Gestão Covas descumpre promessa e ciclofaixas de domingo desaparecem

Há quatro meses faixas não são ativadas em SP; bicicletários públicos foram fechados

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São Paulo

A Prefeitura de São Paulo não cumpriu a promessa de retomar até novembro do ano passado as ciclofaixas especiais de domingos e feriados na cidade, e o programa, que funcionou por 10 anos, está suspenso há quatro meses.

Enquanto a gestão Bruno Covas (PSDB) coloca holofotes sobre um novo plano cicloviário, com criação de 173 km a mais de faixas exclusivas para bicicletas, a cidade perdeu um de seus programas de maior sucesso na área, o Ciclofaixa de Lazer.

Além disso, foram fechados dois bicicletários públicos em importantes rotas de ciclistas na capital paulista, e estacionamentos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) perderam 70 de suas 85 vagas para bicicletas.

O programa Ciclofaixa de Lazer foi criado em 2009 e reservava uma faixa do trânsito para bicicletas aos domingos e feriados em 117 km de vias.

O patrocínio vinha da Bradesco Seguros, que bancava a disposição de cones, funcionários em todos os cruzamentos para garantir a segurança de ciclistas e 50 mecânicos. 

Ciclofaixa de Lazer na avenida Paulista, em São Paulo
Ciclofaixa de Lazer na avenida Paulista, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 2.set.2012/Folhapress

Em 25 de agosto, a empresa interrompeu a parceria, e as faixas não são ativadas desde o primeiro domingo de setembro —já foram 25 domingos e feriados desde então.

A prefeitura abriu concorrência para operar de forma emergencial o programa e anunciou que as faixas voltariam já em novembro, mas as empresas postulantes não se adequaram à proposta.

A prefeitura desistiu da contratação emergencial e, em dezembro, abriu consulta pública para o processo regular. A minuta do edital prevê a ativação das ciclofaixas por 62 dias ao longo de 2020 —mas as faixas já não funcionaram no primeiro domingo previsto. O custo estimado é de R$ 22,2 milhões, R$ 360 mil por domingo ou feriado. 

A prefeitura diz que “está consolidando as sugestões recebidas e elaborando a versão final do edital, garantindo a reativação deste importante projeto para a cidade.”

O cicloativista Daniel Guth coordenou a criação do programa, em 2009. “Foi uma política fundamental para colocar novos ciclistas nas ruas, permitiu que muita gente tirasse a poeira de suas bicicletas, e foi uma preparação de terreno para políticas efetivas nesse campo, como a construção de novas ciclovias na cidade”, afirma ele.

Pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas), da qual faz parte, enviou ofício à prefeitura com sugestões que podem baratear o programa, como colocar funcionários apenas em cruzamentos perigosos, e não em todas as esquinas, e aumentar o espaço entre os cones.

Morador da Penha, na zona leste, o balconista João Alexandre Binotti, 38, se sentia mais seguro com as ciclofaixas. “E olha que eu tenho experiência, pedalo há 20 anos. Mas a sensação é bem melhor, até mesmo para os motoristas. Conheço muita gente que começou a pedalar aos domingos”, diz ele.

“Aqui na zona leste não tem tanta opção de lazer. Tinha gente também que corria, andava de skate, é uma opção a mais. E também havia quem ganhava dinheiro com isso, vendia água, levava o pessoal para andar de triciclo, quadriciclo”, afirma.

Além do fim das ciclofaixas, dois bicicletários públicos foram fechados.

O bicicletário Praça dos Arcos ficava no fim da avenida Paulista, no cruzamento de duas ciclovias movimentadas, e funcionava desde 2015 —era preciso apenas fornecer CPF para deixar a bicicleta.

No começo, a estrutura funcionava por 24 horas. Depois o horário foi restringido e o local passou a fechar de madrugada, até o serviço ser interrompido completamente no último dia de dezembro.

Outro bicicletário público próximo ao metrô Paraíso, que existia desde 2017, com 52 vagas, também foi fechado em 31 de dezembro.

Essas estruturas eram operadas pela Tembici, com patrocínio do banco Itaú e parceria com a prefeitura. Há outros dois do tipo, um no largo da Batata (zona oeste) e outro no Terminal Cidade Tiradentes (zona leste), que continuam em funcionamento.

À Folha, a Tembici afirmou que “as características de uso dos espaços não eram compatíveis com o escopo dos projetos”, mas não esclareceu quais seriam essas características.

A empresa se recusou a responder quanto custava a operação, quantos ciclistas eram atendidos mensalmente e se há previsão de fechamento de outros espaços, alegando que são informações estratégicas.

A Prefeitura de SP não explicou porque os bicicletários foram fechados. Disse apenas que “a empresa Itaú Unibanco oficiou a administração regional sobre a decisão”.

Para Daniel Guth, o bicicletário da Praça dos Arcos ganhou ainda mais relevância no último ano. “Passou a ser usado muito também por entregadores de aplicativo. Essa é uma região com muita oferta de restaurantes e demanda de pedidos, e os entregadores trabalhavam e deixavam a bicicleta lá à noite, para voltar para casa de transporte público. Esse pessoal é duplamente penalizado”, afirma.

A prefeitura também reduziu a capacidade dos bicicletários em estacionamentos da CET. Na praça Roosevelt, no centro, o estacionamento funcionava por 24 horas e tinha capacidade para 40 bicicletas. Hoje, funciona das 6h às 22h e só aceita 5 bicicletas.

O estacionamento da CET no Terminal Pinheiros, zona oeste, tinha capacidade para 25 bicicletas, mas hoje recebe apenas 5. O do Terminal Jardim Ângela, na zona sul, também teve redução, de 20 para 5 unidades.

A gestão Bruno Covas diz que os estacionamentos dos terminais Pinheiros e Jardim Ângela tinham baixa demanda, e que no da Roosevelt houve “utilização irregular”, com bicicletas deixadas lá por meses. A prefeitura diz que acompanha a demanda de bicicletas e “poderá readequar o número de vagas”.

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