Tentei ir ao trabalho, fiquei horas parada; tentei voltar para casa, não consegui entrar

Em um dia de chuva leve, no horário de pico, levaria cerca de meia hora para chegar ao trabalho

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São Paulo

Ouvi a chuva na madrugada, mas não tinha ideia dos estragos. Levantei no horário para trabalhar, e o primeiro indício de que algo não ia bem era a TV já ligada na sala.

Imagens mostravam o caos. Olhei pela janela, e a avenida que dá acesso à ponte do Limão, na zona norte de São Paulo, estava interditada por um alagamento. Com isso, carros iam um trecho na contramão para desviar e tentar caminho alternativo.

Era urgente sair o quanto antes de casa para, quem sabe, chegar o quanto menos atrasada no jornal.

É um percurso de aproximadamente 5 km. Em um dia de chuva leve, no horário de pico, levaria cerca de meia hora para chegar.

Av  Avenida Brás Leme parada no acesso à ponte da Casa Verde
Avenida Brás Leme parada no acesso à ponte da Casa Verde - Livia Marra/Folhapress

São poucas as alternativas para o centro. O caminho mais óbvio já estava interditado pela água.
Tentei o trajeto mais fácil para chegar à ponte da Casa Verde, mas também havia alagamentos e o trânsito já parava quadras antes.
Outra opção era o percurso um pouco maior, mas supostamente melhor. Foi, mas só até cair no acesso à Braz Leme, completamente parado.

Só nesse trajeto dentro do bairro, levei uma hora e meia para chegar à avenida. Não adiantou muito. Aliás, aí parou de vez. Fiquei aproximadamente uma hora exatamente no mesmo lugar.
Tudo parado, a chuva que não dava trégua, a cidade debaixo de água. E ainda tem motorista que dá aquela buzinadinha, como se o barulho ajudasse a escoar a água.

Tenso ficar trancada em um carro nessa situação. Mais tenso deixar o rádio ligado. Os relatos deixavam claro: não tinha por onde fugir, e a recomendação era evitar sair de casa.

A água subindo, a chuva que não parava, o trânsito que não andava...
Faltava pouco para chegar à ponte, mas algo precisava ser feito. Completava cinco horas que eu estava dentro do carro, sem expectativa de chegar ao trabalho.

Nesse período, vi passageiro descendo de veículos para terminar o percurso a pé, vi motorista subindo no canteiro e voltar pelo sentido bairro. Onde estava, ao menos, apesar de tudo parado, os carros não estavam boiando, como em outros pontos da cidade.
Queria apenas chegar ao jornal. Ou voltar para casa. Então, uma possibilidade –única—de retorno se abriu. Dei ré, entrei na ruazinha e segui, mas não consegui entrar em casa. A entrada estava igualmente alagada.

Para completar, a bateria do celular estava acabando. Corri até a padaria mais próxima, comprei um cabo e, claro, não havia nenhuma mesinha com tomada para carregar o aparelho.

Só restava esperar. Uma hora se passou tentei –de novo—chegar até o centro. Não deu.

A última opção: deixar o carro em um estacionamento perto de casa e pegar um Uber até um metrô distante. Deu certo. No total, foram nove horas desde o momento em que saí de casa.
Foi um grande volume de chuva em um único dia. Mas de tempos em tempos há enchentes que param grandes cidades, causam danos, deixam vítimas. E o poder público atribui os problemas ao acumulado de água.

Não é apenas o tempo gasto no trânsito –tempo perdido que poderia ser convertido em uma viagem—, mas a falta de ações e programas que evitem esse tipo de transtorno –e levem em conta o crescimento desordenado e outros problemas das cidades. Até porque, dizem especialistas, mudanças climáticas provocarão fenômenos intensos com mais frequência daqui para frente.

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