Cidade não foi pensada para pessoas, diz fotógrafa que criou exposição de rostos gigantes em SP

Retratos embaixo do Minhocão buscam mostrar diversidade e criar encontros, diz artista

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

“Ninguém fixa o olhar em ninguém em São Paulo. As pessoas andam de cabeça baixa na rua. Parecem estar sempre blindadas umas às outras.”

Essa miopia social inquieta a fotógrafa Raquel Brust desde que ela precisou deixar Porto Alegre, em 2006, para viver na metrópole.

Brust vê na arquitetura da capital paulista, que ela considera equivocada, um muro que impede o estabelecimento de relações mais humanizadas. Tudo porque, diz ela, o espaço urbano “não foi pensado para as pessoas”.

Painel com rosto gigante colado em coluna do elevado Presidente João Goulart, no centro de SP
Painel com rosto gigante colado em coluna do elevado Presidente João Goulart, no centro de SP - Rubens Cavallari/Folhapress

Desse limão amargo a fotógrafa vem fazendo uma boa limonada, forçando encontros e driblando a correria em espaços onde as pessoas, antes, apenas passavam.

Foi misturando cliques entre anônimos e figuras representativas em suas respectivas áreas, com seus rostos ampliados ao limite, que Brust volta às ruas de São Paulo com a 10ª edição de seu projeto “Giganto”.

Mais uma vez, o elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, no centro da capital paulista, foi o ponto escolhido para a exposição.

As pilastras que sustentam o elevado na rua Amaral Gurgel, na Vila Buarque, servem de suporte para 29 megapainéis que ficarão dispostos nos dois lados das colunas. A instalação, que começou na terça-feira (3), será concluída nesta semana.

E não adianta virar o rosto, brinca Brust. “Os painéis têm 6 m de altura por 3 m de largura. É impossível não vê-los, e é essa a intenção do projeto”, diz.

Em 2013, a fotógrafa usou as mesmas pilastras do Minhocão, onde fixou 20 retratos de moradores do elevado, de transeuntes e de moradores de rua que buscam abrigo sob o elevado.

Neste ano, o “Giganto” volta ao Minhocão tocando num tema sensível: a diversidade. Se você passar na Amaral Gurgel terá a chance de ver uma miscelânea de rostos que vão do da drag Rita von Hunty ao de Akin Cavalcante, ator negro com marcas expressivas de vitiligo na face.

O casting ainda tem Bruna Marsanovic, atleta cadeirante de rúgbi; Leonardo Gleison Ferreira, deficiente visual; Preta Ferreira, líder do MTSC (movimento pró-moradia); e Wallie Ruy, atriz e mulher trans, entre outros.

“Eu escolhi a dedo cada uma dessas pessoas. Juntas, elas formam uma unidade, uma tentativa pela busca da empatia nesses tempos tão difíceis”, conta a idealizadora.

Brust não sabe quanto tempo a instalação ficará à mostra. “A permanência deles [painéis] dependerá dessa troca com as pessoas que habitam e trafegam por aquela estrutura”.

O projeto marca o início da nova etapa do projeto MAR (Museu de Arte de Rua), da Secretaria Municipal de Cultura, que prevê uma série de intervenções artísticas em todas as regiões da cidade.


Projeto Giganto – Diversidade
Onde pilastras do Minhocão (r. Amaral Gurgel)
O que é exposição ao ar livre de fotografias ampliadas de 29 personalidades, entre elas artistas, líderes indígenas e de movimentos pró-moradia
Quando desde terça (3)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.