O prefeito Bruno Covas (PSDB), 39, recebeu diagnóstico de câncer no trato digestivo com metástase e terá que passar por quimioterapia. O diagnóstico foi divulgado nesta segunda-feira (28) em entrevista coletiva no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Covas não deve se afastar do cargo a princípio. Aos médicos, ele disse que tem a responsabilidade de ficar no comando da prefeitura enquanto possível e que terá a responsabilidade de deixar o cargo se precisar.
O adenocarcinoma está localizado em um esfíncter na junção entre o esôfago e o estômago —chamado cárdia—, e expandiu-se para lesões no fígado e nos linfonodos. De acordo com a equipe médica, há apenas uma metástase no fígado.
"Nunca vi um diagnóstico tão precoce", afirmou o infectologista David Uip, que tem acompanhado o tratamento do prefeito. A equipe que acompanha Covas também conta com o cardiologista Roberto Kalil Filho, os oncologistas Túlio Pfiffer, Artur Katz e o cirurgião gástrico Raul Cutait.
Uip definiu como um "achado de sorte" o fato de terem encontrado o câncer após exames para investigar caso de tromboembolismo nos pulmões de Covas.
Questionados sobre a agressividade do câncer, médicos afirmaram que o fato de um tumor pequeno ter comprometido outro órgão mostra que se trata de uma situação traiçoeira.
"Não existe um ranking de agressivo ou não para tumores. Podemos dizer que a doença foi algo traiçoeira. Não trouxe nenhum sintoma local. A primeira manifestação foi a trombose. Do ponto de vista sistêmico, a doença está localizada", afirmou Artur Katz, oncologista do Sírio-Libanês.
Covas passará pela primeira sessão de quimioterapia entre segunda (28) e terça-feira (29). Esse tipo de tratamento normalmente é ambulatorial, mas o prefeito permanecerá internado ao menos até sexta-feira (1º) devido à embolia pulmonar.
Os médicos responsáveis pelo tratamento de Covas afirmam que em um período de seis a oito semanas eles poderão avaliar a eficácia ou não do tratamento quimioterápico. Ele passará por três sessões de quimioterapia e não está descartada uma eventual cirurgia após esse período.
De acordo com David Uip, o prefeito está muito confiante, animado e disposto, o que deve ajudar no tratamento.
Covas tem procurado cuidados médicos desde sábado (19), quando se sentiu mal, passou pelo pronto-socorro do hospital Albert Einstein e começou a fazer tratamento com antibióticos.
Como o resultado não foi o esperado, ele se dirigiu ao Sírio-Libanês na quarta-feira (23), quando recebeu o diagnóstico de erisipela na perna direita.
A erisipela consiste em infecção de pele causada por bactérias que penetram através de pequenos ferimentos, como picadas de inseto, frieiras e micoses. Por recomendação de David Uip, foi internado.
Entre o dia 19 e a internação, Covas resistiu à recomendação de desacelerar o dia a dia na prefeitura. O prefeito manteve a rotina, despachando e participando de atos públicos.
Um dos últimos compromissos dele aconteceu na quarta-feira (23), quando participou de ato de sanção de alteração de lei relacionada ao Fundurb (Fundo de Desenvolvimento Urbano) que permitirá à prefeitura o lançamento de um programa habitacional para a parcela da população que ficou sem alternativas após os cortes anunciados pelo governo federal no Minha Casa Minha Vida.
No dia da internação, a perna do prefeito estava inflamada, e a panturrilha dura, o que sugeria uma trombose venosa profunda, confirmada por uma tomografia.
Exames posteriores diagnosticaram um tromboembolismo nos dois pulmões —quando um coágulo se desloca de alguma região do corpo para o pulmão.
Do hospital, ele manteve contato com o secretariado, tanto por telefone quanto pessoalmente. Ele também continuou atualizando sua conta no Instagram —inclusive com postagens sobre assuntos alheios à sua saúde, como a divulgação de novos dados de despesas no portal da transparência.
Após um exame pet scan, veio o diagnóstico de um tumor no trato digestivo, que foi divulgado no domingo (27).
A descoberta surpreendeu a equipe médica, porque o prefeito em nenhum momento apresentou sintomas clássicos de um câncer no aparelho digestivo, como perda de peso (ele mantém o peso há dois anos).
Ele cuida da saúde, faz academia cinco vezes por semana e não tem histórico familiar de câncer nessa região. O avô dele, Mario Covas, ex-governador de São Paulo, morreu em 2001 em decorrência de um câncer na bexiga.
Pessoas próximas ao prefeito afirmam que o diagnóstico o assustou, mas que nesta segunda (28) ele já estava despachando novamente com auxílio de um tablet.
Covas deu ordem para que a programação da prefeitura fosse mantida normalmente, incluindo inaugurações, mesmo que ele não possa comparecer. Nesta terça-feira (29), por exemplo, haverá uma reunião com a presença de todos os secretários municipais para que as orientações de Covas sejam repassadas.
Nesta segunda, Covas escreveu texto sobre o assunto em suas redes sociais. “Não tenho dúvidas de que vou vencer esse desafio. Quero agradecer as centenas de mensagens que tenho recebido de inúmeras pessoas. Ajuda muito a atravessar a tempestade”, escreveu.
SUCESSÃO
Um eventual pedido de licença e afastamento de Covas precisa ser ratificado pela Câmara.
Caso isso ocorra, quem assumiria a administração municipal seria o presidente do Legislativo municipal, vereador Eduardo Tuma (PSDB), uma vez que Covas foi eleito vice-prefeito na chapa do atual governador e ex-prefeito João Doria (PSDB).
De acordo com a Lei Orgânica do Município de São Paulo, em caso de impedimento ou vacância dos cargos de prefeito e vice-prefeito, e tendo já decorrido dois anos de mandato, o presidente da Câmara assume por 30 dias.
Após esse período, uma eleição indireta deve ser realizada pela Câmara para os dois cargos, com a indicação de apenas uma chapa por partido. Cabe à Mesa Diretora editar as regras que regulamentarão esse processo eleitoral. Os eleitos, para prefeito e vice, devem cumprir apenas o período restante do mandato.
Covas está no penúltimo ano de mandato.
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