Secretaria pede demissão de servidores do Samu por caso Rappi

Apuração preliminar concluiu que houve negligência no socorro a entregador

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São Paulo

Um novo passo foi dado na investigação que busca elucidar as circunstâncias que contribuíram para a morte de Thiago de Jesus Dias, 33, entregador do Rappi que morreu após passar mal enquanto trabalhava, em São Paulo.

Apuração preliminar da secretaria de Saúde da gestão Bruno Covas (PSDB) concluiu que houve negligência por parte de um grupo de servidores do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que foram acionados, mas não socorreram a vítima.

O Samu disse que o chamado de Dias chegou na sua central às 22h15 daquele 6 de julho (um sábado), como dor de cabeça e foi classificado pela equipe como prioridade média. O caso recebeu monitoramento à distância até ser cancelado com a informação de que Dias havia sido removido do local em carro particular.

A comissão jurídica da pasta ouviu 17 depoimentos, analisou os registros da ocorrência e a postura tomada pelos plantonistas ao longo de dois meses de investigação e concluiu que os servidores do Samu envolvidos devem sofrer a punição máxima: a exclusão do serviço público.

O pedido pela demissão dos servidores foi apresentado nesta última sexta-feira (20) ao Proced, órgão sob o guarda-chuva da secretaria de Justiça da prefeitura responsável por aplicar medidas disciplinares contra servidores flagrados em alguma prática ilícita.

O trâmite no Proced prevê novos depoimentos e a apresentação da defesa dos servidores investigados. 

A Folha pediu, mas a pasta da saúde não informou o número de suspeitos e nem a função que eles exercem no Samu porque o procedimento corre sob sigilo. 

Thiago Dias passou mal no momento em que fazia a entrega de uma garrafa de vinho para quatro amigos num apartamento de Perdizes, bairro da zona oeste da capital. 

Caído sobre a calçada na entrada do prédio, Dias foi socorrido pelos clientes do aplicativo de compras e entregas. O grupo agasalhou a vítima com cobertores, deu água e tentou por várias vezes convencer o serviço de resgate de que o estado de saúde do entregador era grave. 

O Rappi também foi comunicado, mas segundo a advogada Ana Luísa Ferreira Pinto, uma das pessoas que o socorria, o aplicativo pediu apenas que ela desse baixa no pedido para que a empresa comunicasse os próximos clientes que os seus pedidos não seriam entregues no horário.

Dias ainda teve negada uma corrida de um motorista da Uber até o hospital, que cancelou o transporte e alegou que o passageiro sujaria seu carro com urina.

O entregador só saiu do local, de acordo com testemunhas, 2h30 depois de acionar o Samu no carro de um amigo da família. Levado ao hospital das Clínicas (centro), morreu no dia 8 de julho após sofrer morte cerebral por complicações de um AVC (acidente vascular cerebral). Dias deixou a filha Brenda, 6, os pais e os três irmãos. 

A família processa na Justiça o Samu, a Uber e o Rappi. “Eles foram negligentes e são responsáveis pela morte do meu irmão”, disse a diarista Daine de Jesus, a irmã do entregador.

A Polícia Civil abriu inquérito que apura a suspeita de omissão de socorro praticada pela Uber e pelo Samu. O Procon (órgão de defesa do consumidor) cobrou do Rappi mais segurança aos seus prestadores de serviço. Também pediu que a Uber exclua de seu portfólio o motorista que recusou levar Dias ao hospital.

A Uber já disse por meio de nota que seus motoristas não são profissionais de saúde e que os carros cadastrados no aplicativo não são ambulâncias. Já o Rappi informou que criará tecnologia própria para atender os entregadores em situação de risco.

Para a comissão de direitos humanos da OAB-SP, o caso ilustra “a fragilização das relações de trabalho no Brasil”.

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