Justiça de SP concede habeas corpus a líderes de moradia acusados de extorsão

Integrantes da Ocupação Nove de Julho estavam presos desde junho; eles responderão em liberdade

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São Paulo

O Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu nesta quinta-feira (10) habeas corpus aos irmãos Janice, a Preta, e Sidney Ferreira, líderes de movimento de moradia na capital.

Os dois fazem parte do MSTC (Movimento Sem Teto do Centro) e integram a Ocupação Nove de Julho, modelo de edifício ocupado em São Paulo. Eles são filhos de outra líder, Carmen Silva Ferreira, que ganhou notoriedade a frente da ocupação do prédio do antigo Hotel Cambridge.

Todos são acusados pelo Ministério Público de associação criminosa e extorsão de moradores de ocupações. Preta e Sidney estavam presos desde junho, e agora podem responder ao processo em liberdade. Carmen, que foi absolvida duas vezes em processo semelhante, teve o habeas corpus deste caso concedido no último dia 3.

Eles tinham sido detidos junto com Edinalva Silva Franco Pereira e Angélica dos Santos Lima, de outro movimento, o MMPT (Movimento de Moradia para Todos). Angélica teve o habeas corpus concedido no fim de agosto, e Edinalva segue presa. Além dos quatro, outros nove integrantes de diferentes movimentos tiveram o pedido de prisão preventiva determinado no início de agosto.

As prisões foram resultado de investigação após o incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no centro, em maio de 2018. Sete pessoas morreram na tragédia, e o movimento que coordenava a ocupação, o MLSM, foi acusado de extorquir moradores.

A denúncia do promotor Cássio Conserino utilizou casos notórios de condutas criminosas em edifícios ocupados por diferentes movimentos para concluir que a prática é comum no meio, conforme mostrou reportagem da Folha.

O promotor, no entanto, negou que pretendesse criminalizar as organizações. "Não se pretende criminalizar movimentos sociais que, em tese, deveriam ser legítimos; ao contrário, se pretende criminalizar, com forte investigação, os responsáveis pelas condutas criminosas e que se escondem sob o pálio de tais movimentos para extorquir toda sorte de vítimas, fazendo-os sob modelo de organização criminosa", escreveu Conserino na denúncia.

Dos líderes que tiveram a prisão preventiva decretada, quatro são do MLSM, que coordenava a ocupação do Wilton Paes de Almeida. São eles Ananias Ferreira dos Santos, Andreya Tamara Santos de Oliveira, Josiane Cristina Barranco e Hamilton Coelho Resende.

No final de setembro, o Ministério Público denunciou seis pessoas pelo desabamento do prédio.

Do movimento MSTC, de Preta e Sidney, os cinco integrantes que tiveram a prisão determinada já tiveram habeas corpus concedido. Além de Carmen e dos dois desta quinta, Adriana e Liliane Ferreira conquistaram o direito em 5 de setembro.

Manoel del Rio, suplente do PT na Câmara Municipal, e apontado na denúncia como "uma espécie de líder de todos os movimentos" também teve o habeas corpus concedido, assim como Maria Aparecida Ferreira, a Maria do Planalto, do Movimento Terra Nossa Gente.

"Permitir que Preta e Sidney respondam ao processo em liberdade é nada menos do que, uma questão de justiça", afirmam os advogados de Preta,  Augusto de Arruda Botelho e Beto Vasconcelos. "Essa é uma vitória importante dentro de um longo processo em que provaremos a completa inocência dos dois".

"Enfim o Tribunal de Justiça deu uma resposta diante da injusta e descabida prisão da cantora e atriz Preta Ferreira e de seu irmão Sidney Ferreira", afirmou em nota o advogado Ariel de Castro Alves, que defende a mãe dos dois, Carmen.

Para o defensor, a concessão foi "um primeiro passo visando desmontar as falaciosas acusações da polícia e do Ministério Público, que visam a criminalização dos movimentos sociais".

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