'Os carros passavam como se fossem brinquedo', diz moradora de bairro atingido por enxurrada em BH

Número de mortos em decorrência das chuvas chega a 55 em menos de uma semana

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Belo Horizonte

As chuvas que atingiram a cidade de Belo Horizonte desde a noite desta terça-feira (28) fizeram com que a água chegasse atingir uma altura de cerca de 60 centímetros em áreas centrais da cidade, como o bairro de Lourdes. 

A força da água das chuvas arrastou carros, levantou pedaços de asfalto, arrastou árvores e pedras. Também invadiu garagens de prédios residenciais, deixando carros debaixo de água. 

No prédio de Érika Jorge, 43, ela chegou a 60 centímetros de altura, invadindo o carro dela, que também foi atingido pelo carro da vizinha, da vaga ao lado. 

“Nunca vi coisa igual. Os carros passavam pela rua como se fossem de brinquedo”, diz ela. 

A região centro-sul da capital foi a mais atingida no temporal desta terça. Em duas horas e meia, entre as 19h50 e as 22h20, choveu mais que a metade da média do mês de janeiro, 183,4 mm. A média é de 329,1 mm. 

Desde o início do mês até às 6h30 da manhã desta quarta, a região registrou acumulado de 956,8 mm de chuva, segundo a Defesa Civil de BH. 

O novo temporal deixou ao menos duas pessoas mortas e uma desaparecida. Com isso, chega a 55 o número de mortes em decorrência das chuvas desde a última sexta-feira (24). Ao todo, são 101 municípios em situação de emergência, 38.703 pessoas desalojadas (em casas de parentes ou outros locais) e 8.157 desabrigados —em locais oferecidos pelo poder público.

Na manhã de terça, comércios limpavam calçadas e interior das lojas. Ainda havia barro e pedras levantadas pela água. 

Um dos vídeos que viralizou nas redes sociais mostra clientes ilhados no restaurante Olga Nur, na esquina desta rua, vendo carros sendo levados pela água. O dono do local não quis se manifestar. 

Evandro Moreira Castro, 57, acompanhava o guincho levando o carro da sua mulher, um Honda HRV 2018.

O veículo, que estava novo, tinha marcas de batidas nas laterais e o capô destruído, depois de ser arrastado cerca de 300 m pela água.

A mulher dele estava jantando em um restaurante, quando a chuva começou. Ele pediu que ela ficasse no local até acalmar e só conseguiu buscá-la depois da meia-noite. 

“Isso aqui estava uma praça de guerra. Carros largados, pessoas sem saber o que faziam”, contou ele a Folha

Maria da Penha Miranda Soares, 65, tinha uma banca de jornais e revistas há 35 anos na praça Marilia de Dirceu. Quando chegou nesta manhã para trabalhar, encontrou o lugar arrasado. 

A banca, feita de metal, foi atingida por carros que estavam na rua e depois arrastada pela água. As portas de aço ficaram retorcidas, as prateleiras de vidro se quebraram, como em cenário de filme de desastre. Os produtos foram todos reunidos em sacos de lixo preto. 

“Nunca tinha acontecido algo assim. A gente fica fora do ar”, diz ela, calculando que o prejuízo tenha chegado a R$ 110 mil. “Começar do zero agora. Isso aqui é minha vida, meu sustento”.

No início da manhã desta quarta-feira, o Corpo de Bombeiros registrou mais de 800 ocorrências para vistorias de desabamento e desmoronamento.

A rua Marília de Dirceu virou um rio, segundo o empresário Gilson Portella Judice, 62. Os dois restaurantes que ele tem na região, uma pizzaria e um restaurante de comida japonesa, foram atingidos. 

Quando viu a força da água, subiu com os clientes para o mezanino da pizzaria em busca de abrigo. Ele conta que, nos 18 anos em que tem o ponto, a água tinha chegado no máximo até a calçada. 

“Todos os carros que estavam na rua foram levados, eram cerca de 50. Não sobrou um. A caçamba que estava aqui em frente, cheia, também foi arrastada”, conta ele. 

Na mesma região, depois da avenida do Contorno, o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais suspendeu atividades na manhã de quarta devido aos danos da chuva na avenida Prudente de Morais. 

Na mesma quadra do TRE-MG, uma agência de intercâmbio fazia a limpeza. Segundo Ana Paula Franco, 38, dona do local, todos os computadores queimaram e os documentos ficaram encharcados. Pela manhã, o local ainda tinha barro e poças d’água acumuladas.

Um dos principais pontos turísticos de Belo Horizonte, o Mercado Central teve seu entorno alagado pelas águas na noite de terça, algo inédito na região.

A água, porem, se manteve do lado de fora da maior parte do prédio. Algumas lojas foram afetadas na rua dos Goytacazes, que fica na parte mais baixa.

Desde a sexta-feira, quando o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) registrou o maior acumulado de chuvas desde que a medição começou, há 110 anos, Minas Gerais tem 55 mortos em decorrência das chuvas e mais de 46 mil pessoas fora de casa.

De acordo com o instituto, o céu permanece parcialmente nublado na Grande Belo Horizonte nesta quarta-feira com previsão de chuvas que podem ultrapassar a marca de 50 milímetros à tarde e à noite. A expectativa é que o tempo continue chuvoso nesta e na próxima semana, quando uma nova frente fria deve chegar à região Sudeste.

Além da Região Metropolitana de Belo Horizonte, deve chover também no centro-sul e no oeste de Minas Gerais, o que inclui regiões como o Triângulo Mineiro e da Zona da Mata.

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