Implantado no começo do ano, o sistema de biometria facial nos ônibus municipais de Osasco, na Grande São Paulo, tem causado problemas para idosos e pessoas com deficiência física.
Ao longo do primeiro semestre, 1.203 bilhetes foram cancelados. No entanto, usuários das linhas municipais têm questionado a falta de informação sobre o sistema, além das dificuldades para chegar à catraca.
Segundo informado pela Prefeitura, a função foi instalada com o objetivo de evitar fraudes e garantir a segurança.
Passageiros que têm mais de 65 anos ou deficiência têm gratuidade por meio dos cartões eletrônicos Bem Sênior e Bem Especial.
Os bloqueios de bilhetes nessas categorias ocorreram devido ao não reconhecimento facial do proprietário do bilhete cadastrado na hora de passar o cartão.
O problema é que esses bloqueios estão sendo feitos por causa de equívocos no momento de cobrar a passagem, afirmam usuários.
"O cartão do meu marido foi bloqueado duas vezes", relata a aposentada Ana Maria, 66. "Na segunda vez, como ele não estava conseguindo passar, o próprio cobrador pegou o cartão e colocou na máquina, com isso a câmera registrou o rosto do cobrador e bloqueou na hora. Acho que falta informação sobre como funciona", completa.
Antes da implantação do sistema, era comum que os passageiros solicitassem ajuda de outros usuários para que realizassem a passagem do bilhete. Com isso, eles tinham a possibilidade de desembarcar pela porta da frente sem se expor a riscos como quedas dentro do coletivo —que nem sempre fica parado aguardando a movimentação segura desses usuários.
Outro problema diz respeito a quem tem problemas de locomoção, e precisa andar com ajuda de um acompanhante.
Desde que o sistema passou a funcionar, há dúvidas nas informações passadas pela central de cadastramento e renovação do benefício do Bem Especial.
Segundo funcionários, com a nova função os beneficiados que têm direito ao acompanhante deverão cadastrar somente uma pessoa no sistema. Essa pessoa deverá acompanhá-lo, não podendo ser substituída, pois o sistema não irá reconhecê-la.
Antes da instalação das câmeras, havia um cadastramento único junto ao sistema, mas qualquer pessoa a partir dos 18 anos podia acompanhar a pessoa com deficiência nos ônibus municipais.
A informação tem feito com que muitos usuários abram mão do direito e optem por cartões sem o benefício do acompanhante.
“Antes meu filho mais velho estava cadastrado, mas eu podia andar acompanhada de qualquer outra pessoa de minha confiança”, afirma a dona de casa Sandra Moraes, 48, que anda com auxílio de uma bengala.
Quando o filho não podia acompanhá-la ao médico, ela ainda contava com as irmãs, o marido ou uma amiga. “Agora não pode mais, querem que a gente escolha entre ter o direito ou correr risco andando sozinha”, reclama.
Em nota, a Prefeitura de Osasco afirmou que os beneficiados podem continuar com a prática do desembarque pela porta da frente. Mas enfatizou a necessidade de ir até a catraca, onde está o leitor.
"No caso de pessoas idosas ou deficientes que não consigam passar a catraca, eles podem desembarcar pela porta dianteira, porém precisam ir até a catraca para passar o cartão, devido ao reconhecimento facial", diz o texto.
Questionada sobre a implantação de um leitor de cartões na região dianteira do veículo para uso por idosos e pessoas com deficiência física ou intelectual, a assessoria diz que o sistema não permite adequações.
Sobre os acompanhantes dos usuários, a gestão afirmou que a orientação passada na central dos bilhetes está equivocada e que as normas para acompanhantes não mudaram.
“No sistema é cadastrado apenas um acompanhante. Porém, no momento que o requerente for utilizar o cartão, ele poderá passar com qualquer pessoa maior de idade”, diz a gestão.
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