"Queixadas" foi o nome pelo qual ficaram conhecidos os trabalhadores de uma indústria de cimento em Perus, no extremo norte de São Paulo, que fizeram uma greve de sete anos durante a década de 1960, considerada a primeira grande paralisação do movimento sindical do país.
Nascido em Itaporã (MS), José de Souza Queiroz, o Soró (como ficaria conhecido), mudou-se para o bairro depois da greve, nos anos 1970, e ficou fascinado por essa história.
"Fez sentido pra mim uma coisa, um princípio que os Queixadas têm muito forte, que é: 'Você não luta por um mundo que vai chegar depois. Para você chegar a esse mundo, você começa a transformação aqui'", relatou em 2017 ao Museu da Pessoa, plataforma digital que reúne histórias de pessoas comuns.
Por isso, esse agitador cultural se encantou ao conhecer anos depois o centro cultural Quilombaque. Disse aos meninos que tocavam o grupo: "Vocês são Queixadas, cara. O jeito como vocês funcionam, essa coisa anárquica e muito treteira. Gente a fim de briga".
Soró se tornaria a principal referência do grupo, ao qual ajudou a dar cara. "Era um mestre para nós", diz Cleiton Ferreira, com quem trabalhava havia 14 anos.
"Ele ensinou muito a comunidade, a juventude, a acreditar no seu potencial, e acreditava que a cultura era a verdadeira forma de mudança. Era um cara sonhador", afirma.
Estavam juntos na sede do Quilombaque no último dia 30, se preparando para ir a um sarau, quando Soró sofreu uma parada respiratória e morreu, aos 55, deixando a mulher e três filhos.
Em uma de suas últimas mensagens no Facebook, traduziu a maneira como pensava: "A arte e a cultura na linha de frente contra a barbárie".
coluna.obituario@grupofolha.com.br
Veja os anúncios de mortes
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.