Grupo alerta para crimes e cobra polícia em Higienópolis

Movimento tenta aproximação com PM em vez de contratar segurança privada

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São Paulo

“Me dá esse celular que você colocou no bolso.” Foi o que um jovem de 15 anos, morador de Higienópolis, ouviu ao entrar no prédio em que mora, após ser seguido por dois homens desde o shopping que fica na rua de trás de sua casa (veja o vídeo abaixo).

Esse tipo de assalto, somado a invasões de prédios, preocupou moradores a ponto de criarem um movimento para vigiar o bairro e cobrar mais segurança das autoridades.

O Movimento Higienópolis foi criado pelo empresário Roberto Piernikarz há cerca de dois anos, após sua avó sofrer quatro assaltos em um curto período, e, agora, tem ganhado espaço e também novos contornos com a mudança na liderança.

Piernikarz não mora em Higienópolis e está dedicado a outros projetos, o que abriu espaço para o também empresário Eduardo de Abreu Sodré.

Em setembro, Sodré passou a coordenar os mais de 600 moradores que se inscreveram (com telefone, email e endereço) para participar de grupos de WhatsApp, grupo de email e grupo fechado de Facebook, usados para alertas de possíveis assaltantes e para dicas de segurança.

Alertas, denúncias, fotos e vídeos de crimes são compartilhados nos grupos de WhatsApp. Sodré diz que busca desestimular o sentimento de ódio nos moradores. Ele ressalta que o grupo tem opiniões divergentes, mas respeitosas. 

O movimento aposta, ainda, no que classificam como o caminho mais difícil, que é cobrar das autoridades as mudanças desejadas, o que representa uma opção melhor do que contratar empresas de segurança. “Estaríamos criando milícias e, ao mesmo tempo, desvalorizando o trabalho dos policiais”, afirma. 

A valorização do trabalho dos policiais, a quem Sodré chama de heróis, é um dos pilares do movimento e levou a uma ação que buscava dar suporte aos servidores que trabalham em rondas no bairro. 

Em setembro, o empresário produziu placas para comércios do bairro. “Policial, aqui você tem: água, café e banheiro”, diziam os cartazes. O objetivo era mostrar o apoio da comunidade aos servidores, mas o tiro saiu pela culatra.

Donos de restaurantes e bares reclamam que clientes deixaram de frequentar estabelecimentos porque placas sugeriam que a região estava insegura. Outros, supostamente críticos à atuação da PM, passaram a evitar os locais porque seriam “bares de PM”.

Os próprios policiais também se queixaram da ação e teriam enviado reclamações, como “acham que a gente não pode nem pagar uma água”. Os cartazes foram removidos de restaurantes, bares e padarias, mas mantidos em comércios como lojas e salões. 

Para muitos dos integrantes do movimento, a segurança na região é precária devido à falta de iluminação, de patrulhamento e, especialmente, devido à presença de moradores de rua e usuários de drogas. 

Em uma publicação de 22 de setembro, no grupo no Facebook, moradores listaram a presença de mendigos e pedintes como um dos problemas do bairro. Uma integrante pedia que os moradores de rua fossem retirados do bairro. Ela é questionada por outra: “retirar para onde?”.

Quem também se incomoda com a quantidade de moradores de rua é a arquiteta e designer industrial Marianne, mãe do jovem cujo relato abre a reportagem e que preferiu não dar seu nome completo.

Karla Regina Teixeira, delegada titular da Polícia Civil do 4º DP da Consolação, conta que conheceu Sodré em uma reunião do Conseg (coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança).

Ela afirma que as demandas do movimento foram recebidas e atendidas na delegacia —como costuma ser feito em qualquer caso— e nas reuniões das coordenadorias. Teixeira confirma que os principais crimes da região são furtos e roubos de celulares.

Segundo o movimento, depois que os moradores passaram a cobrar autoridades públicas houve uma operação de patrulhamento ostensivo da PM na região, que incluiu policiais a pé, de bicicleta, moto, carro e também a cavalo. 

“Antes [da operação da PM] havia cinco ou seis celulares roubados por dia. Agora são dois ou três, mas os números da polícia podem ser menores, porque os munícipes não fazem o boletim de ocorrência. Isso é algo que estamos incentivando”, afirma.

Procurada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) afirma que ações integradas da Polícia Civil e Militar em Higienópolis levaram à prisão de 363 pessoas e à recuperação de 73 veículos roubados. Ainda de acordo com a SSP, as operações de patrulhamento são reorientadas de acordo com os indicadores criminais de cada bairro. 

Não foram enviados dados referentes a invasões e roubos e furtos de celulares. 

A investida mais recente do movimento aconteceu em 9 de dezembro. Sodré se encontrou com o secretário de Segurança Urbana da cidade, José Roberto Rodrigues de Oliveira, para discutir a implementação do projeto City Câmeras, lançado pelo ex-prefeito e atual governador João Doria. 

Faltando um ano para o prazo para instalar 10 mil câmeras na cidade, foram instaladas apenas 2.940. O encontro foi organizado pelo vereador e apoiador do movimento Caio Miranda (PSB).

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