Alvo de disputa entre milícia e tráfico, Ciep é saqueado 4 vezes no Rio

Escola em Olaria é referência no ensino de violino para crianças carentes

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Rio de Janeiro

Referência no ensino de violino na rede municipal de Educação, o Ciep Maestro Francisco Mignone é palco de uma disputa entre milicianos e traficantes. Localizada em Olaria, às margens do Complexo do Alemão e vizinha à favela do Saco, a escola sofreu quatro invasões neste ano, sendo duas delas no período de cinco dias. As últimas invasões ocorreram na terça-feira (19) e na segunda-feira (25).

Segundo informações da secretaria municipal de Educação, houve também duas tentativas de arrombamento em 2019. Segundo integrantes da comunidade, o número de invasões é maior do que o registrado oficialmente, chegando a sete ocorrências. Na segunda-feira (25), foi furtado um notebook durante a invasão, ocorrida antes do horário de entrada dos alunos.

"O problema foi mais de vandalismo. Muitos objetos e documentos foram retirados de armários e derrubados no chão”, diz nota da 4ª Coordenadoria Regional de Educação, responsável pela região. 

Sala do Ciep Maestro Francisco Mignone, Olaria, no Rio, após invasão no último dia 19
Sala do Ciep Maestro Francisco Mignone, Olaria, no Rio, após invasão no último dia 19 - Divulgação

Além de já terem levado computadores, uma TV, liquidificadores, câmeras fotográficas, cafeteiras e uma máquina de xerox, os ladrões também quebraram dois datashows, câmeras e a base do alarme. Eles furtaram até latas de salsichas e outros alimentos destinados à merenda escolar.

Em uma das invasões, chegaram a jogar os violinos no chão, mas não os levaram. A escola integra um programa da rede municipal chamado orquestra na escola, oferecendo aulas de violino.

Nesta segunda-feira, saquearam a administração. Fincaram uma tesoura na porta da sala. Em vermelho, as iniciais TCP, em referência ao Terceiro Comando Puro, facção criminosa que se uniu a milícias para derrotar o concorrente Comando Vermelho. 

Ao encontrar o prédio depredado, a direção suspendeu as aulas à espera dos peritos, que chegaram pouco depois das 14h.

Nesta terça-feira (26), ocorreu uma reunião entre representantes da Prefeitura, da coordenação regional, da diretoria e pais de alunos. O retorno às aulas será quarta-feira (27).

Sala de escola municipal referência no ensino de violino no Rio, invadida por criminosos
Sala de escola municipal referência no ensino de violino no Rio, invadida por criminosos - Divulgação

Entre 19 e 27 de novembro, os alunos do Ciep ficaram quatro dias sem aula. O local foi fechado para o feriado da quarta-feira (20) e teve as aulas suspensas nos dois dias seguintes, devido ao saque ocorrido na véspera, dia 19. A previsão era de reinício das aulas na segunda-feira (25), data do último ataque.

Imagens obtidas por câmeras mostram que os ladrões são adultos. Sem segurança, os pais chegaram a pernoitar na escola na tentativa de afugentar saqueadores, mas foram desaconselhados de continuar com a prática.

Mãe de Iris, 11, a dona de casa e faxineira Francisca Jacinta Soares Correa, 38, chama de vandalismo a ação dos depredadores. Iris cursa a quinta série e, segundo a mãe, chorou, neste segunda-feira (25), ao ver as imagens da escola publicadas em redes sociais. “Minha filha não quer ir para a escola mais. Fica chorando. Hoje viu as fotos e começou a chorar”, relata a faxineira, em referência às fotos, que foram retiradas do site da escola após a Folha procurar as autoridades.

A Secretaria Municipal de Educação afirma que “o fato, assim como nas ocorrências anteriores, foi comunicado à polícia, com pedido de providências". "Para reforçar a segurança interna da escola, a escola foi contemplada recentemente com sistema de segurança, câmeras, grades e sensores”, diz a nota do órgão.

Procurada desde a segunda-feira (25), a Secretaria de Polícia Civil do Estado do Rio ainda não se manifestou. 

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