A consideração pelos vizinhos era uma marca registrada de Delma Frate, paulistana nascida no Brás (região central de São Paulo).
Na família de classe média, a mãe era dona de casa e o pai —muito conservador— funcionário dos Correios.
A rigidez com a qual foi criada a afastou do desejo de ser professora. "Minha mãe estudou escondido do pai, mas ele não permitiu que ela concluísse os estudos", conta a filha, a jornalista e escritora, Dilea Frate.
Depois de se casar, se mudou para o Brooklin (zona sul). O mundo mudou e a modernidade encheu os olhos de Delma, que acompanhou entusiasmada as profundas transformações da sua rua. De repente vieram as grandes avenidas, os arranha-céus, o trânsito e a agitação do dia a dia.
Do passado, Delma fez questão de preservar a amizade verdadeira e a gentileza dos velhos tempos. Os vizinhos eram considerados sua segunda família. Nos aniversários e nas datas importantes, todos eram presenteados.
Mesmo após quatro cirurgias de fêmur, Delma trocou a cadeira de rodas por um andador. A seu modo, lutava contra o preconceito sofrido pelos idosos.
Quando ela tinha 92 anos, sua casa foi invadida por um homem sob efeito de drogas. Conseguiu correr e acionar a polícia, que duvidou da versão relatada e perguntou nove vezes a mesma coisa. "Vocês pensam que estou gagá?" protestou.
O rapaz foi encontrado e, como testemunha, ela teve de passar horas na delegacia. "Primeiro me tratam como louca, depois me usam como testemunha, e no final sequer pedem desculpa. Como é difícil ficar velha!", dizia.
Delma Frate morreu no dia 11 de março, aos 94 anos, de complicações relacionadas à idade. Viúva, deixa dois filhos, cinco netos e três bisnetas.
"Ela nos ensinou a entender as diferenças e colocar o amor e a generosidade acima delas", afirma Dilea.
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