Lavagem do Bonfim reúne bloquinhos e protestos em meio à religiosidade em Salvador

Nas ruas, evangélicos distribuíam "fitinhas do senhor Jesus" em substituição às do Senhor do Bonfim

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Salvador

O primeiro pelotão foi correndo. O segundo, rezando. O terceiro, buscando votos. O quarto, protestando. O quinto, bebendo e dançando. E ainda teve ainda aquele que nem saiu: preferiu ficar nos arredores do Mercado Modelo e comer feijoada ainda nas primeiras horas da manhã.

No calendário das festas de largo do verão de Salvador, a Lavagem do Bonfim é aquela que sumariza o caldo de cultura que representa a Bahia. O culto a Oxalá, no candomblé, e ao Senhor do Bonfim, no catolicismo, estão lá. Mas a festa vai muito além do seu lado religioso.

Nesta quinta-feira (15), não foi diferente. Cerca de um milhão de pessoas, segundo estimativas da prefeitura de Salvador, participou do cortejo de 6,4 km entre a Basílica da Conceição e a Basílica do Bonfim.

A festa começou às 7h com a partida da Corrida do Bonfim, na qual atletas profissionais e amadores percorrem correndo o trecho do cortejo.

Na sequência, foi iniciada a cerimônia religiosa da festa, com a celebração e um ato ecumênico no adro da Basílica da Conceição da Praia. Dali, a imagem do Senhor do Bonfim partiu para o cortejo no andor em cima de uma camionete decorada como uma caravela.

A decoração fez referência aos 275 anos da travessia que trouxe a imagem do Senhor do Bonfim para Salvador. A imagem peregrina veio de Setúbal, em Portugal e atravessou o oceano Atlântico em 1745 para cumprir uma promessa do capitão de mar e guerra Theodósio Rodrigues de Faria.

As homenagens ao Senhor do Bonfim começaram em 1754, quando a imagem peregrina foi transferida da Igreja da Penha, em Itapagipe, para a Igreja do Bonfim, construída na Colina Sagrada.

A tradição do cortejo começou em 1773, iniciada por romeiros e escravos que, a mando dos senhores integrantes da Irmandade do Senhor do Bonfim, limpavam e enfeitavam a igreja para a missa. Ela se repete há 247 anos, sempre na segunda quinta-feira após a festa do Terno de Reis.

Neste ano, 49 entidades participaram da festa. Grupos musicais percorreram o cortejo em pequenos carros de som, além de bandas de sopro e percussão —desde 1998, os trios elétricos são proibidos na festa.

Nas ruas, rodas de capoeira, grupos de mascarados, grupos de samba de roda e até mesmo evangélicos que distribuíam suas fitinhas do senhor Jesus em substituição às do Senhor do Bonfim.

Também participaram os partidos políticos e seus respectivos pré-candidatos, que buscam na festa um lugar ao sol. Sindicatos lideraram protestos contra a reforma da Previdência do governador Rui Costa (PT) e o contra o aumento da passagem de ônibus, mirando o prefeito ACM Neto (DEM).

Completaram o cortejo grupos de entidades católicas, que desfilam uma hora antes do início oficial do cortejo, além de blocos afro, afoxés e representantes de terreiros de candomblé.

O cortejo terminou por volta das 13h na Colina Sagrada, onde a imagem do Senhor do Bonfim foi recebida com palmas, cânticos e fogos de artifício. E os fiéis começaram a rezar, fazer seus pedidos e amarrar fitinhas no gradil da igreja.

Na sequência, o ponto alto da festa: as baianas emendaram a tradicional lavagem das escadarias e do adro da basílica. Com seus jarros com folhas e água de cheiro, abrem os caminhos para mais um ano sob as bênçãos de Oxalá e do Senhor do Bonfim.

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