As manhãs de Luiz Norberto Roese seguiam um ritual: ao acordar, tomar uma xícara de café e ler o Diário Oficial da União e o do Rio Grande do Sul em busca de pauta.
Conhecido como Tigre por uma brincadeira de amigo secreto, Roese nasceu em São Paulo e se mudou aos seis anos com a família para Porto Alegre. Cinéfilo, trabalhou em uma locadora e memorizava nomes e sinopses de filmes.
Morou na capital gaúcha até os 29, quando entrou no Diário de Santa Maria, onde trabalhou de 2003 a 2012. Em 2013, começou no A Razão, para o qual cobriu o incêndio da boate Kiss.
Segundo sua esposa, Erenice de Oliveira, Roese criou um “laço de cumplicidade” com os familiares das vítimas.
No final de 2015, o jornalista começou a ter dificuldades para andar, mas não sabia o que era. Foi a consultas médicas, fez exames e, em abril de 2016, recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla primária progressiva, um tipo mais agressivo da doença em que os sintomas pioram sem espaço para qualquer melhora.
Por causa da doença, Roese aposentou-se pelo INSS e tornou-se assessor voluntário da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.
Em janeiro de 2019, voltou com a esposa para Santa Maria. “Veio atrás de afeto”, diz Paulo Chagas, que trabalhou com Roese no Diário.
A mudança foi feita pela amiga Silvana Silva, a quem contou sobre o desejo de ser o “velhinho do calçadão de Santa Maria que fica bebendo café e ‘cuspindo’ [batendo papo]”.
Ele não teve tempo de envelhecer. Luiz Norberto Roese sofreu uma parada cardiorrespiratória no dia 14, aos 45 anos. Além da esposa, deixa os pais e o irmão.
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