Descrição de chapéu Rio de Janeiro Coronavírus

RJ lidera restrições para combater contaminação

Entre as medidas está a proibição da entrada e saída de transportes coletivos na região metropolitana

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Rio de Janeiro

O governo do Rio de Janeiro, o segundo estado com mais casos confirmados de coronavírus (33) no país, foi o que determinou as restrições mais severas à população para tentar reduzir o ritmo da contaminação pelo novo vírus.

O governador Wilson Witzel (PSC) proibiu a entrada e saída de transportes coletivos na região metropolitana, suspendeu a chegada de linhas interestaduais de locais em situação de emergência em razão da epidemia (como São Paulo), determinou a redução da lotação dos veículos, obrigou o fechamento de cinemas e teatros e recomendou a redução no movimento de bares e restaurantes.

A Polícia Militar e os Bombeiros também estão orientando banhistas a deixarem as praias. O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) também determinou ainda o fechamento de parques municipais e espaços de lazer, como a Quinta da Boa Vista e o Parque Madureira.

As medidas já foram sentidas no trânsito da cidade. O Rio Ônibus (sindicato das empresas municipais do setor) estima que o número de passageiros nos coletivos da capital caiu à metade. O engarrafamento foi 89% menor no Rio de Janeiro do que a média diária entre as 8h e 9h, horário de pico da manhã na cidade.

Desde o início da semana, Witzel tem pedido "pelo amor de Deus" para que as pessoas evitem sair de casa.

"Não podemos permitir a irresponsabilidade das pessoas acharem que nós vamos passar por esse vírus sem passar por uma tragédia humana. É preciso dizer para as pessoas que quem desafiou o vírus está chorando pelos mortos", disse Witzel ao Bom Dia Rio, da TV Globo.

O infectologista Roberto Medronho, coordenador de um grupo da UFRJ para estudar o coronavírus, diz que todas as medidas que visem restringir a mobilidade e o contato social são bem-vindas.

Ele afirma que a velocidade de disseminação do vírus pode variar entre os estados e que a hipótese ainda será pesquisada pelo grupo.

"Vamos avaliar se essas medidas adotadas no Rio vão fazer com que a curva seja diferente da de um estado que não tenha adotado. Não temos muitas certezas, mas o que temos visto é que nações que instituíram medidas restritivas bem no início tiveram mais êxito do que as que não adotaram, como a Itália", diz o médico.

O decreto que estabelece as restrições tem prazo de 15 dias, mas o próprio governador afirmou estimar que elas devem se manter por até três meses. Witzel reconhece que não tem poder sobre algumas atividades, como shoppings, cujos alvarás de funcionamento são emitidos pela prefeitura. Mas não descartou atuar mesmo fora de sua alçada.

“Espero não ter que tomar medidas mais duras contra quem quer que seja. Mas se precisar, eu vou avaliar e vou tomar as medidas no momento certo. Salvar vidas humanas justifica qualquer ato um pouco mais contundente, inclusive ultrapassando as atribuições de cada um”, disse ele, à rádio CBN.

As medidas restritivas já tiveram impacto econômico imediato.

Na segunda (16), a rede de cinemas Kinoplex anunciou férias coletivas para suas equipes na cidade. A Cinemark ofereceu demissão voluntária ou um programa de qualificação de um mês, para o qual espera obter recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

O presidente do sindicato dos trabalhadores do setor, Paulo Roberto da Silva Balmant, disse cerca de 95% dos empregados do Cinemark optaram pela segunda opção e ficarão em casa. O setor de cinemas e teatros emprega cerca de 2.500 na capital e Niterói, segundo ele.

Outra medida de Witzel recomenda a restrição a 30% da capacidade de funcionamento de bares, restaurantes e lanchonetes, mas com normalidade de entrega e retirada de alimentos no próprio estabelecimento. Fernando Blower, presidente do Sindicato Municipal dos Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, defende o respeito ao decreto do governo.

"Cumprir a limitação não será um problema, pois já tem pouco cliente circulando", disse Blower.

Muitos locais, porém, devem até fechar as portas no período por falta de funcionários.

"São bares e restaurantes que depois de três anos de crise econômica no Brasil estão com o caixa no limite e não têm dinheiro para superar esse momento" afirmou Blower. O sindicato diz que 160 mil pessoas são empregadas no setor na capital.

Os ambulantes foram outro grupo fortemente atingido. O Movimento Unido dos Camelôs pede que o poder público libere os ambulantes do pagamento da taxa anual, paga em abril, e proíba cortes na luz, na água e no gás, e despejos pelo atraso no aluguel.

A ambulante Maria do Carmo, 45, coordenadora do movimento, parou de trabalhar nesta terça-feira (17), após sucessivos dias de queda nas vendas. Ela atua no centro do Rio, comercializando roupas femininas. No início do mês, costuma vender, diariamente, de R$ 700 a R$ 1.000. No final, cerca de R$ 500. Nesta segunda (16), obteve apenas R$ 25.

"A gente precisa entender como os trabalhadores informais, que estão segurando essa economia, vão ficar. Liberam 13° [salário], fundo de garantia, mas a gente não tem nada disso. A gente é forçado a ficar em casa, a rua está esvaziada. Estamos bem preocupados, porque as contas não dormem", diz.

Os governos também orientaram para o fechamento dos principais pontos turísticos da capital, como Pão de Açúcar, Museu do Amanhã, roda-gigante e Cristo Redentor --que contrariou as recomendações e abriu nesta terça.

O sindicato de hotéis da capital (HotéisRio) já prevê um prejuízo de R$ 25 milhões até o começo de maio. A ocupação, que normalmente é de 60% neste período, está em 42%.

A economista Margarida Gutierrez, da Coppead UFRJ, diz que o efeito na economia tende a ser "brutal", principalmente no setor de serviços - que em 2017 respondeu por 53% do PIB da capital fluminense.

"O setor de serviços é o primeiro a sofrer, já que as pessoas não estarão mais nas ruas", diz ela. Depois, a indústria começará a sentir os efeitos tanto da falta de compradores para seus produtos quanto de fornecedores de insumos, além das dificuldades de manter pessoal trabalhando.

Witzel disse que estuda formas de compensação econômicas às empresas e pessoas atingidas. Mas afirmou que as primeiras medidas têm como objetivo reduzir a propagação do vírus.

“Depois temos que encontrar soluções econômicas. Mas o momento agora é de restrição. Os vetores de transmissão são as pessoas nas ruas, que vão levar para dentro de casa”, disse o governador.

A crise também tem deixado evidente a indisposição política entre Witzel, o presidente Jair Bolsonaro e o prefeito Marcelo Crivella.

Em relação ao presidente, o governador criticou a classificação de “histeria” para as medidas restritivas de circulação.

“Cabe ao presidente entender que quando ele foi contrário às [críticas às] queimadas da Amazônia, restaram árvores queimadas, o que causou indignação. Agora, se não considerarmos o que está acontecendo no mundo, o resultado não serão árvores queimadas, mas vidas humanas que vamos perder”, disse o governador.

Witzel também se queixou de ainda não ter conversado com Crivella sobre as ações de combate à pandemia. O prefeito da capital não foi a uma reunião entre autoridades da região metropolitana, convocada pelo governador.

“O prefeito do Rio sequer tem falado comigo. Assim fica difícil uma ação coordenada”, afirmou.

Em resposta, Crivella alegou não ter participado da reunião com os demais prefeitos da região metropolitana devido a outros compromissos, incluindo uma agenda com representantes do governo federal.

O prefeito disse também que a secretária municipal de Saúde, Ana Beatriz Busch, e o secretário estadual, Edmar Santos, discutem ações conjuntas.

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