A Prefeitura do Rio de Janeiro decidiu adiar o início do ano letivo na rede municipal por causa da suspensão das operações na estação de tratamento de água do Guandu, ocorrida nesta segunda-feira (3) após a detecção de detergente na água.
As aulas seriam reiniciadas nesta quarta (5), mas os alunos só devem voltar às salas na quinta (6).
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a decisão foi tomada porque muitas das mais de 1.500 escolas municipais estão sem água.
A interrupção foi anunciada no fim da tarde, como medida preventiva após a detecção de elevada concentração de detergente no Sistema Guandu, que abastece cerca de nove milhões de pessoas na região metropolitana do Rio —70% da população da área.
Por volta das 9h desta terça (4), as operações foram retomadas, mas a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) deu um prazo de 72 horas para que o abastecimento esteja completamente restabelecido.
Diante da falta de água, a Agenersa (agência que regula os serviços de energia e saneamento do estado) decidiu impor prioridades no abastecimento —em primeiro lugar, devem ser atendidos hospitais e unidades de saúde, escolas, creches, unidades de tratamento de idosos, presídios e "demais áreas sensíveis.
Se necessário, diz a agência a Cedae deverá usar carros-pipa. A empresa terá também que enviar relatórios diários sobre o abastecimento e realizar manobras na rede para reorganizar o abastecimento à população.
Há cerca de um mês a região metropolitana do Rio convive com problemas na qualidade da água, que sai das torneiras com gosto e cheiro de terra, resultado da presença da substância geosmina no reservatório.
O problema levou à demissão do diretor de Saneamento e Grande Produção da estatal, Marcos Chimelli, e é alvo de investigações da Polícia Civil. Nesta terça, agentes estiveram na Cedae para apurar também a presença do detergente no sistema.
Em parceria com o Inea (Instituto Estadual do Meio Ambiente), coletaram amostras da água para tentar identificar a origem do produto. A delegada Josy Lima, porém, disse que não há previsão para o resultado das análises.
A crise da água resultou em derrota importante na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) para o governador Wilson Witzel, que teve rejeitada uma indicação para a Agenersa (agência que regula os setores de energia e saneamento no estado).
A Comissão de Normas Internas e Proposições Externas da Alerj avaliou que o indicado, Bernardo Pegoraro, não cumpre os requisitos mínimos para ocupar o cargo, já que não comprovou dez anos de experiência em área compatível com as atribuições.
Entenda a crise da água no RJ
Primeiras reclamações
Dias após o Revéillon, moradores começam a relatar que a água das suas casas está com gosto, cheiro de terra e/ou barrenta, principalmente nas zonas norte e oeste do Rio
Cedae fala
Em 7 de janeiro, estatal divulga nota dizendo que alterações foram causadas pela geosmina, substância orgânica produzida quando há muita alga e bactéria na água, e que ela não faz mal à saúde
Carvão ativado
Dois dias depois, companhia anuncia a compra de um equipamento que usa carvão ativado para reter a geosmina logo no início do tratamento, utilizado também por estados como SP e RS
Corrida por água mineral
Crise se espalha para toda a cidade e compra de água mineral aumenta nos supermercados; até hoje consumidores encontram prateleiras vazias em alguns pontos de venda
Cedae pede desculpas
Cerca de 10 dias após a crise, em 15 de janeiro, presidente da Cedae vai a público pela primeira vez, se desculpa e afirma que situação será normalizada em breve
Especialistas questionam
No mesmo dia, UFRJ divulga nota técnica dizendo haver uma ameaça real à segurança hídrica da região metropolitana e criticando falta de transparência da Cedae
Impacto na conta
Após questionamentos da Defensoria Pública, órgãos se reúnem para discutir compensação na conta de água pelos transtornos aos consumidores; acordo ainda será redigido
Nova crise
Um mês após o início da crise, na segunda (3), Cedae afirma que identificou detergente na água captada pela estação Guandu e fecha as comportas por 15 horas
Escolas adiam aulas
Prefeitura do Rio adia aulas por causa do desabastecimento em "muitas" das 1.500 escolas da rede municipal; ao invés de voltar nesta quarta (5), alunos voltarão na quinta (5)
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.