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Com dados da Finlândia e de Bangladesh, SP é retrato da desigualdade

Comparados aos dados internacionais do Banco Mundial, Perdizes e Marsilac compõem um dos retratos da desigualdade dentro da capital paulista

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São Paulo

A cidade de São Paulo concentra num mesmo município dados considerados marcadores de desenvolvimento iguais aos da Finlândia e da Suíça tanto quanto do Senegal e de Bangladesh.

No seu extremo mais desenvolvido, a taxa de mortalidade infantil no distrito de Perdizes, de 1,1 morte no primeiro ano de vida para cada mil nascidos vivos, é semelhante à da Finlândia (1), rico país nórdico. 

No extremo menos desenvolvido está o distrito de Marsilac, com 24,6 óbitos de recém-nascidos para cada mil nascidos vivos —quase igual à taxa de Bangladesh (25), de acordo com dados do Banco Mundial. 

E não se trata de um choque geográfico típico dos comparativos entre centro e periferia: o distrito da República, no coração da cidade, tem taxa de mortalidade infantil de 24,3.

A mortalidade infantil é um dos principais indicadores do nível de vida da população porque é um reflexo de condições precárias de higiene e de nutrição em que se inserem as famílias, um contexto agravado pela falta de cuidados médicos e de políticas públicas para mães e os paulistanos que vêm ao mundo.

Comparados aos dados internacionais do Banco Mundial, Perdizes e Marsilac, dois dos 96 distritos paulistanos, compõem um dos vários retratos possíveis da desigualdade dentro da cidade mais rica do país.

A radiografia dessa disparidade está expressa em muitos dos 53 indicadores do Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo.

É o caso dos índices de gravidez na adolescência, outro sintoma da falta de perspectiva, de educação e de políticas de prevenção. 

Neste caso, a comparação coloca dentro de São Paulo realidades ainda melhores que a da Suíça e um pouco piores que a do Senegal. 

Enquanto no distrito de Moema a taxa adolescentes de 15 a 19 anos que tiveram filhos é de 1,7 por mil, dado ainda mais baixo que a média suíça de 3, no distrito do Pari é de 75,8 por mil, quase como a do Senegal (76).  

É flagrante o recorte racial que acompanha esses índices. Os distritos com taxas europeias de mortalidade infantil e gravidez na adolescência têm entre 5,8% (Moema) e 9,37% (Perdizes) de pretos e pardos. 

Já os bairros com dados similares ao de países de baixo desenvolvimento da África e da Ásia têm população negra entre 34,6% (Pari) e 48,6% (Marsilac).

Os distritos com mais de 50% de negros, tais como Jardim Ângela (60,1%) e Grajaú (56,8%), são majoritários entre aqueles sem a presença de centros culturais, museus e teatros. 

É neles também onde há menor proporção de empregos formais. Na lanterna está Cidade Tiradentes (56% de negros), em que a taxa de emprego formal por dez habitantes com 15 anos ou mais é de apenas 0,24. No Jardim Ângela essa taxa é de 0,5 e, no Grajaú, de 0,6. 

No outro extremo, na Barra Funda, a taxa de emprego formal é de 59,24. A diferença abissal entre esses polos é de 247 vezes.

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