PM impede protesto contra a tarifa em SP e grupo anda só 500 m

Segundo a polícia militar, dez pessoas foram detidas; entre elas, há dois menores de idade

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São Paulo

A Polícia Militar impediu nesta quinta-feira (16) o prosseguimento de um protesto contra a tarifa do transporte público realizado pelo MPL (Movimento Passe Livre) em São Paulo. 

Conforme a Folha mostrou nesta quinta, o governo João Doria (PSDB) tem usado uma série de táticas para desarticular protestos

A PM sufocou a manifestação com bombas de gás, detenções e bloqueios. Os manifestantes, que queriam ir do Theatro Municipal até avenida Paulista, só conseguiram chegar até a Praça da República, a cerca de 500 metros de lá. 

Movimento Passe Livre realiza ato na tarde desta quinta feira, 16. A concentração foi em frente ao Teatro Municipal no centro de São Paulo
Movimento Passe Livre realiza ato na tarde desta quinta feira, 16. A concentração foi em frente ao Teatro Municipal no centro de São Paulo - Jardiel Carvalho - 16.jan.2020/Folhapress

Policiais disseram aos manifestantes que, devido às chuvas, não autorizaram o trajeto proposto. 

 
Como o grupo de manifestantes era relativamente pequeno, os policiais não tiveram dificuldades para bloquear seu avanço. Os agentes usaram bombas de gás, que também causaram desconforto a pessoas que saíam do trabalho e iam para casa. 

Os policiais detiveram manifestantes que tentavam avançar. Segundo a polícia militar, dez pessoas foram levadas ao 2º DP, no Bom Retiro. Do grupo, dois são menores de idade.

O MPL diz outros dois manifestantes foram enquadrados pelos policiais, mas liberados em seguida.

Os dez manifestantes foram liberados da delegacia na madrugada desta sexta-feira (17), segundo o advogado Leandro Raca, do Projeto Aliança, disse à Folha.

O projeto disponibiliza advogados em defesa de casos de violação de liberdades e direitos fundamentais. 

Ao menos um fotojornalista relatou ter sido agredido com três chutes por policiais. Manifestantes também foram atingidos por golpes de cassetete. 

A PM começou a deter manifestantes após alguns deles ultrapassarem uma barreira na praça da República, estabelecida pelos policiais como ponto máximo onde o protesto poderia chegar. A reportagem viu mediadores indicando pessoas mascaradas para serem detidas. No entanto, policiais avançaram e detiveram também pessoas que não cobriam o rosto. 

Entre os oito detidos estava Andreza Delgado, militante do Passe Livre e também organizadora do Perifacon. Ela em nenhum momento cobriu o rosto e foi arrastada pelo cabelo por policiais.

Os policiais deram mata-leões em mulheres e as arrastaram pela praça da República. Em meio à confusão gerada pela atitude, passaram a atirar bombas de gás. 

Até esse momento o protesto seguia pacífico. Depois da atitude da PM, alguns manifestantes passaram a atirar objetos, o que, no final, desembocaria em uma perseguição pelas ruas do centro. A reportagem ouviu relatos de pessoas atingidas também por balas de borracha, além das que respiraram gás pimenta que exalava pela praça da República.

Às 19h50, um grupo pequeno ainda cantava palavras de ordem na avenida Ipiranga, que ficou bloqueada. Entradas do metrô República também foram fechadas para impedir que o grupo entrasse e pulasse catracas.

No fim do protesto, manifestantes viraram lixeiras e atiraram pedras nos policiais. Os policiais reagiram usando bombas de gás. Os manifestantes fugiram pelas ruas do centro antigo, e foram perseguidos. Por alguns minutos, interromperam o happy hour em barzinhos, que estavam lotados por volta das 20h.

TÁTICA

O governo Doria tem usado medidas policiais e judiciais para sufocar e desarticular manifestações e evitar um novo junho de 2013 em sua gestão no estado de São Paulo.

O tucano acalenta o projeto de concorrer à Presidência da República em 2022; para isso, sabe que não pode ver sua popularidade avariada como a dos políticos que viraram alvos de manifestações há pouco mais de seis anos.

A polícia tem detido manifestantes em massa, levado-os à Justiça e tem até revistado a imprensa nos protestos — em alguns casos, jornalistas foram agredidos por profissionais de segurança.

Além disso, logo que assumiu o cargo, Doria endureceu a lei para dar arcabouço legal à repressão aos protestos.

O governo do estado afirma que é a favor da liberdade de imprensa e que os policiais só utilizaram força física quando tiveram que reagir a depredações ou violência.

Na busca de se encaixar na onda bolsonarista em 2018, Doria prometeu que a polícia atiraria para matar caso ele fosse eleito. Sua abordagem em relação às manifestações parece ser extensão de uma política de segurança pública que atingiu ponto crítico na tragédia de Paraisópolis (na qual nove jovens morreram após ação da PM) e afago a uma parcela do eleitorado que pode ser relevante daqui a três anos.

Em seu primeiro mês no Palácio dos Bandeirantes, Doria regulamentou lei de 2014, gestada no bojo das reações às manifestações de 2013 (contra o aumento da passagem) e de 2014 (contra a Copa do Mundo), com a proposta de endurecer o tratamento aos adeptos da tática black bloc, que pregam depredação e usam máscaras negras.

De acordo com a lei, o uso de máscaras é vedado. No caso de pessoas sem documentos, essa lei prevê que o policial poderá contatar familiares e até o empregador da pessoa.

A lei também determina comunicação prévia de protestos com expectativa de público superior a 300 pessoas com no mínimo cinco dias de antecedência. O itinerário deve ser definido em conjunto com o comandante da PM na região.

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