Sem movimento, lojas fecham após obra do VLT que não saiu do papel em Cuiabá

Vagões estão estacionados no que passou a ser chamado de cemitério do VLT na capital

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Cuiabá

Há oito anos, Cuiabá foi remodelada para receber o VLT. As principais vias, tanto de Cuiabá quanto de Várzea Grande, tiveram seus canteiros centrais adaptados para implantação do modal. Árvores foram retiradas e algumas casas nas imediações foram desapropriadas e demolidas. 

Nas avenidas que abrigavam grandes comércios hoje, porém, é difícil encontrar algum estabelecimento aberto. 

Em vez da modernidade, as obras dificultaram o acesso à avenida, o que fez com que o movimento diminuísse e os recursos ficassem escassos. 

 
Trilhos do VLT na Avenida Fernando Correa, em Cuiabá, que tem obras paradas desde 2014
Trilhos do VLT na Avenida Fernando Correa, em Cuiabá, que tem obras paradas desde 2014 - Alair Ribeiro/Folhapress

Ao lado do aeroporto Marechal Rondon, o  que se vê são estruturas de concreto e vigas metálicas do que um dia seria o VLT

Nas demais avenidas, trilhos abandonados são a única lembrança da promessa, cobertos de mato pelo abandono. 

Os vagões que por lá deveriam passar seguem estacionados no que foi denominado "cemitério do VLT". Embaixo de sol e chuva, eles se deterioram à espera da resolução do imbróglio.

Eleito no 1º turno das eleições de 2018, o governador Mauro Mendes (DEM) prometeu apresentar uma solução definitiva para a novela. Nesta semana, porém, admitiu que não conseguirá cumprir a promessa de campanha e adiou a definição dos rumos da obra para 2020.

"Eu realmente disse que em até um ano daria uma solução. Peço desculpas. Não foi possível. Nós criamos uma comissão e tivemos que colocar o governo federal, porque tem verba federal, tem financiamento feito pela Caixa Econômica”, disse o governador.

Desde julho de 2019 um grupo de trabalho com representantes da Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana e do governo do Estado estuda a viabilidade da construção do VLT. Em novembro, o grupo pediu prazo de 120 dias a mais para estudo, sob o argumento da complexidade do modal.

No início do mês, o estado contratou uma empresa para atualizar os dados de demanda e apresentar estudo de viabilidade econômico financeira nas modalidades, por R$ 464,3 mil.

De acordo com o estado, o estudo visa saber o valor da tarifa que o VLT deverá cobrar caso entre em funcionamento. Atualmente, a passagem de ônibus na Capital custa R$ 4,10.

Porém, em 2016 o estado já havia contratado uma empresa para fazer o mesmo estudo. Na época constatou-se que, cobrando o mesmo que a tarifa de ônibus, o estado teria que investir R$ 37 milhões por ano para manter o funcionamento do VLT. 

A contratação do novo estudo foi exigência da Secretaria de Mobilidade Urbana, do governo federal, e vai subsidiar o relatório final de grupo de trabalho para embasar escolha do modal utilizado.

 
Estação abandonada do VLT de Cuiabá, que tem obras paradas desde 2014
Estação abandonada do VLT de Cuiabá, que tem obras paradas desde 2014 - Alair Ribeiro/Folhapress

Um relatório entregue no final do ano passado pela gestão passada para a equipe de transição do atual governo apontava que, para retomar as obras do VLT a partir de deste ano e concluí-las dentro de um prazo de 20 meses, o governo do Estado teria que investir cerca de R$ 400 milhões.

Para isso, o Executivo teria que realizar um procedimento de manifestação de interesse (PMI), o que abriria as portas para empresas interessadas em tocar a obra realizarem uma parceria público-privada (PPP) com o Estado.

Segundo o relatório, a redução dos custos para concluir o VLT teria como principal motivo a readequação do projeto inicial, o que inclui a exclusão de viadutos e trincheiras que seriam construídos. 

As plataformas de embarque e desembarque nas 32 estações, projetadas com largura de 5 metros, passariam a ter 3 metros. A mudança impactaria o custo, principalmente porque o estado não teria que realizar mais desapropriações de áreas.

Apesar do imbróglio, existe dentro do governo quem defenda o abandono do VLT e a construção de um BRT (via expressa de ônibus com pagamento antecipado da passagem). 

Já nas ruas da capital, o tema divide a população. Para o desossador José Ricardo Cardoso Pereira, 49, que depende do transporte público, a conclusão do VLT diminuirá as horas perdidas no trânsito todos os dias para ir e voltar ao trabalho.

“Tem que terminar sim porque é melhor para todo mundo. Querem destruir tudo o que foi feito. Mas o certo é terminar tudo, não pela metade", afirma José Ricardo.

“Destruíram as coisas, agora tem que continuar. Deixaram a cidade em péssimas condições, mas tem que voltar, já está há cinco anos parado. Agora depende do pessoal [políticos] fazer acontecer”, defende o vigilante Roberto Alves, 59.

Já a auxiliar administrativa Carmem Lúcia de Souza, 56, não vê vantagem em gastar ainda mais nas obras do VLT. “Eu acho que deve desistir. Já gastou o que tinha que gastar e ainda trouxe transtornos para o trânsito. Já replantaram grama em vários lugares, é melhor largar mão e colocar dinheiro na educação e na saúde, que estão precisando.”

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