A pioneira da agroecologia no Brasil cumpriu a missão de deixar uma contribuição para a humanidade. Ana Maria Primavesi era considerada uma visionária.
Austríaca, foi criada no campo, onde desenvolveu um olhar sensível e sábio para o solo. Lapidou seus conhecimentos na Universidade Agrícola de Viena. Em 1948, mudou-se para o Brasil após perder vários membros da família na 2ª Guerra Mundial.
Em terras brasileiras, precisou quebrar paradigmas. "Não é fácil criar o entendimento de que o solo tem vida, que dá a saúde à planta, e a saúde da planta dá saúde ao ser humano. Ela sabia olhar o solo em qualquer lugar do mundo", diz a filha, a agroecologista e psicopedagoga Carin Primavesi Silveira, 68.
Adeptos da alimentação orgânica devem um agradecimento a Ana Maria, hoje considerada uma das maiores pesquisadoras da agricultura sustentável e manejo ecológico do mundo, com mais de 20 livros publicados.
No dia a dia, era sábia em tudo o que realizava. Ótima cozinheira, preparava um strudel (doce austríaco) mais saboroso que o tradicional.
Colecionava dotes como bordado, pintura e costura. Amorosa, cultivou o dom de educar. Cinco minutos ao seu lado eram suficientes para adquirir conhecimento.
Assim como no solo, o cultivo ao longo da vida foi exemplar: boas ações e sentimentos nobres. Nunca remoeu problemas e mágoas. Resolvia e os deixava para trás.
Dona de uma saúde de ferro, como os antigos diziam, sempre comeu orgânicos. Na mesa caprichosa e com flores, que ela fazia questão de enfeitar, havia alimentos plantados por ela mesma.
Quando os filhos ficavam doentes, não utilizava medicação convencional, mas alternativa. "Minha mãe optava pela sabedoria dos índios, que trouxe de casa ou pela medicina chinesa. Uma vez, tive hepatite e pneumonia ao mesmo tempo e ela me curou", conta Carin.
Ana Maria Primavesi morreu dia 5 de janeiro, aos 99 anos, de parada cardíaca. Deixa dois filhos, seis netos e sete bisnetos.
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