Água usada na produção de cerveja em MG estava contaminada, diz ministério

Contaminação ocorreu dentro da empresa, segundo Agricultura; lotes afetados passaram por diversos tanques

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou nesta quarta-feira (15) que inspeções feitas dentro da cervejaria Backer apontaram que água usada na produção da cerveja Belorizontina estava contaminada com as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol, proibidas em alimentos. 

A substância dietilenoglicol foi encontrada no sangue de pacientes que apresentaram sintomas da síndrome nefroneural, que pode estar associada ao consumo da cerveja da marca. Duas mortes já foram confirmadas e uma terceira está em investigação.

Análise do ministério em amostras de produtos nos supermercados e nos tanques aponta que a contaminação ocorreu dentro da cervejaria.

“Conseguimos evidenciar que a água que tem contaminação com glicol estava sendo utilizada no processo cervejeiro. Não conseguimos informar como ocorre a contaminação do tanque de água gelada, se é nesse tanque ou em etapa anterior. Nenhuma hipótese é descartada até o momento”, diz o coordenador-geral de Vinhos e Bebidas, Carlos Vitor Müller.

A cerveja Belorizontina, associada a casos de síndrome nefroneural em MG
A cerveja Belorizontina, associada a casos de síndrome nefroneural em MG - Washington Alves/Reuters

Entre as hipóteses investigadas estão sabotagem, vazamento e utilização incorreta da substância, usada para resfriamento —mas que não poderia entrar em contato com a água usada na produção da cerveja. "Ambas as moléculas não podem entrar em contato com a cerveja e são letais em certa quantidade", diz Müller.

De acordo com o coordenador, o processo de produção ocorria em um sistema de contrafluxo. "De um lado sai água quente, de outro gelada. Essa água quente é guardada e utilizada posteriormente no processo de produção de cerveja. Ela é despejada na produção de cerveja efetivamente", diz.

Ainda segundo a pasta, resultados de análises mostram que o problema ocorre em vários lotes da marca da cerveja Belorizontina. Ou seja, a contaminação não estava restrita apenas a um tanque.

“Fizemos análise dos relatórios de produção desses lotes e vimos que esses lotes não estavam restritos em um ou outro tanque de produção. Passamos a abordar essa possível contaminação como algo sistêmico e que possa ocorrer em etapa anterior à fermentação”, afirma o coordenador.

De acordo com a pasta, os controles de produção demonstram que "os lotes já detectados como contaminados passaram por distintos tanques, afastando a possibilidade de ser um evento relacionado a um lote ou tanque específico".

A Backer nega uso do dietielenoglicol, mas afirma que usava o monoetilenoglicol para resfriamento. Questionada sobre os resultados da análise do Mapa, a empresa não respondeu. Disse apenas que "aguarda os resultados das apurações e continua à disposição das autoridades". 

Segundo o ministério, notas de aquisição de insumos pela empresa que foram analisadas apontam um consumo elevado de monoetilenoglicol na cervejaria.

“Esse insumo normalmente não é consumido em volume elevado. A aquisição pode justificar a ampliação do parque fabril, ou alguma falha nesse produto, de forma que está gastando acima do esperado”, diz Müller.

Foram adquiridas 15 toneladas do produto desde 2018, com picos de aquisição em novembro e dezembro. A equipe analisa se houve um processo de transformação do monoetilenoglicol em dietilenoglicol. 

Em nota, a Backer que precisou aumentar a compra de monoetilenoglicol "para atender a demanda de ampliação constante da sua planta produtiva". No período, foram adquiridos 29 novos tanques de fermentação, informa. 

Diante do quadro, o Mapa informou que irá manter o fechamento cautelar da cervejaria Backer por tempo indeterminado até que haja provas de que há condições seguras para produção.

Na segunda-feira (13), a pasta intimou a cervejaria Backer a recolher do mercado todas as cervejas e chopes produzidos entre outubro de 2019 até a data atual.

A ação vale para o conjunto de produtos da marca, e não apenas para a cerveja Belorizontina.

A comercialização foi suspensa "até que seja descartada a possibilidade de contaminação de demais produtos". Os produtos ainda estão sendo verificados. Análise em amostras das cervejas Belorizontina e Capixaba confirmaram a presença de monoetilenoglicol e dietilenoglicol.

Na última semana, o ministério já havia realizado o fechamento cautelar da unidade Três Lobos da cervejaria em Belo Horizonte. Também foram apreendidos 139 mil litros de cerveja engarrafada, além de 8.480 litros de chope.

O Procon de São Paulo notificou a cervejaria e pediu que ela informe se distribuiu ou vendeu diretamente a consumidores cervejas dos lotes comprometidos ou outros produtos. Além disso, o órgão de proteção ao consumidor solicitou informações sobre como será o recolhimento de produtos e ressarcimento dos compradores em São Paulo.

Minas tem terceira morte por suspeita de contaminação de cerveja

A Polícia Civil de Minas Gerais informou a morte de mais uma pessoa com sintomas da síndrome nefroneural, doença que estaria relacionada a contaminação de cervejas da marca Backer.

Investigações sugerem que o quadro é causado por contaminação por dietilenoglicol, substância encontrada em garrafas da cerveja Belorizontina e Capixaba, da fabricante mineira.

Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, Glauco Bertoldo, foi encontrada a presença de dietilenoglicol e monoetilenoglicol nas amostras de sangue das vítimas.

Presente em lotes da bebida, a substância dietilenoglicol causa sintomas como insuficiência renal, alterações neurológicas, vômitos e diarreias.

O paciente morreu na manhã desta quarta-feira (15), em Belo Horizonte. Ele estava internado no Hospital Mater Dei, na capital mineira. O corpo será encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), onde passará por exames e procedimentos de perícia.

Há ainda um terceiro caso suspeito, em Pompéu (MG).

A morte de uma mulher de 60 anos no município mineiro foi notificada pela prefeitura, mas ainda não contabilizada pela polícia. A Secretaria de Saúde de Pompéu diz que a paciente esteve em Belo Horizonte a passeio na casa de parentes entre os dias 15 e 21 de dezembro no bairro Buritis, região oeste da capital.

De acordo com a pasta, ela apresentou os sintomas da síndrome nefroneural e morreu em 28 de dezembro. O Pronto Atendimento onde estava internada entrou em contato com a família, que relatou que a mulher bebeu a cerveja Belorizontina.

Dados do último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais apontam 17 pacientes internados com sintomas da síndrome nefroneural no estado. Desses, 16 seriam do sexo masculino e um feminino.

Os casos notificados foram confirmados em Belo Horizonte (12) e em Ubá, Viçosa, São Lourenço, Nova Lima e São João Del Rei. A secretaria não finalizou as análises do caso da mulher de Pompéu.

Empresa pede que clientes não bebam cervejas Belorizontina e Capixaba

A diretora de marketing da Backer, Paula Lebbos, pediu na terça-feira (14) que os consumidores não bebam as cervejas Belorizontina e Capixaba, independentemente do lote. Lebbos afirmou que a empresa passa por vistorias constantes, todas auditadas, e que ainda não tem informações sobre o que pode ter causado a contaminação. "Nós fomos surpreendidos, assim como vocês", disse.

A empresa diz que a substância dietilenoglicol não faz parte de nenhuma etapa do processo de fabricação de seus produtos. Em nota, afirma que mantém atualmente o foco em pacientes e familiares. Diz ainda colaborar com as investigações.

Nos últimos dias, depois de voltar atrás da afirmação que recorreria à Justiça por causa da determinação do Ministério da Agricultura de recolher todos os rótulos da Backer e que acataria a ordem, a cervejaria confirmou que acionou, sim, a Justiça. Em nota, diz que assim o fez "porque precisa de mais tempo para se programar para atender, da melhor maneira possível, a medida de recall" solicitada pelo ministério.

A Backer produz as seguintes marcas, que estão envolvidas no recall pedido pelo ministério: Belorizontina, Capixaba, Backer Pilsen, Backer Trigo, Backer Pale Ale, Backer Brown, Medieval, Pele Vermelha IPA, Bravo, Exterminador de Trigo, Três Lobos, Capitão Senra, Corleone, Tommy Gun, Diabolique, Pilsen Export, Bohemia Pilsen, Julieta, Backer Reserva do Proprietário, Fargo 46, Cabral e Cacau Bomb. 

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.