São Paulo monitora parques para tentar conter avanço de barbeiros

Inseto pode transmitir doença de Chagas se estiver contaminado; não há transmissão da doença na região metropolitana

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São Paulo

As autoridades de saúde pública estão preocupadas com a dispersão do inseto barbeiro da espécie Panstrongylus megistus a partir de Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo, para a capital. 

O barbeiro transmite a doença de Chagas se estiver infectado pelo protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. Atualmente, a espécie Panstrongylus megistus tem importância epidemiológica porque geralmente vem infectada pelo parasita.

Os sintomas iniciais da doença de Chagas são febre, dor de cabeça e fraqueza. Na fase aguda, o fígado e o baço aumentam e aparecem distúrbios cardíacos. Na crônica, compromete o coração e o aparelho digestivo. Em crianças, a doença pode levar à morte. 

Além dela, outra espécie de barbeiro também existe no estado: a Rhodnius neglectus, presente na região Noroeste, mas sem infecção pelo protozoário. 

Mesmo que não ainda exista transmissão da doença de Chagas na região metropolitana e na capital paulista, a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) do Estado de São Paulo iniciará neste mês um monitoramento em quatro parques da capital: Villa-Lobos, do Povo e Água Branca (na zona oeste); e Ibirapuera (zona sul).

O objetivo é fazer a busca ativa por exemplares do barbeiro, bem como identificar sua rota de deslocamento. 

Segundo Rubens Antonio da Silva, biólogo, pesquisador e coordenador técnico do Programa de Controle de Doença de Chagas da Sucen, a hipótese é de que os corredores verdes estejam facilitando a dispersão dos insetos.

"Examinando os locais de ocorrência de barbeiros nos últimos anos, concluímos que eles podem estar se movendo através das conexões de matas e parques, a partir da região entre as rodovias Régis Bittencourt e Raposo Tavares."

Dos parques, os barbeiros invadem as casas, fazem colônias e usam as pessoas e os animais domésticos como fonte de alimentação.

“No caso do Parque da Água Branca, a situação é um pouco diferente. Já existe a possibilidade de ter espécies de barbeiros no local. Estes bichos precisam de sangue quente de pessoas e de animais, e lá há mais de 1.300 galinhas que podem servir de fonte de alimentação”, afirma Silva.

Um dos exemplares do bicho barbeiro encontrados em Taboão da Serra, na Grande SP
Um dos exemplares do bicho barbeiro encontrados em Taboão da Serra, na Grande SP - Arquivo pessoal

O monitoramento dos parques inclui ações educativas e orientação aos frequentadores e moradores do entorno destes locais.

“Quando tivemos a grande transmissão, entre as décadas de 1950 e 1970, a região metropolitana de São Paulo não vivenciou a endemia e, portanto, não possui conhecimento da doença de Chagas. O que isso tem de relevante? Por não estarem atentas ao monitoramento da espécie, as pessoas podem ter o bicho dentro de casa e desconhecer”, afirma Silva.

Os Panstrongylus megistus têm o corpo marrom com manchas vermelhas e mede de 2,5 a 4 cm de comprimento. Os bichos são de comportamento noturno e atraídos pela luz. Voam num raio de 400 metros, distância que pode ficar maior se houver corrente de vento.

Quem vive perto de matas e de parques deve fechar portas e janelas ao escurecer, além de vedar frestas.

A dispersão dos barbeiros começou em setembro, com a primavera, quando ficou perceptível um aumento de exemplares adultos, porque eles buscam novos ambientes para colonização.

 A transmissão da doença se dá pelas pelas fezes que o barbeiro deposita sobre a pele enquanto suga o sangue.

Geralmente, a picada provoca coceira e o ato de coçar facilita a penetração do protozoário pelo local. O parasita também pode entrar no organismo através da mucosa dos olhos, do nariz ou da boca ou de feridas e cortes recentes na pele.

Silva explica que atualmente não é este tipo de transmissão da doença de Chagas que preocupa as autoridades. A mais frequente é pela ingestão de alimentos à base de açaí ou de cana-de-açúcar, por exemplo. Em locais sem higiene adequada, o barbeiro pode ser triturado durante o preparo do alimento. 

Também deve-se tomar um cuidado especial com os saruês (gambás), para que não permaneçam nos forros das casas. Eles são reservatórios do Trypanosoma cruzi. “Se os saruês servirem de fonte de alimento para os barbeiros, o risco de transmissão é amplificado”, diz Silva.

O ressurgimento

Desde 2016, foram encontrados 61 barbeiros Panstrongylus megistus no município de Taboão da Serra, todos em casas perto de matas, segundo a prefeitura. 

A publicitária Ana Luísa Cruz Suzigan, 40, achou três em sua residência. A família levou um susto, porque um deles estava no berço do filho dela.

A Sucen foi acionada e esteve no local. Os bichos foram levados ao CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) e a família tomou providências: a partir das 17h, os acessos à casa ficam fechados. As janelas e portas ganharam telas e protetores, respectivamente.

Itapecerica da Serra, Santana do Parnaíba, Embu das Artes e Carapicuíba também tiveram casos de barbeiro.

Em um caso em Embu das Artes, os bichos moravam num colchão e utilizavam um casal como fonte de alimentação.

Em Carapicuíba, o órgão coletou mais de 57 exemplares em diferentes estágios de desenvolvimento. Eles estavam associados a gambás que moravam nos forros de três casas dentro de uma mesma propriedade, mas nenhum apresentou positividade para o Trypanosoma cruzi, segundo a prefeitura.

Desde 2018, as equipes da Sucen registraram Panstrongylus megistus em áreas próximas a matas nos bairros Jardim Amaralina, Cohab Raposo Tavares, Jardim Esmeralda e Butantã (zona oeste).

Se houver uma expansão territorial dos barbeiros, a situação pode se agravar e no final deste ano os moradores do Tucuruvi e entorno do Parque da Cantareira [zona norte], e da região do Zoológico [zona sul], deverão encontrar exemplares dentro de casa.

Outras áreas também são vulneráveis ao aparecimento de barbeiros —Cotia e Osasco (Grande SP) e o ABC paulista.

Quem encontrar exemplares de barbeiro deve acionar a prefeitura e encaminhá-los, de preferência vivos, ao Centro de Controle de Zoonoses ou órgão semelhante.

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