Quando a maré baixa no litoral próximo à praia de Pipa, um banco de areia surge no meio da lagoa de Guaraíras —distante 7 km do famoso destino turístico.
Pequenos barcos de pesca chegam ao final da tarde com turistas para observar o pôr-do-sol. É a última parada de um passeio que dura seis horas e que tem a gastronomia como principal atrativo.
A lagoa de Guaraíras é uma APA (Área de Preservação Ambiental) e apenas 11 embarcações têm autorização para navegar com turistas. Dessas, três oferecem o passeio gastronômico que, além de servir comida e bebida, ensina a pescar mariscos e coloca turistas em contato com pescadores.
Praticamente todos os peixes e crustáceos servidos a bordo são adquiridos ao longo do passeio ou retirados da água pelos turistas.
Uma das seis paradas no trajeto é o convite para pescar mariscos do fundo da lagoa. "Não tem segredo: vá tateando na areia e logo vai encontrar umas bolinhas parecidas com pedras. É marisco", diz Carlos Frederico, que comanda uma das três empresas que oferecem o atrativo.
Em 15 minutos, dez turistas conseguiram pescar cerca de duas centenas de mariscos, servidos com limão e azeite depois de serem grelhados.
A pequena Isabella, 4, era a pescadora das mais animadas. "Ela não para nem para conversar", comentava a mãe, Viviane Moretti. Foi no passeio que Isabella comeu marisco pela primeira vez. "Ela gostou mesmo", observava Viviane.
Em outro ponto, o barco atraca para comprar ostras e mexilhões de Adailma de Almeida, 47, que desde os 10 anos trabalha pescando na lagoa. "Criei meus dois filhos tirando ostra e marisco dessas águas. A menina é formada, graças a Deus; e o menino me ajuda. Aqui é meu mundo", diz ela enquanto servia ostras frescas com azeite e limão.
"É bom? Como come isso? Pode morder?", questionavam os argentinos Marcelo Quiroga, 46, e Verônica Barrionuevo, 41. Mariscos, mexilhões, camarões e peixes fazem parte do cardápio. Há, também, 15 tipos de frutas diferentes, espetinhos de frango e carne, saladas e bruschettas. Por vezes, os petiscos são servidos flutuando em boias enquanto os turistas se banham.
Ao longo da viagem, há também explicações sobre a história da lagoa, que até 1924 não tinha contato com o mar. Naquele ano, uma forte maré rompeu a barreira que separava o reservatório do mar e a lagoa se transformou em uma grande baía com 8 km² de área navegável e cerca de 2 km de distância entre as margens.
O passeio gastronômico é feito em barcos artesanais de dois tamanhos: um acomoda até 12 turistas e o outro, 46.
"Escolher o barco depende da quantidade de reservas", diz Carlos Frederico. As embarcações menores eram antes usadas em pesca marítima.
"A gente adaptou esse pequeno barco para o passeio há mais de dez anos. Construímos uma cozinha aberta com churrasqueira e hoje só é usado para turismo".
A migração da pesca para o turismo ocorre também entre a população que vive nos arredores de Pipa. No barco Solemio, de Carlos Frederico, o comandante da embarcação, José Modesto, 63, trocou a pesca pelos passeios turísticos.
"Trabalhei muito pescando lagosta em alto-mar. Mas a lagosta sumiu e o turismo abriu mais vagas. A gente se adaptou", disse.
Ele trabalha ao lado do filho, também chamado José Modesto. "Nunca trabalhei na pesca. Já comecei no turismo. Garçom, camareiro, bugueiro"¦ já fiz de tudo", disse enquanto grelhava peixes.
A lagoa, assim como Pipa, fica no município de Tibau do Sul, distante 81 km de Natal. O passeio gastronômico inclui comida e bebida e é feito diariamente.
Os preços variam entre R$ 200 e R$ 225 por pessoa. Questionado sobre o que achou da experiência, o português Diogo Tiago, 35, responde com uma pergunta: "Como faço para morar aqui e trabalhar nesse barco?".
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