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Com trenó feito de materiais reciclados, aposentado vira Papai Noel em Suzano

Há 22 anos, Thomaz Fidalgo visita periferias, escolas e hospitais dos quatro cantos da cidade, de forma voluntária

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Bruna Nascimento
São Paulo | Agência Mural

“Todo mundo me conhece”, afirma o aposentado Thomaz Fidalgo, 67, morador de Suzano, na Grande São Paulo. Mas logo em seguida corrige. “Todo mundo conhece o Papai Noel, a mim, poucos conhecem”, explica ele, que atua de forma voluntária pelas ruas do município.

Fidalgo se veste de Papai Noel há 22 anos e circula por boa parte dos bairros da cidade, em escolas, igrejas e hospitais. Para isso, criou um trenó motorizado feito de materiais reciclados.

Construiu o veículo sobre o chassi de um fusca. Usou madeira, resina e materiais como tambor, garrafas pet, box de banheiro e até mesmo pelos de cachorro, conseguidos em um petshop, para deixar a rena mais realista. Também colocou luzes, guizos e até sirene.

“Comprei um Fusca velho, mas não tinha muita noção das coisas. Tem coisas da vida que a gente não sabe explicar. [Pensava] ‘eu não sou artista, como que vou fazer?”, relembra Fidalgo. “Mas tá aí! Fui bolando, pegando materiais, perguntando para amigos artistas plásticos, fiz uns eixos doidos. Deu tudo certo”

O investimento no Natal começou por acaso. Thomaz conta que não se importava com a data celebrada em 25 de dezembro. Era seu cunhado que sempre se vestia de Papai Noel para as crianças da família.

Após a morte dele, precisou se fantasiar para agradar os filhos e sobrinhos, meio a contragosto, e gostou da experiência. “Foi aí que eu percebi que esse negócio de Natal é legal”, relembra. 

Ele, então, começou o trabalho. No primeiro ano, alugou uma charrete, depois um trenó improvisado era rebocado pelo carro do filho. Como sempre trabalhou com serralheria, decidiu melhorar a fantasia e iniciou o projeto para confeccionar o trenó que usa até hoje. Demorou cerca de um ano até ficar do jeito que queria.

Mesmo antes de se caracterizar, é possível perceber nele traços do Papai Noel, que vive no imaginário das crianças: o cabelo branco, o porte físico, o bigode e, principalmente, o jeito alegre. 

O espírito natalino também invade a casa onde ele vive com a esposa, a professora aposentada Rita de Cássia Fidalgo, 63, na Vila Amorim. 

O imóvel é todo decorado e até o banheiro ganha toques especiais. Ele capricha nos detalhes. Além do tradicional pinheiro, dos pisca-piscas e enfeites natalinos, há uma lareira feita de papelão, imagens gigantes de santos em um presépio e um duende, feito por ele com resina e materiais reciclados.

A casa conta ainda com um quarto onde os trajes, lavados e passados por Rita, ficam pendurados em uma arara, próximos das caixas que guardam sacos de balas. No quintal, um varal exibe os mais de 20 pares de luvas brancas penduradas. Uma verdadeira casa do bom velhinho.

“Eu quero ser um Papai Noel bonito”, diz Fidalgo. Ele ressalta que vê o trabalho como uma ação social, por isso anda por vários cantos de Suzano: “Quem tem dinheiro vai ao shopping, mas tem criança que nunca viu um Papai Noel.” 

A agenda é cheia. Neste ano, ainda nos primeiros dias de dezembro, visitou mais de 20 escolas. Apesar das dificuldades, como o cansaço e os gastos que chegam a mais de R$ 1.000 por ano, sem contar manutenção e avarias com o veículo, ele afirma que “não pode parar. A criançada espera.” 

Quem cuida dos bastidores é a esposa. Thomaz diz que ela é uma verdadeira Mamãe Noel. “Pelo meu tamanho, estou mais para duende”, brinca Rita. Reservada, ela teve uma certa resistência no início, mas passou a gostar e a acompanhar as ações e vê o marido como um missionário. 

Rita lista as mensagens que querem levar. “Humildade, solidariedade, amor ao próximo, tolerância. O que o povo precisa”, diz. “O Natal é o brilho e a magia, mas quem tem coração solidário precisa ser assim o ano inteiro”.

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