Médicos dizem que tumores de Covas sumiram mas só biópsia determinará se câncer desapareceu

Prefeito de SP fez oito sessões intensas de quimioterapia; novo resultado sai após Carnaval

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São Paulo

Os médicos responsáveis pelo tratamento do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), 39, afirmaram que ele teve reação excepcional à quimioterapia, e que o tumor na região do estômago e a metástase no fígado desapareceram nos exames médicos.

Também foi feita uma ecoendoscopia para colher amostra dos linfonodos localizados ao lado do estômago que apresentavam lesões. A partir dos achados da biópsia, que deverão mostrar se ainda há células tumorais na região desses gânglios ou não, as etapas seguintes do tratamento serão definidas. Os novos resultados sairão no meio da próxima semana.

A avaliação foi anunciada em entrevista coletiva dos médicos responsáveis pelo tratamento de Covas no hospital Sírio-Libanês, na Bela Vista, região central de São Paulo. O prefeito segue internado, recuperando-se da anestesia para os exames, e deve ter alta ainda nesta quarta-feira (19).

Os médicos disseram que Covas não precisará se submeter a mais quimioterapia —ele passou por oito sessões com 100% da dose, ou seja, não precisou diminuir a medicação devido a reações físicas adversas, o que é comum em casos similares. O resultado foi classificado como brilhante pelo oncologista Artur Katz.

Diante disso, dois cenários foram colocados: a) a biópsia mostra que não há mais células cancerígenas nos linfonodos e o prefeito precisará apenas monitorar sua saúde daí em diante; b) a biópsia mostra que ainda há células tumorais na região. 

Nesse segundo quadro, duas opções se colocam: a cirurgia ou a imunoterapia (injeção de medicamentos que fazem com que o sistema de defesa do organismo ataque o tumor).

Os exames de ressonância, PET-scan (tomografia por emissão de pósitrons) e endoscopia não identificaram células tumorais na transição entre esôfago e estômago (ponto de origem do câncer) nem no fígado de Covas. No entanto, os linfonodos mostraram alteração, e os médicos dependem dos resultados da biópsia para saber o que ela representa. 

Eles ressaltam que os linfonodos aumentados podem ser apenas uma reação de defesa do organismo, mas também podem sinalizar persistência da doença.

"A quimioterapia alcançou seu benefício máximo. Esse tratamento certamente não continua. Agora vamos definir o que faremos daqui para a frente, se é que teremos algo a fazer", completou Katz.

"Digamos que o exame [biópsia] mostra que está tudo resolvido. Daí está tudo resolvido. Vai para acompanhamento clínico. E se mostra outra coisa? Aí se escolhe a opção para frente", disse o infectologista David Uip.

Os médicos afirmam não poder falar em cura, já que o câncer é uma doença que exige monitoramento contínuo e também é possível que os exames não tenham identificado alguma célula tumoral. Mesmo assim, dizem que os tumores desapareceram no trato digestivo e no fígado e que esses órgãos praticamente se normalizaram.

"Se alguém examinasse a região nem diria que ele teve doença na transição esôfago-gástrica", disse o oncologista Tulio Pfiffer.

"Lesões no fígado, não vimos mais. Lesões na passagem esôfago e estômago, não vimos mais. As lesões do estômago e do fígado desapareceram de acordo com a metodologia que temos. O gânglio [linfonodo] está maior que o normal e menor do que era no início [do tratamento]", afirmou Uip.

Segundo ele, o prefeito deve manter as recomendações médicas em um primeiro momento e evitar grandes aglomerações, mas segue liberado para reuniões com poucas pessoas e para trabalhar na sede da prefeitura, na região central da capital.

O câncer do prefeito foi descoberto no final do ano passado. Em 23 de outubro, Covas foi internado no Sírio-Libanês para tratar de uma infecção de pele na perna direita.

Dias depois, uma trombose foi constatada no mesmo membro. No dia 28, Covas recebeu diagnóstico de câncer. O adenocarcinoma de Covas foi localizado inicialmente em um esfíncter na junção entre o esôfago e estômago —chamado cárdia—, e foram identificadas lesões no fígado e nos linfonodos ao lado do estômago.

Covas passou por oito sessões de quimioterapia desde o final de outubro, tendo realizado a última delas entre os dias 5 e 6 de fevereiro. 

O prefeito manteve sua agenda de compromissos durante todo o tratamento quimioterápico, tendo feito numerosas reuniões dentro do próprio hospital nos dias em que se internou para receber as doses do medicamento.

No início, Covas brincava que parecia que estava recebendo placebo e que não estava sentindo efeitos negativos. Nas últimas sessões, no entanto, o tucano passou mal e diminuiu o ritmo intenso que vinha imprimindo ao trabalho. 

No dia 9 de dezembro de 2019, a equipe médica informou que o tumor e as lesões haviam diminuído consideravelmente. Na ocasião, os médicos comemoraram a resposta considerada ideal que o corpo do prefeito apresentava ao tratamento.

Dois dias depois, no entanto, Covas foi encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com sangramento no fígado. 

Os ferimentos aconteceram durante instalação de clipes no fígado de Covas para a demarcação da área de ação da metástase e o acompanhamento de suas reações ao longo do tratamento. No dia 13, o prefeito deixou a UTI, mas continuou em observação até o dia 18.

Caso Covas precise se licenciar do cargo depois de abril, seus aliados já construíram um plano segundo o qual o vereador Celso Jatene (PL), ex-secretário de Esporte do petista Fernando Haddad, irá se tornar chefe do Executivo paulistano provisoriamente, conforme revelado pela Folha.

Como Covas assumiu a prefeitura com a saída de João Doria para o governo do estado, não há atualmente um vice-prefeito. O primeiro na linha sucessória é o presidente da Câmara, Eduardo Tuma (PSDB), e o segundo, Milton Leite (DEM), vice-presidente da Câmara.

No entanto, caso eles ocupem o cargo depois de abril, não poderão disputar a reeleição como vereadores. O motivo está na Constituição. O artigo 14 determina que presidente, governadores e prefeitos podem disputar uma vez a reeleição e, para concorrer a outro cargo, precisam renunciar até seis meses antes do pleito. 

Dessa forma, mesmo que ocupassem a vaga de Covas por apenas um dia, Tuma e Leite não poderiam disputar cargos no Legislativo em outubro.

Para evitar que isso aconteça, o terceiro na linha sucessória, Celso Jatene, que decidiu não disputar a reeleição, ficará na função, caso necessário. Ele foi eleito segundo vice-presidente da Câmara em dezembro do ano passado. Para que isso aconteça, Tuma e Leite terão que tirar licenças de seus cargos pelo mesmo período que o prefeito.

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