Turistas se surpreendem com a capital paulista, dizem guias estrangeiros

A maioria se espanta com a quantidade de moradores de rua, com o lixo e o cheiro de urina no centro

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São Paulo

Muitos estrangeiros visitam São Paulo a trabalho ou só de passagem, com destino a locais considerados mais turísticos, como Rio de Janeiro ou Foz do Iguaçu. Sem expectativas, eles se surpreendem com o que veem e dizem que queriam ter ficado mais. 

A maioria, porém, se espanta com a quantidade de moradores de rua, com o lixo e com o cheiro de urina no centro.

É o que contam cinco imigrantes que trabalham como guias de turismo na cidade e foram ouvidos pela Folha. Eles relatam o que os turistas dizem nos passeios e contam como é mostrar a cidade para pessoas de fora e até para os próprios paulistanos. 

A uruguaia Andrea Teka, em sua casa na zona sul de São Paulo
A uruguaia Andrea Teka, em sua casa na zona sul de São Paulo - Bruno Santos - 23.jan.2020/Folhapress


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Rocco Belletti, 38, da Itália
São Paulo tem tudo, inclusive natureza: você dirige uma hora e encontra trilhas, cachoeiras. Acho que não existem muitas megalópoles com aldeias indígenas em áreas preservadas dentro dos limites urbanos. Os turistas adoram conhecer esse outro estilo de vida na floresta de concreto.
Faço também passeios no bairro do Bixiga para brasileiros. Para mim o mais interessante nem é a parte da cultura italiana, mas a africana, menos valorizada. 
Muitos paulistanos conhecem só os bairros onde moram e trabalham. Quando têm tempo livre, viajam ou fazem churrasco em casa. Gosto de guiar paulistanos para eles valorizarem mais a própria cidade, descobri-la com olhar de turista. Pode parecer estranho, mas até eu, que sou guia, não conheço um monte de coisas. São Paulo é cheia de tesouros escondidos. 
Tem um monte de museus pouco conhecidos, como a Casa de Guilherme de Almeida. Meu lugar favorito na cidade é o núcleo Pedra Grande, na Cantareira, para ver o contraste entre o cinza do concreto e o verde da mata atlântica. 

Bruno Ferrari, 55, do Peru
São Paulo é muito subestimada pelos estrangeiros. Eu sempre comparo: se você vai a Nova York, não vai esperando praia, montanha. Eu vendo a cidade como capital cultural e econômica do Brasil, uma metrópole tão cosmopolita quanto Nova York e Chicago. 
Aqui tem mais de 150 museus e 70 centros culturais. Nossos grafiteiros são artistas de nível internacional, nosso forte é a criatividade.
Levo os turistas na Faria Lima, na Berrini. Muitos ficam assombrados de ver que em São Paulo existem não um, mas vários centros financeiros. Também se surpreendem ao ver que é uma cidade feita à base de migração, com bairro oriental, judeu, italiano. 
Infelizmente o centro antigo está meio decadente. Tem um problema grave de miséria, abandono, população indigente. A gente precisa de uma renovada.

Roghayeh Jamaly, 43, do Irã
Como meu país tem mais de 3.000 anos, estou acostumada com história e adoro o centro de São Paulo. Cada prédio, cada porta tem uma história para contar.
Os iranianos adoram São Paulo, acham moderna e com o povo amigável. Eles gostam da diversidade de nações na mesma cidade, do respeito a religiões e de ver centros budistas, mesquitas, igrejas católicas, evangélicas, candomblé... muita variedade. 
Gostam de apresentações de escola de samba, dos grafites lindos e da comida. Adoram churrasqueiras.
Não gostam de ver que tem muitos moradores de rua, cheiro de xixi no centro histórico e lixo nas ruas. E dizem que, com as pichações, a cidade parece mais suja ainda. 

Lihong Zhao, 39, da China
Os chineses acham a cidade linda. Aqui você encontra de tudo e as pessoas sempre procuram ajudar. 
Eles gostam de comer churrasco e comida chinesa. Levo os grupos no bairro da Liberdade, lá eles conversam com as pessoas nas lojas, se sentem na China mesmo. 
Adoro levá-los ao MAC (Museu de Arte Contemporânea). Além de ver as exposições, dá para subir gratuitamente no último andar para aproveitar a vista da cidade.
Como a China se modernizou muito, eles acham as construções do centro muito antigas. Na avenida Paulista, comparam com as cidades chinesas. 
Lá não tem muitos moradores de rua, e eles sempre perguntam por que existem tantos aqui, se o governo não faz nada. 
Na China qualquer lugar tem muita gente, muita espera. Aqui não, é tranquilo. 

Andrea Teka, 42, do Uruguai 
Tenho três horas de tour e faço uma mega propaganda de São Paulo: uma cidade com pessoas de mente aberta, muitas opções de cursos, trabalho, museus, comida. A gente reclama do metrô, mas os turistas sempre elogiam, dizem que é nível Europa. 
Os espanhóis acham curiosos os cartazes nas escadas rolantes pedindo que as pessoas deixem livre a circulação do lado esquerdo. Na Espanha todo mundo faz isso naturalmente, não precisa escrever.
Dos meus clientes, 30% são brasileiros que estudam espanhol e querem treinar. Na maioria das vezes é o paulista que menos conhece a cidade. Muitos me dizem que nunca entraram na catedral da Sé. 
Não gosto de generalizar, mas sinto diferença entre o turista estrangeiro e o brasileiro. O argentino, o colombiano, eles são muito interessados em história, comparam os ano de independência ou de abolição da escravidão com os seus países, participam. O brasileiro gosta mais de bater foto, marcar no Instagram. 
Os turistas sempre falam a mesma frase: se eu soubesse que São Paulo tinha tanta coisa para conhecer, teria agendado mais dias na cidade.

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