Professor da Unesp é esfaqueado e chamado de 'macaco' em Bauru

Docente foi ofendido e esfaqueado no ombro e no braço; agressor foi indiciado pela polícia

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Ribeirão Preto

Um professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) militante do movimento negro foi esfaqueado e afirmou ter sido chamado de “macaco” em Bauru nesta quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra.

O autor do crime foi indiciado pela polícia. Ele chegou a ser detido, mas foi liberado após pagar fiança. A informação é da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. 

Juarez Xavier, 60, docente da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação do campus de Bauru e assessor da pró-reitoria de extensão universitária e cultura, foi agredido com um canivete no estacionamento de um supermercado na avenida Nações Unidas, na cidade do interior paulista, por volta das 16h desta quarta.

Docente mostra ferimento que sofreu em briga nesta quarta-feira (20) em Bauru
Docente mostra ferimento que sofreu em briga nesta quarta-feira (20) em Bauru - Reprodução

À Folha, Xavier disse que o agressor passou por ele na calçada e, depois de apontar um objeto que brilhava, o chamou de macaco. “Fui tomar satisfação do absurdo, aí me dei conta de que ele estava com uma arma e tentou partir para cima de mim”, afirma.

O professor sofreu ferimentos no braço esquerdo e no lado direito das costas, além de escoriação no joelho. 

Xavier foi encaminhado à UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) Geisel, enquanto as testemunhas seguraram o autor até a chegada da Polícia Militar. O canivete usado para atingir o docente foi apreendido e enviado para perícia do IC (Instituto de Criminalística). O caso foi registrado como injúria e lesão corporal.

“Fui chamado de macaco. Reagi, fui esfaqueado! Mas antes, ele sentiu a fúria negra! Laroye!”, postou o professor da Unesp em redes sociais.

“Fui imediatamente atendido, estancaram o sangramento, tomei vacina antitetânica e injeções de praxe para ferimentos com arma branca. Tem [agora], lógico, a recuperação emocional. Ninguém passa por uma situação dessa imune”, diz à reportagem.

Xavier afirma que é preciso enfrentar esse tipo de violência e que o debate sobre o racismo não está superado. “Já se passaram tantos anos, imaginamos que esse debate foi superado, mas não, é mais agudo do que a gente havia imaginado. Surpreendeu passar por uma situação como essa em Bauru. Uma pessoa que nunca vi, não conheço.”

Na mesma quarta, Xavier já havia feito postagens sobre a data. Em uma escreveu “Macaco é macaco! Banana é banana! E racismo é crime! Rebele-se!”. Ele deixou a unidade de saúde no início da noite e foi à polícia registrar queixa sobre o crime.

Nesta quinta-feira (21), Xavier informou que está bem e agradeceu as manifestações que recebeu. “Amigas e amigos, estou bem. Medicado. E recuperado! Agradeço às manifestações de solidariedade e carinho! Seguimos no enfrentamento ao sistema de opressão patriarcal segregacionista e racista! Abraços e beijos!”, postou o docente nas redes sociais.

A Unesp divulgou uma nota de repúdio aos atos racistas sofridos por Xavier. “Negro, o professor foi alvo de xingamentos racistas quando estava em um local público e se indignou diante do criminoso, que ainda o atacou com golpes de canivete, fazendo-o sangrar no braço e nas costas. A resposta do docente, que também prestou queixa na delegacia, foi a esperada de cidadãos defensores da diversidade frente a ações de intolerância que não podem ser aceitas em ambientes democráticos e sociedades plurais”, diz trecho do comunicado da universidade.

Ainda conforme a Unesp, os atos racistas no dia da Consciência Negra “só reforçam a necessidade de dar sequência à luta contra a discriminação racial, os preconceitos, de qualquer natureza, e especialmente contra a desigualdade abissal que marca historicamente a população negra no Brasil”.

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