Temporal inunda garagem de prédio e mata uma pessoa em São Paulo

Bombeiros ainda buscam um desaparecido no local, na zona norte

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São Paulo

O Corpo de Bombeiros encontrou o corpo de um idoso de 62 anos na garagem de um prédio na rua Ezequiel Freire, 35, em Santana (zona norte). Com a forte chuva, a água subiu até o teto.

Seis equipes dos bombeiros e um mergulhador continuam no local a procura de uma segunda pessoa.

Garagem de prédio na Rua Ezequiel Freire, 35, fica alagada devido à chuva
Garagem de prédio na Rua Ezequiel Freire, 35, fica alagada devido à chuva - 23.dez.2019 - Reprodução/TV Bandeirantes

As chuvas que atingem São Paulo na tarde de segunda (23) causaram transtornos na cidade. As regiões norte, leste, sudeste, central e a marginal Tietê foram as mais afetadas.

Até as 19h, o Corpo de Bombeiros havia recebido 106 chamados para enchentes e inundações, 19 para queda de árvores e quatro para desabamentos.

Na mesma região, na rua Voluntários da Pátria, altura do 2.220, uma pessoa ficou ilhada dentro de um veículo.

23.12.2019 - Alagamento na zona norte de São Paulo
23.12.2019 - Alagamento na zona norte de São Paulo - 23.dez.2019 - Reprodução/TV Band

Em Barueri (Grande SP), outro chamado para inundação: uma mulher está presa dentro de casa com os filhos.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a cidade tem 78 km de congestionamento —a média para o horário é 53 km. 

A cidade tem no momento três pontos de alagamento intransitáveis: avenida Raimundo Pereira de Magalhães, altura do 16.271, sentido bairro, no Jaraguá (zona oeste); na avenida Zaki Narchi, altura da avenida Cruzeiro do Sul, sentido centro, e na avenida Cruzeiro do Sul, altura da avenida General Ataliba Leonel, sentido Santana.

Sem plano

Como a Folha mostrou, apesar de exigido por lei há cinco anos, a cidade de São Paulo ainda não tem um plano de redução de riscos das chuvas —inexistência que virou motivo para abertura de inquérito pelo Ministério Público de São Paulo.

O Plano Diretor Estratégico (2014) exige que a cidade tenha um Plano Municipal de Redução de Riscos, com análise, caracterização e dimensionamento tanto das áreas de risco de inundação, deslizamento e solapamento quanto das famílias que vivem nessas regiões.

De acordo com a lei, esse plano deve definir ações e intervenções necessárias para fazer obras estruturais e adotar medidas de segurança e proteção, com fixação de prioridades, prazos e estimativas de custos e recursos necessários.

O documento elaborado pela prefeitura deve também definir estratégias para realocar os moradores dessas áreas de risco, quando necessário, de acordo com critérios técnicos objetivos.

A Promotoria investiga por que o plano ainda não foi elaborado. Em agosto, questionada pelo Ministério Público, a Secretaria de Governo Municipal da gestão Bruno Covas (PSDB) respondeu que o plano estava “na fase de atualização do mapeamento dos riscos geológicos-geotécnicos (deslizamento e solapamento de margens de córregos), bem como de elaboração do mapeamento de riscos a inundações e enchentes”.

A atualização do mapeamento não foi concluída, e, em outubro, o promotor Marcus Vinícius Monteiro dos Santos pediu que a prefeitura indicasse em até 30 dias a previsão de conclusão da elaboração do plano. 

Isso também não ocorreu. No último dia 18, a secretaria da Casa Civil pediu a prorrogação do prazo.

À Folha, o promotor diz que deve ajuizar ação contra a prefeitura para garantir que o plano seja elaborado.

“Todo ano, a gente vê riscos nesta época. Esse período naturalmente tem problemas e não há ações articuladas por parte do poder público. O que existe é Defesa Civil e a secretaria de Obras correndo para conter os estragos. A falta desse plano é extremamente grave”, afirma.

Os gastos com ações de combate a enchentes despencaram desde 2017, quando assumiu o agora governador João Doria (PSDB), que passou o cargo ao seu vice Bruno Covas pouco mais de um ano depois.

Até dezembro deste ano, a prefeitura gastou R$ 243 milhões nas seguintes ações, indicadas à reportagem como critérios a se observar na análise da execução do orçamento: gastos com intervenções no sistema de drenagem, manutenção de sistemas de drenagem, manutenção e operação dos sistemas de monitoramento e alerta de enchentes, obras e serviços nas áreas de riscos geológicos e obras de combate a enchentes e alagamentos.

É o menor gasto desde 2013. Em 2014, para se ter uma ideia, a prefeitura gastou R$ 840 milhões com essas ações, em valores corrigidos pela inflação.

O último mapeamento de risco geológico na cidade foi feito pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) há uma década, entre 2009 e 2010. O estudo identificou, à época, 407 áreas de risco, sendo que 29 mil famílias viviam em regiões de risco alto ou muito alto.

A prefeitura diz que a Defesa Civil vem desde 2015 atualizando esse mapeamento e que identificou outras 63 áreas de risco na capital.

Outro lado

Questionada, a gestão Bruno Covas não respondeu se tem um cronograma para elaborar o Plano Municipal de Redução de Riscos.

A prefeitura diz que ativou em 15 de novembro o Plano Chuvas de Verão 2019/2020, “compreendendo ações preventivas e emergenciais durante o período de maior índice pluviométrico, envolvendo não só a Defesa Civil como também diversas secretarias do município”.

A gestão diz que neste ano reformou 28,6 mil bueiros e bocas de lobo e limpou 102 mil deles. Afirma ainda que retirou 60 mil toneladas de detritos dos córregos da cidade, 161 toneladas de piscinões e 10,8 mil m³ de galerias e ramais.

A respeito da favela da Tribo, a prefeitura diz que a área está sendo monitorada, que fez interdições no local no último período de chuvas e que acionou a secretaria do Verde “para providências cabíveis”, sem especificar quais foram.

Quanto ao Jardim Pantanal, afirma que a região também é monitorada e que a subprefeitura da região se reuniu com secretarias na manhã de terça (10) para “traçar tratativas preventivas para o período de chuvas”, também sem dizer o que foi decidido.

Erramos: o texto foi alterado

O título desta reportagem afirmava, incorretamente, que esta foi a primeira morte causada pelas chuvas em São Paulo no ano. A cidade já teve outras ocorrências, como em março.

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