Veja o que se sabe até agora sobre a contaminação na cervejaria em MG

Há três mortes ligadas à síndrome nefroneural; governo mandou Backer recolher chopes e cervejas

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Geórgea Choucair
Belo Horizonte

Quatro mortes confirmadas e ao menos outras 15 pessoas hospitalizadas. Todas que, desde dezembro, relatam sintomas como dor abdominal, vômito, náusea, insuficiência renal ou alterações neurológicas. Outro ponto em comum: todas tomaram cervejas da fabricante Backer, de Belo Horizonte.

Em oito produtos da empresa foi encontrada a substância dietilenoglicol, que desencadeou a síndrome nefroneural. O ministério da Agricultura mandou interditar a cervejaria e recolher cervejas e chopes de todos os rótulos da Backer. Já a fabricante diz que nunca usou o dietilenoglicol na sua produção.

Pessoa segura garrafas da cerveja Belorizontina em Belo Horizonte; suspeita é de que contaminação tenha matado três
Pessoa segura garrafas da cerveja Belorizontina em Belo Horizonte; suspeita é de que contaminação tenha matado três - Douglas Magno - 15.jan.20/AFP

Veja o que se sabe até agora sobre o caso em Minas Gerais:

O que é síndrome nefroneural? 
A síndrome nefroneural  é doença investigada por suspeita de contaminação por dietilenoglicol, substância encontrada em garrafas de oito produtos da marca mineira Backer. Ela traz problemas gastrointestinais (como náusea, vômito e dor abdominal), associados a uma insuficiência renal aguda grave que pode evoluir em até três dias, seguidos por alterações neurológicas.

O que é dietilenoglicol?
É uma substância usada na indústria como anticongelante e para evitar que os líquidos evaporem. O produto é tóxico e não deveria ter contato com a bebida; passa por cano isolado dos tanques.

Quais os sintomas?
A substância causa sintomas como insuficiência renal, alterações neurológicas, vômitos e diarreias. Em alguns casos e dependendo da predisposição de cada pessoa, pode levar à morte. Os sintomas costumam progredir em 72 horas. 

O que aconteceu em BH?
Em 30 de dezembro de 2019, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais foram notificadas da ocorrência de um caso de paciente com insuficiência renal aguda e alterações neurológicas, internado em hospital da rede privada de saúde do município. Em 31 de dezembro, foi notificado um segundo caso com os mesmos sintomas, internado em hospital filantrópico do município de Juiz de Fora.

E o que isso tem a ver com a cerveja Belorizontina?
O dietilenoglicol foi encontrado primeiro em lotes das cervejas Belorizontina e depois também em lotes dos rótulos Capixaba, Capitão Senra, Pele Vermelha, Fargo 46, Backer Pilsen, Brown e Backer D2. 

Quantas pessoas foram afetadas?
A Polícia Civil de Minas Gerais informou que recebeu notificação de 19 casos suspeitos de pacientes que apresentaram os sintomas da síndrome nefroneural, por intoxicação por dietilenoglicol, sendo quatro óbitos.

Do total de registros, são 12 em Belo Horizonte e os demais nas cidades mineiras de Capelinha, Nova Lima, Pompéu, São João Del Rei, São Lourenço, Ubá e Viçosa.
 
O que diz a cervejaria?
Durante toda a investigação, a cervejaria Backer reiterou que usa apenas o agente monoetilenoglicol em seu processo produtivo e que a substância dietilenoglicol não faz parte dos processos.

A cervejaria apresentou à Polícia Civil de Minas Gerais notas de compras apenas do monoetilenoglicol. Também apresentou à Justiça, nesta sexta (17), um vídeo que aponta possível fraude nos barris de monoetilenoglicol adquiridos de um fornecedor da empresa. 

O que já foi feito?
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento determinou na sexta-feira (10) o fechamento da cervejaria Backer. Além disso, estabeleceu ações de fiscalização para a apreensão dos produtos que ainda se encontravam no mercado, como medida cautelar. No total, ao menos 16 mil litros de cervejas foram apreendidos pelo Ministério.

Na segunda-feira (13), o Ministério da Agricultura intimou a cervejaria a realizar recall de todas as cervejas e chopes produzidas entre outubro de 2019 até hoje. A empresa informou que acionou a Justiça porque precisava de mais tempo para se programar para atender, da melhor maneira possível, a medida de recall solicitada pelo Mapa. 

Até quarta-feira (15), haviam sido recolhidas pela prefeitura 1.234 garrafas de Belorizontina e Capixaba, sendo 103 dos três lotes contaminados (L1 1348, L2 1348 e L2 1354). Os produtos vão ficar sob custódia da Secretaria Municipal de Saúde e à disposição da Polícia Civil para as investigações.

PERGUNTAS SEM RESPOSTA

É verdade que houve sabotagem?
Entre as hipóteses investigadas estão sabotagem, vazamento e utilização incorreta da substância.

Backer havia registrado um boletim de ocorrência contra um ex-funcionário da cervejaria, que ameaçou de morte o supervisor da empresa em dezembro. Depois de ser informado de que seria desligado da empresa, o funcionário teria feito ameaças no interior da empresa.

A Polícia Civil informou que essa é mais uma linha investigativa a ser desenvolvida, mas diz que o foco inicial da apuração é a parte técnica da síndrome e os pacientes afetados por ela. 

Em que momento a água usada na produção da cerveja foi contaminada
Ainda não se sabe como ocorreu a contaminação da água. Nenhuma hipótese está sendo descartada pelas entidades que investigam o caso.

RAIO X DA CERVEJARIA ARTESANAL NO BRASIL 

1.000

Fábricas de cerveja em atuação

Ranking de cervejarias artesanais por estado

186
Rio Grande de Sul

165
São Paulo

115
Minas Gerais

105
Santa Catarina

93
Paraná

352 a 380 milhões

é a quantidade de litros de cerveja artesanal produzidos no país anualmente, segundo a Abracerva (cerca de 2,5% a 2,7% do total) 

21 

é o total de rótulos produzido pela Backer, uma das maiores cervejarias artesanais do país 

Fontes: Polícia Civil de Minas, Mapa, Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva)  e cervejaria Backer 

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