos de olho em experiências de várias partes do mundo, foi premiada pela prefeitura de São Paulo e ganhou oportunidade de ser apresentada na Nexus Global Summit, evento mundial de filantropia e investimento de impacto social, em parceria com a ONU.

“Para se promover a inclusão é necessário disponibilidade, informação e motivação. Dentro do contexto escolar, o principal é fortalecer e formar o professor, ele é o grande agente na formação das pessoas. Além disso, chegar até as famílias, envolver os alunos e cuidar para que o espaço atenda a demanda de todos. A inclusão é algo que se ensina”, afirma Carolina Videira, presidente da organização. 

A Escola Municipal Tenente-coronel Gaspar de Godoi Colaço, em Santana de Parnaíba (Grande SP), foi a  pioneira de atuação da Turma do Jiló —que recebeu esse nome porque, quando bem preparado, o legume perde sua fama de amargor e vira um prato muito saboroso.

Ela funciona num prédio histórico de 1940, com vários entraves de acessibilidade, e conta com 1130 alunos, sendo 49 com alguma deficiência.

“Eles [a ONG] não fazem milagres, mas conseguem agir na resistência à inclusão que existe dentro da escola. Ajudam a pensar alternativas, a criar maneiras de ensinar e acolher. A turma deu um link do entendimento de que cada aluno aprende de uma maneira, tirou os mistérios da inclusão e desmistificaram a maneira de entender as deficiências”, diz a coordenador pedagógica do colégio, Thays Cambi.

Na Godoi Colaço, os reflexos do trabalho da turma vão de mudanças de mentalidade em professores que resistiam a receber alunos não típicos até a criação de novos métodos de repassar conteúdo e interação entre os estudantes.

Para Carolina Videira, a falta de conhecimento e informação tanto das famílias como da comunidade escolar sobre as especificidades das deficiências é uma das barreiras mais difíceis de ser rompida para o deslanchar a inclusão escolar no Brasil.

“Ao entender que uma escola inclusiva desenvolve um olhar individualizado para qualquer aluno, não apenas para os que são público-alvo da educação inclusiva, as famílias passar a apoiar e a querer essas escolas para seus filhos também. Afinal, nenhum aluno é igual ao outro. Uma escola inclusiva além de gerar um ambiente de equidade para todas as crianças, forma cidadãos capazes de lidar com as diferenças uns dos outros de forma saudável.”

Durante seu período de atuação nas escolas, a ONG, que tem parceria com o Ministério Público de São Paulo, também trabalha para que os agentes públicos cumpram seu papel de oferecer a logística necessária para a acomodação dos alunos com deficiência em sala de aula como mobiliário adaptado, contratação de cuidadores, intérpretes de Libras, professores auxiliares.

Atualmente, seis escolas estão recebendo o programa. A ampliação passa por mais parcerias com financiadores e pela formação de novos profissionais habilitados dentro do próprio programa. Para 2020, por enquanto, a capacidade de atendimento é de vinte colégios, dobrando o número em 2021.

"Criamos um modelo com baixo custo administrativo, que conseguimos manter com parcerias estratégicas. As empresas nos apoiam com serviços e oferecemos nossos conhecimentos em diversidade e inclusão", afirma Carolina.

Segundo ela, a ONG também oferece seus serviços por meio de assessoria e cursos, para escolas privadas e empresas. O lucro, diz, vai para o financiamento nas escolas públicas.

 A ONG não atua no contra-turno escolar ou no ensino direto aos alunos com deficiência, mas, sim, na provocação de valores da diversidade dentro da escola, dando instrumentos para que a mudança aconteça. Todo o processo tem um sistema de avaliação de resultados e impactos.

 Na Godoi Colaço, alunos com deficiência participam de todas as atividades curriculares, culturais e esportivas, fazem provas —quando necessárias, adaptadas—e convivem com os demais alunos.

“Nem tudo aqui é o ideal, o perfeito. Temos problemas, conflitos, mas o mais importante é que a escola, agora, está totalmente aberta a acolher alunos com deficiência”, declara a coordenadora Thays. 

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