Arquipélago de Alcatrazes, no litoral norte de SP, cria passeio para observar pássaros

Arquipélago no litoral norte de SP reúne cerca de dez mil aves; passeio de um dia pode incluir mergulho na área

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Reginaldo Pupo
Ilhabela (SP)

Com olhar atento e uma câmera pendurada no pescoço, que comprou vendendo latinhas e com doações entre amigos de seu pai, Matheus Souza Lima, 10, aponta sua lente para algumas das milhares de aves marinhas nos céus do arquipélago dos Alcatrazes. O paraíso ecológico fica a 40 km de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo.

O estudante integrava, no último dia 25, um grupo de cerca de vinte apaixonados pelo birdwachting —avistamento de pássaros—, que realizou um passeio de barco até Alcatrazes. 

"Depois que fotografo uma ave, acesso a internet com a ajuda do meu pai para tentar descobrir a espécie que registrei", disse o menino.

De olho nesse nicho, o arquipélago, rebatizado pelo governo federal de Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago dos Alcatrazes, abriu as portas na semana passada para turistas interessados na modalidade.

Agora, empresas turísticas do litoral norte de São Paulo, credenciadas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), poderão realizar passeios embarcados para o avistamento de fragatas, gaivotas, trinta réis, atobás, entre outras aves marinhas que habitam o lugar.

É a segunda abertura a turistas no local. No ano passado, o ICMBio passou a permitir o mergulho de flutuação —que também só pode ser feito por meio de empresas credenciadas pelo órgão, responsável pela sua gestão e fiscalização.

O passeio dura um dia inteiro. São cerca de três horas de deslocamento de barco entre Ilhabela e o arquipélago de Alcatrazes. Os pacotes turísticos, em geral, incluem almoço (ou lanche) e equipamentos de mergulho, com preços que vão de R$ 350 a R$ 650, em alguns casos. 

A lista e contato das empresas autorizadas a operar em Alcatrazes está no site do ICMBio: www.icmbio.gov.br.

O acesso às ilhas que compõem o arquipélago continua vetado, assim como qualquer modalidade de pesca e até mesmo a presença de embarcações de recreio dentro do refúgio, de acordo com a condutora de visitação embarcada do ICMBio, Mayra Aki Yamazaki Rocha. 

O órgão pode abordar as embarcações e requerer a documentação necessária. Em caso de flagrante de pesca, todos os equipamentos dos pescadores, sejam eles de fim de semana ou não, são aprendidos, segundo Mayra.

A permissão para a prática de avistamento de aves animou o setor turístico de Ilhabela. "A cidade possui guias experientes neste segmento e os passeios para Alcatrazes irão fomentar o setor e gerar emprego para muitos profissionais", afirma Pedro Henrique Santos Oliveira, presidente da Associação dos Guias e Monitores Ambientais do município.

Sidiney Barbosa de Lima, morador de Ilhabela há 30 anos, é um dos guias que se especializaram em avistamento de aves. "Costumo levar os turistas para observar algumas das 340 espécies de pássaros catalogadas em Ilhabela, como a Jacutinga e o Macuco, que não são vistos na parte que faz frente com o continente".

De acordo com ele, muitos turistas o procuram já com os nomes das espécies que eles desejam observar e fotografar. "Muitas dessas aves existentes em Ilhabela já sofrem algum processo de risco de extinção."

Até a década de 1990, o Arquipélago dos Alcatrazes, conhecido como a Galápagos brasileira, era alvo de exercícios de tiro realizados pela Marinha. Os projéteis destruíam os ninhos e afastavam as aves do lugar. 

Em dezembro de 2004, os exercícios teriam causado um incêndio na ilha principal, segundo ambientalistas à época. O fogo durou três dias. 

Após pressão de ambientalistas, que durou décadas, o lugar se transformou em agosto de 2016, por meio de decreto federal, em Refúgio de Vida Silvestre. Até hoje é possível ver os alvos pintados nas encostas das ilhas.

Os exercícios continuam, esporadicamente, em uma das ilhas que formam o arquipélago, a da Sapata, distante 3,5 km da ilha principal e que quase não possui vegetação.

Alcatrazes possui o maior ninhal de aves marinhas das regiões Sul e Sudeste brasileiro e serve como rota de passagem de diversas espécies que param por ali para descansar.

As ilhas totalizam uma área de 67.364 hectares, sendo a maior unidade de conservação marinha de proteção integral das regiões Sul e Sudeste país e a segunda maior do Brasil.

Já foram catalogadas mais de 1.300 mil espécies de flora e fauna, sendo que 93 delas estão sob algum grau de ameaça de extinção. Ao menos 259 espécies de peixes estão protegidas, número superior ao da também famosa e turística Fernando de Noronha

O repórter Reginaldo Pupo e o repórter-fotográfico Eduardo Knapp viajaram a convite da Prefeitura de Ilhabela

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